24.10.22

No "Correio de Lagos" de Setembro de 2022

Recordando um Grande Homem

HÁ ALGUM tempo, quando foi anunciado que iria ser dado o nome do Almirante Gago Coutinho ao aeroporto de Faro, o actual presidente da A. M. dessa cidade e ex-deputado pelo Algarve insurgiu-se porque — segundo se podia ler na comunicação social — tal iria menorizar a cidade, por o seu nome passar a ser omitido, o que me suscitou as seguintes considerações:


A PRIMEIRA, é que não tem nada de extraordinário associar o nome de personalidades a obras (públicas ou privadas), quer se trate de um hospital, de uma ponte... ou, como é o caso agora, de um aeroporto. E, para me ficar apenas por essa categoria, aí temos o de Humberto Delgado (que toda a gente continua a referir, também, como “de Lisboa ou da Portela”), o de Sá Carneiro (“do Porto ou de Pedras Rubras”), o de Cristiano Ronaldo (“do Funchal”), para já não referir o de Charles de Gaulle (em Paris), o de Santos Dumont (no Rio de Janeiro), e por aí fora — nunca desaparecendo, na prática, a referência às cidades em causa.

 

A SEGUNDA, é que associar o nome do nosso Almirante a alguma coisa não a menoriza, antes a prestigia. Curiosamente, o mais que se poderia dizer é que o seu nome teria ficado melhor no aeroporto de LISBOA, cidade que o atribuiu à avenida que, logo à sua entrada, também é conhecida por “do aeroporto” — pelo que, também aqui, Gago Coutinho teria ficado associado à aviação e, mais ainda, à cidade que amava, e onde NASCEU, VIVEU e MORREU.

 

ORA, as últimas palavras remetem-me para aquilo que nunca pensei ser preciso escrever, mas sucede que alguma comunicação social resolveu “esclarecer” que o nome do Almirante tinha sido dado ao Aeroporto de Faro porque ele era algarvio, indo ao requinte de especificar que era de S. Brás de Alportel! 

E, no entanto, bastaria terem acedido à Internet para saberem que Gago Coutinho NASCEU em LISBOA (no dia 17 de Fevereiro de 1869, no n.º 5 da Calçada da Ajuda, onde os pais residiam), VIVEU em LISBOA (nomeadamente, no n.º 164 C da Rua da Esperança onde, entre outras referências, está uma placa colocada pela C. M. de Lisboa aquando dos 75 anos da “travessia”), e MORREU em LISBOA (no dia seguinte a completar 90 anos) na antiga freguesia de Santa Engrácia.

Em caso de dúvidas, poderei facultar, a quem o queira, basta documentação, incluindo fotos das referidas casas, o texto integral da sua Certidão de Nascimento / Baptismo (acrescentada com a data e o local do falecimento), e muito mais que sobre ele coligi, ao longo dos anos, com destaque para a completíssima biografia da autoria do Piloto-Aviador Pinheiro Corrêa e da não menos exaustiva obra do próprio Almirante intitulada “A Náutica dos Descobrimentos”.

Esta, nos seus dois grossos volumes, explica e detalha as principais navegações históricas, com grande profusão de dados e mapas, mas de leitura bem acessível, até para quem, na página do Facebook da Freguesia de S. Gonçalo de Lagos escreveu, em Fevereiro passado, que Magalhães tinha dado a volta ao mundo (na viagem de 1519) na nau Santa Maria, a capitânia de Colombo — apesar de ter sido morto em 1521, de o genovês ter morrido em 1506, e de a referida nau ter sido desmantelada em 1492, depois de encalhar no actual Haiti.

 

NOTA — No número de Julho passado, o “Correio de Lagos” já aqui lamentou, a propósito das placas toponímicas que, por cá, homenageiam modestamente Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a incompreensível «... omissão das datas de nascimento e morte (respectivamente 1869-1959 e 1881-1924)», acrescentando que, no caso de militares, a norma habitualmente seguida levaria a que os seus nomes tivessem sido antecedidos pela indicação dos respectivos postos — neste caso, “Almirante” e “Comandante”», o que também foi omitido... sabe-se lá porquê.


 





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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Há cada autarca! E o pior é que há muitos como esse. E, pior ainda, os munícipes não destoam dos seus representantes.
Por isso, a lição tem toda a pertinência.
Só não terá eficácia, porque quem mais precisava possivelmente nem a lê.
Mas isso só justifica a justiça da lição dada.

27 de outubro de 2022 às 14:35  
Blogger Bmonteiro said...

«sabe-se lá porquê»
Como não, com a miserável cultura geral, que emana da escola do regime?
Saber dá trabalho, e pelos vistos, não liberta.

28 de outubro de 2022 às 20:58  

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