18.7.19

A deriva reacionária das Igrejas e a extrema direita_2

Por C. Barroco Esperança
A deriva reacionária da Europa tem na religião uma das suas fortes componentes. Não sendo a única, é especialmente relevante.
Em Itália, Salvini tem o apoio da maioria dos católicos praticantes, e dos bispos que se opõem ao Papa. Salvini, o mais poderoso político italiano e cada vez mais abertamente fascista, ordenou ontem a realização de um relatório sobre os acampamentos de ciganos no país para localizar aqueles que estão ilegais e “preparar um plano de desalojamento”, lamentando que talvez tenham de ficar os nascidos em Itália.
Na Rússia, o clero ortodoxo apoia o autoritarismo de Putin que, por sua vez, apoia os partidos populistas e de extrema-direita da UE, com quem tem afinidades ideológicas.
Na Polónia e Hungria, tal como na década de 30 do século passado, a Igreja católica, em surdo confronto com o Papa, é o sustentáculo e promotor dos líderes que desrespeitam os direitos humanos e fazem da democracia uma caricatura.
Aqui ao lado, em Espanha, depois de alguns anos de vergonha e relativo silêncio, nota-se a nostalgia clerical de Franco, indiferente às centenas de fuzilamentos do genocida e ao seu silêncio ou apoio deliberado, com o seu ativismo favorável à exaltação de Franco e contra a exumação do Vale dois Caídos.
Em relação à igualdade entre homens e mulheres, à autodeterminação sexual da mulher e à sua saúde reprodutora, bem como à falta de respeito pelas liberdades individuais, os bispos voltaram a ser a voz da reação, os guardiões da Falange e os ideólogos da moral que querem impor, indiferentes à dignidade individual e aos direitos humanos.
O arcebispo de Burgos, Fidel Herráez Vegas, em carta publicada nas páginas da Internet da diocese e do Opus Dei e no Diário de Burgos, pede às vítimas da violação, mulheres, claro, que resistam “até à morte” para preservarem a castidade.
Carlos Osoro, cardeal arcebispo de Madrid, sucessor do cardeal fascista Rouco Varela, defende que os “donos da vida” não são os homens, só Deus e, portanto, quem tem a capacidade de dar e tirar a vida, esquecido do silêncio unânime dos bispos espanhóis perante centenas de milhares de fuzilamentos de Franco, depois da vitória contra o governo legal.
Esta posição surge quando está a ser julgado o marido de María José Carrasco, acusado de delito de cooperação no suicídio da mulher, doente com esclerose múltipla, dores intoleráveis e enorme degradação física.
Os bispos, como todos os cidadãos, têm o dever de defender o direito à vida, embora careçam de autoridade moral, o que não têm é o direito de a impor quando já não há esperança e essa vida se torna um fardo insuportável, contra a vontade de quem a sofre.

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2 Comments:

Blogger Carlos Diniz said...

Pela leitura da escrita do Carlos Esperança ficamos com a nítida impressão que apenas existiram fuzilamentos por parte das forças fascistas de Franco.
Em Paracuellos del Jarama as armas vomitaram o quê sobre suspeitos de serem simpáticos do golpe de Franco? Flores e bolas de sabão multicolores?

Vá lá ser faccioso para o raio que o parta.

21 de julho de 2019 às 13:35  
Blogger Carlos Esperança said...

Carlos Diniz, quem, como eu, teve familiares mortos dos dois lados, sabe bem que é verdade o que diz.

No entanto, o franquismo, depois da vitória, fuzilou mais pessoas do que todas as que morreram dos dois lados na orgia de terror e violência recíproca durante os anos da guerra.

Obrigado, pelo seu comentário.

21 de julho de 2019 às 13:55  

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