27.7.21

Na Revista "Nova Costa de Oiro" de Julho de 2021


«
Aqueles que não conseguem lembrar-se do passado estão condenados a repeti-lo» - George Santayana (1863-1952)

 

TUDO começou quando, no dia 7 de Junho do ano passado (já a pandemia estava, havia três meses, a fazer estragos entre nós), umas quantas pessoas se lembraram de organizar, em Odiáxere, uma daquelas festas que toda a gente já sabia serem perigosas para a saúde pública.

Chamada ao local, na sequência de queixas da vizinhança, a GNR interveio, pôs fim àquilo... e ficámos todos à espera das consequências legais e sanitárias.

Quanto a estas (que, como se sabe, não se fizeram esperar), dei-me ao trabalho de, ao longo de algum tempo, anotar os números de infectados divulgados pela Comunicação Social — e havia-os para todos os gostos, pois umas vezes eram contados em função do local onde se faziam os testes, e outras de acordo com as moradas oficiais.

E foi assim que, de 19 para 20 desse mês, tivemos direito a, pelo menos, três números (52, 90 e 119), qualquer deles bem preocupante, tendo em conta que o Verão começava nesse mesmo dia 20, prenunciando consequências graves para quem depende do turismo como nós — problema acrescido pelo facto de a ocorrência já ser notícia por esse mundo fora, com destaque para o “The Times”, jornal de referência na Grã-Bretanha, o maior emissor de turistas para a nossa região.

Talvez por isso Lagos recebeu um dispensável tratamento VIP: sim, foi nada menos do que a Senhora Ministra da Justiça que veio a terreiro anunciar, com o estrondo que a sua função lhe permite, o que em cima se pode ler: queixa formal ao Ministério Público e exigência de indemnizações para o Estado, por ter sido lesado em tudo o que implicava despesas com o SNS — e ainda nessa coisa intangível, mas não menos importante, chamada IMAGEM, do país e da região.
No seguimento disso, e como na canção “Pedro Pedreiro” do Chico Buarque, ficámos “esperando, esperando, esperando”... até hoje. No entanto, e salvo melhor opinião, os lacobrigenses têm o direito de saber em que pé estão (ou em que ficaram) as coisas: ainda está tudo “em estudo”? Ou houve, de facto, consequências, só que não foram divulgadas? Ou ficou tudo em “águas-de-fiel-amigo”, que é o habitual neste país, cuja Justiça raramente merece ser referida com letra maiúscula?

 

À DATA em que escrevo — passado que foi exactamente um ano —, e olhando para os dados que vejo no gráfico, parece que não aprendemos nada. Já sei que os optimistas dirão que “Hoje estamos mal, mas amanhã podemos estar bem”, que “Fazer previsões baseadas no passado é como conduzir um carro olhando pelo retrovisor”, que sou um “Profeta da desgraça”... e por aí fora, como é típico de quem despreza tudo quanto seja previsão ou autocrítica; mas não fui eu o autor da frase que se lê em epígrafe, e, pelo menos à data, tudo indica que estamos (aqui e no país todo) a entrar numa 4ª vaga, de dimensões e consequências ainda imprevisíveis.


E QUANTO a prevenção individual? Nesse aspecto, a maioria da população do nosso concelho dá mostras de respeitar as normas básicas de segurança sanitária. Mas, infelizmente, vai alguma diferença entre essa MAIORIA e a TOTALIDADE, vendo-se muitas pessoas que, na via-pública (e até à porta de escolas!), parecem apostadas em disseminar a doença, numa atitude antissocial que, pelos danos que nos pode causar a todos, já não se combate com a treta da “pedagogia” — até para que nunca se nos aplique o diálogo da rábula de uma antiga “revista à portuguesa”, e que cito de memória:

 

— Ó Zé, e o que faz a polícia?!

— Olha, filha, como isto é uma terra balnear... nada! 

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