30.9.22

Humildade

Por Joaquim Letria

Anatole France escreveu que “uma coisa que torna fascinante o pensamento humano é a inquietação”.

Da inquietação à curiosidade vai um pequeno passo. A curiosidade, no dizer de Catalina, é quando se ouve o que se quer saber, mas quando se escuta, chega-se a saber muitas vezes mais do que aquilo que inicialmente se propunha ouvir.

Para se tirar bom proveito daquilo que a curiosidade nos faz saber, a razão é indispensável, desde que se manifeste e utilize de forma viva, dinâmica, inquisidora e meditabunda, de modo a assimilar os conhecimentos de maneira a calar e conservar a sua intimidade cordial.

Inocência e razão, infância e maturidade compõem o binómio de que está formada a maravilha a que chamamos género humano. É curioso, por outro lado, como o homem sempre quis minimizar, ou até apagar, os melhores exemplares de si próprio.

Dizia Boileau que a humildade se verifica quando “o mais sábio é aquele que nem remotamente pensa em vir a sê-lo". Humildade, para os povos latinos, é quando “ninguém é sábio em todas as ocasiões”. Humildade, dizia Séneca, é "quando se pode ser sábio em todas as ocasiões”. Humildade, sentenciava Séneca, é quando “se pode ser sábio sem vanglória nem inveja”. Sócrates também se deu ao trabalho desta reflexão criando uma ideia defensiva mas que nos chega até hoje: ”Só sei que nada sei”!

Em síntese e à luz da nossa cultura judaico-cristã é a sabedoria que garante quem “quem se humilhe será exaltado". E como proferia o livro de Job, “viverá em glória”.

Muita gente não acredita em nenhum sábio até o ouvir dizer três vezes “duvido” e duas “não sei”.

Porque não fazer a vontade a esta gente se a Terra pertencerá aos humildes?! Poderemos ser todos felizes ao guardar o que sabemos de outros na nossa intimidade cordial.

Publicado no Minho Digital

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