21.9.22

No "Correio de Lagos" de Agosto de 2022

I — RECENTEMENTE, e a propósito das sanções à Rússia motivadas pela invasão da Ucrânia, houve um comentador francês que disse o óbvio:

Quando uns quantos países decidem aplicar sanções a outros, esperam, com isso, provocar-lhes dificuldades de tal monta que as suas populações se revoltem e mudem o regime e os seus líderes, ou, pelo menos, a política que estes seguem. Sucede, porém, que quando aqueles são democráticos e estes não, é praticamente nula a possibilidade de êxito pois, nas ditaduras, os poderes legislativo, executivo e judicial estão controlados, a Comunicação Social não o está menos, e as eleições, quando existem, apenas oferecem aos eleitores “a escolha” de um partido único. 

No extremo oposto, as democracias vivem ao sabor do curto prazo, das opiniões públicas voláteis e dos ciclos eleitorais, onde uma subida de uns cêntimos no preço dos combustíveis (ou uma mexida de 2 graus no termostato do emprego) pode fazer cair governos, pois a solidariedade dos “heróis da rectaguarda” esgota-se nos teclados dos iPhones e em bandeirinhas nos perfis do Facebook.

Olhemos para Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, Irão..., e veja-se qual desses países mudou de regime devido às sanções a que têm sido sujeitos ao longo dos últimos anos e décadas. Nenhum, como se sabe. Mas, no caso desses, os “sancionadores” pouco ou nada dependem dos “sancionados”. Ora, no caso da Rússia não é assim, pois o nosso mundo, viciado em energia barata e ilimitada, tem nela o seu “calcanhar de Aquiles”. 

Eu escrevi “ilimitada”? Desculpem, foi uma força-de-expressão. Os combustíveis fósseis, por definição, são finitos, e, uma vez queimados… pfff… Então porque é que ninguém pergunta o que sucederá quando acabarem? Sem querer, e muito antes do tempo, Lawrence Peter deu a resposta: «A Espécie Humana atingiu o seu Nível de Incompetência, pois passou a ser capaz de se autodestruir — e não apenas uma vez, mas muitas» — e de diversas formas, adianto eu; portanto, os que não se preocupam minimamente com essa inevitabilidade até agem logicamente, pois a Humanidade tem todas as condições para acabar muito antes.

 

II — ORA, e ao mesmo tempo que boa parte do mundo está agora a descobrir como são reais e dramáticas as suas fragilidades energéticas, também não falta quem esteja a ser atormentado pela seca, apesar de, ao contrário do que sucede com os combustíveis fósseis, a água no Planeta não desaparecer, mesmo depois de usada: no seu todo, ela é sempre a mesma, apenas muda de estado e se desloca — só que S. Pedro não segue a lei do “sol na eira e chuva no nabal”, provocando inundações catastróficas numas zonas do globo, e secas devastadoras noutras, com a ajuda inestimável de uns quantos pândegos, que procedem como o louco que, tendo caído num buraco onde se depara com uma pá e uma escada, despreza esta e desata a usar aquela.

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“Correio de Lagos” de Agosto de 2022

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