5.7.05

«Um diamante é para sempre»

Crónica de Joana Amaral Dias

FEITOS NUM 8

Milhares de pessoas afluíram aos concertos do Live 8, 20 anos depois de um concerto semelhante, 50 anos após a Conferência de Bandung. Mas tem força e influência a vontade de quem aplaudiu?

(Texto completo em "Comentário-1")

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

FEITOS NUM 8

Milhares de pessoas afluíram aos concertos do Live 8, 20 anos depois de um concerto semelhante, 50 anos após a Conferência de Bandung. Mas tem força e influência a vontade de quem aplaudiu? 200 mil pessoas estiveram em Hyde Park e 225 mil protestaram em Edimburgo. Acompanhei pela televisão e torci pelo seu êxito, mas não pude deixar de pensar nos quantos mais se manifestaram contra a guerra no Iraque e nos fóruns mundiais. A demanda de mais dinheiro para África ou o perdão das suas dívidas terão os efeitos esperados? Ou terão resultados perversos?

É que do lado do G8, que se reúne amanhã, a música é outra. Não apenas a soma da generosidade poderá ser mais magra do que a esperada, como perdoar os passivos contraídos com o Banco Mundial mas deixar a descoberto os da banca privada internacional resultará no agravamento da dívida. E mesmo anular todas as dívidas não é garante de desenvolvimento. Não chega. Já nem falando na contrapartida da sangria dos recursos africanos, da sua água, do seu petróleo, das suas minas. Um negócio da China. Literalmente, como está bem patente na política chinesa mais recente, que tem vindo a apropriar-se dos recursos africanos que pode. O G8 mudará as regras de comércio com África, tornando-o mais justo? Os EUA querem mesmo o desenvolvimento africano? Suportá-lo-iam? A França renunciará aos seus interesses agrícolas? Ou ficaremos pelo casamento harmonioso entre a vontade de Blair relativamente à política agrícola comum e os seus interesses nesta conferência do G8? O Reino Unido abdicaria do influxo barato e vantajoso de médicos e outros profissionais africanos, formados em universidades africanas? A Igreja Católica, que conta agora com um importante alicerce em África, abriria mão da sua luta contra o preservativo para que, realmente, se previna a sida? O G8 alguma vez resolverá estes conflitos de interesses? Ou, de novo, adiará a questão para a conferência de Inverno em Hong Kong? Haverá vontade e acção política para prevenir as guerras africanas, ou continuar-se-á a actuar depois de os conflitos já terem explodido? A ajuda será acompanhada por sérias medidas anticorrupção, nomeadamente monitorizando os bancos ocidentais e obrigando a maior transparência, ou servirá para alimentar déspotas?

Quantos músicos africanos participaram do Live 8? Poucos. Quantos oradores africanos botaram faladura nos palcos de Bono ou de Madonna? Em quantos museus, não antropológicos, a arte africana aparece nas galerias principais? Em quase nenhuns e habitualmente habita os pisos inferiores. Em cima encontram-se as obras de Cézanne, Matisse, Picasso ou Braque, construídas sob a influência da arte africana tribal, e assinalando a passagem ao modernismo.

A mão estendida é de esmola ou retribuição? O Ocidente quererá finalmente ajudar África? Já percebeu o quão África tem ajudado o Ocidente?

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PASTELINHOS DE BACALHAU, NÃO TENHO - ENTÃO UM COPINHO DE VINHO BRANCO

O anúncio da construção de uma central nuclear em Portugal é recorrente e antigo. Até agora não se concretizou. E até agora também não se discutiu seriamente a melhoria da eficiência e da dependência energética. O petróleo corresponde a cerca de 64% do consumo de energia primária em Portugal. A dependência do gás natural também aumenta. Perdemos 4% de eficiência energética por ano, e enquanto em Espanha as energias renováveis não hidroeléctricas representam 20% do total da energia disponível no sistema, e na Alemanha 50%, Portugal fica-se pelos 1,5%. Mas, enfim, França já tem um reactor de fusão nuclear e nós não podemos ficar atrás. Não despejámos centenas de toneladas de betão enquanto acumulámos listas de espera infindáveis nos hospitais? Não construímos centros comerciais como cogumelos enquanto púnhamos o analfabetismo a marinar? Portugal tem muitos defeitos. Um deles é uma estapafúrdia falta de estabelecimento de prioridades e de planeamento. Ou será mesmo pura parolice?

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NATURALMENTE QUE NÃO

António Torres, do Movimento Juntos pela Vida, escreveu no DN de ontemque o seu "objectivo é a defesa da vida desde a concepção à morte natural". Natural é sem qualquer medicação, ligação a máquina ou tubo de alimentação?

(«DN» 5 Jul 05)

5 de julho de 2005 às 10:39  

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