O CDS de Francisco Rodrigues dos Santos
Por C. B. Esperança
O CDS, partido criado por Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, fará falta no espetro político nacional. A sucessiva viragem à direita atingiu o auge no consulado de Manuel Monteiro, que delapidou o património dos fundadores e acabou por sair para o sonho de um partido extremista quando ainda estavam vivas as memórias da ditadura, indiferente à integração democrática dos salazaristas feita pelo CDS.
Foi a vertigem reacionária que levou o Partido Popular Europeu (PPE) a expulsá-lo do seu seio onde regressaria, a pedido de Durão Barroso, para lhe devolver idoneidade para a coligação indispensável para ser primeiro-ministro.
Depois foi a criatividade de Paulo Portas a manter artificialmente um partido exonerado de valores, através da participação no poder. Tornou-se um partido vazio de ideias, sem rumo e sem tino, a viver de ruído e de figuras conhecidas.
Provavelmente nada resta da matriz conservadora e democrata-cristã, dos estatutos e do programa da sua fundação. É num deserto de propostas e de ideologia que o eleitorado que via no CDS o partido mais próximo do salazarismo o abandona por ver num partido marginal, de extrema-direita, sem complexos, o regresso nostálgico da ditadura que traz de brinde o racismo e um bando de marginais que contestam os alicerces da democracia liberal e da civilização europeia.
Ao simulacro da direita civilizada, o seu eleitorado prefere a trauliteira, a que defende a pena de morte, a castração de violadores e de mulheres que interrompam a gravidez, a que nega o humanismo cristão de que o CDS empunhava a bandeira.
Francisco Rodrigues dos Santos não tem um partido, recebeu a presidência da comissão liquidatária de uma agremiação de porte duvidoso, com o eleitorado a preferir um antro de ódio e preconceitos, na fúria da vingança antidemocrática, ruminada durante 46 anos.
Na desolação de um desastre anunciado, o líder do CDS acusa a sondagem da Aximage, que dá ao CDS 0,3% das intenções de voto, de ser “de alfaiate, feita à medida de quem manda”, e que a empresa de sondagens “devia corar de vergonha”.
Os desempregados do CDS, a viverem a última e pungente legislatura, já sem espaço e sem ilusões, irão oferecer-se ao PSD, os que recusam a violência racista e xenófoba, ou a engrossar as hostes de um partido fascista dos anos Trinta do século passado, e de que a Europa se esqueceu.
O CDS, conservador e democrata-cristão, tinha o espaço próprio que extremistas como Manuel Monteiro e Nuno Melo se encarregaram de estreitar.
E vai fazer falta.
Ponte Europa / Sorumbático
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