18.8.22

Salman Rushdie – vítima do fascismo islâmico

Por C. B. Esperança

Os media iranianos celebraram o ataque, identificaram o agressor do escritor como seguidor do Hezbolá e referiram a alegria popular pelo esfaqueamento repetido pelo homicida.

Não faltaram manifestações de júbilo nas ruas islâmicas onde o ocaso da civilização árabe deu lugar à radicalização da religião, onde coexistem a pobreza extrema e a opulência, e o único bem que todos os homens fruem, de que não prescindem, é a posse de mulheres.

É fácil atribuir às mulheres o dever da revolta ou afirmar que são felizes na humilhação,  e inaceitável defender o respeito das tradições e da fé que não toleram divergências.

Rushdie tinha 42 anos quando o seu romance, «Os Versículos Satânicos», foi declarado blasfemo pelo anacrónico Aiatola Khomeini. Condenou-o à morte, 1989, numa fatwa que despertou a fé dos muçulmanos e excitou a fé, o ódio e a demência coletiva.

Liberdade religiosa ou política é o direito de ser a favor, indiferente ou contra. Não é o simples direito à genuflexão, ao beija-mão, ao dobrar da espinha. Quem aceita dogmas acaba de joelhos ou de rastos, a lamber o chão ou a mão de um clérigo.

A blasfémia e a apostasia são crimes medievais incompatíveis com os direitos humanos, nomeadamente a liberdade de expressão e a liberdade religiosa. Esta última só existe se permitir abandonar a fé, mudar de religião, desinteressar-se ou criticá-la. A blasfémia é um crime sem vítima, ofensa a Deus, no jargão religioso, sem que o ofendido passe procuração para processar ou punir o autor da alegada ofensa.

A liturgia da fé é a «ordem unida» dos exércitos, um exercício que nos leva a abdicar da razão pelo passo certo. É preferível ferir os calcanhares do que acertar o passo ao toque do tambor ou à litania da religião.

A liberdade conquista-se quando conseguimos dizer não ao caminho que rejeitamos, às ideias de que discordamos e aos símbolos que repudiamos e, quando formos livres, dar-nos-emos conta de que só atingiremos a liberdade quando todos a conquistarmos.

Independentemente das motivações do frustrado homicida não se deve esquecer que há um prémio de cerca de três milhões de euros, criado por uma instituição islâmica para o assassinato do notável escritor inglês de origem indiana.

O direito à troça, à ironia e ao sarcasmo é tão respeitável como o direito à fé e à liturgia. A blasfémia é a catarse que emancipa e liberta.

Uma religião que manda matar quem não a respeita e quer obrigar o mundo a converter-se, não é uma doutrina salubre, é um frasco de veneno destapado.

Apostila – Quando o Aiatola Khomeini proferiu a fatwa contra o Salman Rushdie pelo abominável crime de…ter escrito um livro, teve do Vaticano, do arcebispo de Cantuária e do Rabino Supremo de Israel a compreensão pela piedosa demência de Khomeini. 

O silêncio dos líderes islâmicos e dos dignitários atuais das religiões referidas é um ato de profunda e iníqua cumplicidade. Até ao momento desconheço qualquer reação ao cobarde atentado.

Ponte Europa / Sorumbático

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5 Comments:

Blogger Fernando Ribeiro said...

Os media iranianos... onde o ocaso da civilização árabe...

Recordo ao autor deste texto (que, aliás, está em duplicado) que a civilização do Irão não é árabe, mas sim persa, várias vezes milenar.

18 de agosto de 2022 às 14:31  
Blogger Carlos Esperança said...

Fernando Ribeiro:

1 - Não vejo que o texto esteja em duplicado;

1- Obrigado pelo seu comentário;

3 - Tem razão quando diz que a civilização do Irão é (era) persa e não árabe. Os iranianos são de facto persas, mas a islamização destruiu a tradição persa e tornou o atual Irão, embora etnicamente diferente, mais um reduto do ocaso da civilização árabe.

Esta é a minha opinião, reiterando os agradecimentos pelo seu comentário que me permitiu o esclarecimento do contexto em que usei «a civilização árabe».

18 de agosto de 2022 às 15:37  
Blogger Fernando Ribeiro said...

Carlos Esperança:

1 - Aqui no Sorumbático, o texto está em duplicado. Foi, com certeza, um lapso do meu primo Carlos Medina Ribeiro.

2 - Eu é que agradeço a sua resposta, embora não concorde com ela.

3 - O Irão é tão árabe como o fundamentalista Erdogan e os ainda mais fundamentalistas talibãs do Afeganistão. Isto é, nem uns nem os outros são árabes. Muito mais árabes são, por exemplo, os coptas do Egito e os maronitas do Líbano. Mas não quero discutir consigo, pelo respeito que me merece.

18 de agosto de 2022 às 17:27  
Blogger Carlos Esperança said...

Fernando Ribeiro:

1 - Se falarmos de etnias tem 100% razão;

2 - No meu computador o texto não aparece em duplicado;

3 - Passei a ter uma razão acrescida para lhe estar grato.

Cumprimentos.

18 de agosto de 2022 às 22:40  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Obrigado pelo aviso!
Já apaguei o duplicado.

20 de agosto de 2022 às 09:18  

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