As eleições legislativas de 30 de janeiro
Por C. B. Esperança
Senti-me desolado com o chumbo do OE-2022 e, sobretudo, perplexo com o voto do PCP na generalidade, sem azo a negociações em sede de especialidade, depois de ter sido o principal impulsionador do XXI Governo Constitucional, e de se lhe dever a estabilidade dos dois anos da atual legislatura, sofrendo danos eleitorais.
Não sei o que se passa dentro de nenhum partido, apesar de ser observador interessado e interveniente. Fiquei revoltado por saber que o chumbo não produziria um OE mais à esquerda, e que faria oscilar o eleitorado em sentido contrário.
Não censuro os partidos por rejeitarem um OE de que discordavam, mas lamento que o chumbo afastasse o eleitorado para a direita, o que se verá no próximo dia 30 de janeiro, sobretudo após a vitória de Rui Rio, no PSD, com uma imagem mais moderada do que a do truculento Paulo Rangel e a dos seus apoiantes, disfarçados ou declarados.
Tendo sido as decisões partidárias o que foram, só por ingenuidade ou cinismo se pode pensar que a próxima legislatura repetirá a conciliação de vontades que conduziram aos Governos de António Costa. Relevante é segurar, entre as esquerdas, o clima de diálogo que permita aos partidos à esquerda do PS participar em decisões governativas, e ao PS não ficar refém dos partidos de direita ou da sua ala neoliberal.
Neste momento, todos os partidos, à esquerda e à direita, estão condenados a ir isolados a votos, em pandemia, por entre ruído das corporações, agitação social e mobilização de toda a parafernália mediática ao serviço da direita.
Acenar com a necessidade de viragem à esquerda do PS não é só uma impossibilidade, é um convite à alienação de parte substancial do eleitorado, sobretudo agora, que Rui Rio retirou o medo do regresso da tralha cavaquista e do controlo do PSD por Belém, desejo que Marcelo ainda tentará realizar por interposto Moedas até 2026.
Quem acredita que os partidos que derrubaram este Governo apoiariam o OE recusado, que está na origem das eleições e da fragilidade do futuro governo que o maior partido da oposição evitará até lhe ser útil provocar eleições?
Por maior perplexidade e revolta que me tenha causado o chumbo do OE pelo PCP, um partido confiável, é natural que a coerência e a coesão tenham ditado a decisão.
Difícil de compreender é a sanha de Catarina Martins (BE) contra o PS e a insistência paradoxal na convergência, depois de dois anos de entusiástica hostilidade. Continuar a afirmar que “Se a maioria absoluta é o plano A do PS, o plano B parece ser um bloco central, formal ou informal (...)” e que “para se manter no poder, António Costa estará disponível a sentar-se à mesa [com o PSD]”, é indicar o inevitável, procurar à direita a governabilidade que lhe nega. A tática enreda-a na incoerência.
O PS é ingrato se não agradecer a Catarina Martins a sugestão e a desculpa para buscar alternativas, a menos que o BE prefira um governo de direita. Quanto à indiferença pela sustentabilidade orçamental, com exigências desmedidas, o BE merece discordância.
As próximas eleições provocarão um sismo eleitoral, com o avanço do partido fascista e enfraquecimento das esquerdas. Os resultados obrigarão à autocrítica dos partidos que chumbaram o Orçamento, independentemente das razões.
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