14.10.22

Sempre finitos, sempre provisórios

Por Joaquim Letria

Embora sentindo a falta duma dimensão mais solidária, dificilmente toleraríamos voltar a viver em comunidades que sacrificassem a nossa independência, o nosso individualismo como pessoas.

É compreensível que pessoas insatisfeitas se sintam consternadas perante este quadro. No entanto, por maior que seja o seu desânimo, é necessário que permaneçam atentas e estudem os fenómenos que possam indicar novas tendências ou novas potencialidades interessantes.

A disponibilidade para observar com real interesse tudo o que se passa num vasto espectro de expressões culturais não significa que avalizemos tudo o que vemos nem concordemos, de maneira oportunista, com tudo o que ouvimos. Seria um  contra-senso fingirmos ou pretendermos não ter preferências, nem manifestar a nossa própria opinião.

Ao dialogarmos com todas as tendências, assumimos a nossa posição subjectiva e, naturalmente, manifestamos a nossa opção pelos valores que ultrapassam a fronteira da precariedade.

O homem moderno tem de se reconhecer provisório. Como dizia Marx, diante de nós tudo se volatiliza, tudo o que é sólido se pulveriza no ar. Todavia, através das nossas criações culturais, finitos como somos, reinventamo-nos sem cessar. É a nossa única forma de reagirmos contra a dissolução e a única maneira de, renovando-nos, podermos perdurar.

Publicado no Minho Digital

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