14.4.22

Por C. B. Esperança

Com a celebração em curso do cinquentenário do 25 de Abril e com um partido fascista fortemente representado na AR, ressurgiu o ressentimento à democracia, a nostalgia da ditadura e a saudade do império perdido, após 48 anos de democracia.

De forma tosca ou mais elaborada é o apelo ao autoritarismo e ao Estado policial que se vislumbra em quem destila ódio aos militares de Abril, legitima a guerra colonial, remói a raiva à Revolução e teme uma pneumonia com a aragem da liberdade.

Andam aí os filhos dos bufos, rebufos e salazaristas, répteis do Estado Novo, alheios às prisões, torturas, perseguições e medos da ditadura. São negacionistas dos assassinatos da Pide, ressentidos da liberdade que os capitães de Abril outorgaram, invejosos dos filhos dos pobres que chegaram à universidade e que preferiam andar de rastos, num país orgulhosamente só, a viver de pé, em democracia.

Há descendentes dos cúmplices da ditadura, dos que batiam palmas e davam vivas ao ditador, dos fascistas embrutecidos e orgulhosos do analfabetismo, tão minguados de ideias como os que agora insultam a liberdade ignorando o que foi a censura, o degredo, as prisões arbitrárias, a violação da correspondência, os Tribunais Plenários, a tortura, a fome e a guerra colonial.

Uns não sabem o que isso era e outros julgam que era como lhes disseram, e trazem no sangue o ressentimento dos delatores, a raiva dos lacaios e o espírito vingativo de quem odeia a liberdade.

É neste quadro de amnésia coletiva que os mais boçais pretendem rasurar do calendário o 25 de Abril e os mais sofisticados apelam às comemorações do 25 de novembro.

É tempo de se penitenciarem os que acusaram o 25 de novembro de ter traído o 25 de Abril, como se houvesse traição na liberdade que o MFA prometeu, nas eleições livres que nunca mais deixou de haver e no respeito pelo voto universal e secreto de cada ato eleitoral.

Faltou aos devedores de Abril, que todos somos, sobretudo aos democratas, explicarem aos fascistas, que usam o 25 de novembro contra o 25 de Abril, que há apenas uma data que resgatou Portugal do pesadelo de 48 anos de ditadura – o 25 de Abril.

Houve no processo revolucionário da mais bela Revolução do mundo, sobressaltos que a trouxeram à normalidade democrática que os capitães do MFA prometeram, antes de regressarem aos quartéis, sem exigirem nada em troca do seu heroísmo e generosidade.

O 25 de Abril teve o 28 de setembro, o 11 de março e o 25 de novembro, sendo o último sobressalto o que mais dividiu os militares de Abril e a sociedade portuguesa, e não foi a data que os fascistas querem comemorar, com vergonha de celebrarem o 28 de maio.

Vale a pena, apesar das feridas, lembrar aos fascistas quem liderou o 25 de novembro, e confrontá-los com os heróis de Abril que intervieram nesse episódio da Revolução de que se quiseram apropriar.

O comandante foi o gen. Costa Gomes e as operações da responsabilidade da Região Militar de Lisboa, comandada pelo então gen. Vasco Lourenço, com o apoio de nove conselheiros da Revolução, Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vítor Crespo.

Com exceção dos dois representantes da FA, ramo com escassa participação no 25 de Abril, com a gloriosa exceção do cap. Costa Martins, eram todos militares destacados do 25 de Abril.

O Governo Militar de Lisboa confiou as operações ao ten. cor. Ramalho Eanes, que teve no regimento da Amadora, de Jaime Neves, a maior força militar sob as suas ordens. O resultado é conhecido e o Grupo dos Nove havia de designar Eanes candidato a PR.

Não foi em Eanes que os fascistas, nem os democratas mais à direita, votaram. Foi no gen. Soares Carneiro que tinha no currículo o comando do Presídio de S. Nicolau e que Cavaco Silva voltaria a reintegrar na vida militar ativa e promoveria a CEMGFA numa ofensa a Eanes e aos militares de Abril.

Gostaria de ver os que incensam o 25 de novembro de 1975 a aplaudir Costa Gomes, Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco Charais, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vítor Crespo. Não o fazendo, fica a certeza de que não é o 25 de novembro que aplaudem, é o 28 de maio que acalentam.      

Há um grito de júbilo a soltar, vivas à liberdade a bradar e um ruído patriótico a acalmar os nostálgicos da ditadura e o seu desejo de regresso ao passado na celebração e m curso do cinquentenário da Revolução de Abril.

Viva o 25 de Abril! 

Ponte Europa Sorumbático

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