Deixa-te de fitas, pá!
Por Joaquim Letria
Foi Voltaire quem disse que, para o escritor, a maior desgraça era ter de se confrontar com o julgamento dos imbecis.
Escreveu ele que isso o afectava mais do que “ser invejado pelos seus pares, ser vítima das intrigas, ser desprezado pelos poderosos”.
Pior ainda o fazia sentir esse julgamento quando “partia de alguém em quem o fanatismo se unia à estupidez”.
Creio que este julgamento se deve ao facto de, no tempo de Voltaire, nem todos os estúpidos serem fanáticos nem os fanáticos serem estúpidos. Hoje, ambos os predicados são indissociáveis: não há fanático que não seja estúpido, nem estúpido que não seja fanático.
No que eu não acredito é na infelicidade de Voltaire perante a opinião dos imbecis, dos fanáticos e dos fanáticos imbecis.
É evidente que seria preferível que não existissem semelhantes seres. Mas já que existem por obra e graça do Criador, penso que Voltaire não seria excepção à regra que se aplica a todos que escrevem livros, artigos de opinião ou crónicas de jornal.
Custa-me acreditar que ele resistisse ao prazer de extorquir aos imbecis fanáticos bem como aos fanáticos imbecis a raiva destes ou as frustrações daqueles com as quais vão carregando de ódio o doce favor de nos detestarem.
Oh Voltaire, meu irmão! Então isso não te dava gozo, meu querido amigo!?
Deixa-te de fitas, pá!
Publicado no Minho Digital
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