No “Correio de Lagos” de Maio de 2021
DAS VIAGENS que, em finais dos ‘anos 90’, tive de fazer à República do Congo, retive dois factos que, hoje em dia, se me afiguram relacionados com a nossa realidade actual:
Um deles foi a obrigatoriedade da vacinação prévia contra a febre-amarela (ainda aqui tenho o certificado internacional...) — de que agora me lembro quando se fala de algo semelhante em relação à Covid-19.
O outro foi a surpresa que tive quando, antes de partir para Brazzaville, me deparei com a ausência de informações na Comunicação Social acerca da realidade local — o que me preocupou de sobremaneira porque o trabalho consistia na recuperação de equipamento eléctrico destruído numa cruenta guerra civil, ainda cheirando a pólvora (literalmente!) — e, como se sabe, quando a C. S. não reporta os acontecimentos, é como se eles não existissem.
Aliás, comparem-se os protestos que por cá tivemos no seguimento do assassinato de George Floyd (em Minneapolis, em Maio de 2020) com a passividade com que a nossa sociedade reagiu ao do ucraniano Ihor Homeniuk, ocorrido dois meses antes quando estava à guarda do Estado Português.
E compare-se, também, a fúria relacionada com a escravatura dos tempos do Infante (há mais de meio milénio!), com o silêncio face a algo semelhante que sucede mesmo à nossa porta.
EM SUMA, é bizarro ver como há quem dê mais atenção a problemas que estão longe (no espaço e no tempo) do que aos que tem debaixo do seu nariz — precisamente o contrário do que refere Eça em «As catástrofes e as leis da emoção», deliciosa rábula em que uma senhora lê, em voz alta, as notícias do jornal, contrastando a APATIA dos ouvintes a propósito das catástrofes distantes... com o HORROR com que acolhem a notícia de que a vizinha Luisinha Carneiro se lesionou num pé.
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(*) – Da crónica de António Barreto «Toda a gente sabia», publicada no «Público» do passado dia 8, e disponível em o-jacaranda.blogspot.com
Etiquetas: CMR, Correio de Lagos
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