4.11.22

Deixa-te de fitas, pá!

Por Joaquim Letria

Foi Voltaire quem disse que, para o escritor, a maior desgraça era ter de se confrontar com o julgamento dos imbecis.

Escreveu ele que isso o afectava mais do que “ser invejado pelos seus pares, ser vítima das intrigas, ser desprezado pelos poderosos”.

Pior ainda o fazia sentir esse julgamento quando “partia de alguém em quem o fanatismo se unia à estupidez”.

Creio que este julgamento se deve ao facto de, no tempo de Voltaire, nem todos os estúpidos serem fanáticos nem os fanáticos serem estúpidos. Hoje, ambos os predicados são indissociáveis: não há fanático que não seja estúpido, nem estúpido que não seja fanático.

No que eu não acredito é na infelicidade de Voltaire perante a opinião dos imbecis, dos fanáticos e dos fanáticos imbecis.

É evidente que seria preferível que não existissem semelhantes seres. Mas já que existem por obra e graça do Criador, penso que Voltaire não seria excepção à regra que se aplica a todos que escrevem livros, artigos de opinião ou crónicas de jornal.

Custa-me acreditar que ele resistisse ao prazer de extorquir aos imbecis fanáticos bem como aos fanáticos imbecis a raiva destes ou as frustrações daqueles com as quais vão carregando de ódio o doce favor de nos detestarem.

Oh Voltaire, meu irmão! Então isso não te dava gozo, meu querido amigo!?

Deixa-te de fitas, pá!

Publicado no Minho Digital 

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