5.8.05

Amigos, amigos... umbigos, umbigos

NOS tempos de Santana Lopes, fartámo-nos de apanhar (e às vezes até em directo na TV!) com gente a queixar-se de «velhas amizades traídas»...

- Vá, meninos, todos em coro: «Os ursinhos são nossos amigos!»
AGORA, é Helena Roseta que vem a público acusar Mário Soares de ter atraiçoado o velho amigo Manuel Alegre.
Pois é... Os políticos, ou ajudam demais os amigos (e «Aqui d' El Rei!»), ou dão-lhes facadas nas costas (e «D' El Rei aqui!»).
Ó Helena Roseta, então na sua idade ainda não sabe que «amigos, amigos... negócios à parte?». Claro que sabe.
Por mim, posso adiantar-lhe que, em mais de três décadas de vida profissional, tive muitas e grandes chatices - a maior parte precisamente com amigos. Mas isso era durante o serviço - e por causa dele. Cá fora, tudo se passava de forma diferente.
Dirá que «não é possível nem correcto separar a amizade da vida profissional».
Pode ser triste. Mas olhe que, quando está em causa o interesse nacional, não só pode como, se calhar, deve.
De qualquer forma, se quer desabafar por causa de relacionamentos (e ressentimentos) privados, é lá consigo - mas faça-o antes em privado, se puder, e poupe-nos.
-
Curiosidade: Na batalha de Aljubarrota, Nun' Álvares Pereira teve de combater um dos seus irmãos. Pouco antes de o combate começar, avançaram para a terra-de-ninguém, conversaram amigavelmente e cada um tentou convencer o outro. Mas, minutos depois (e como não chegaram a acordo), a amizade passou para segundo plano, e o irmão do Condestável acabou por ser morto. E só não o foi por este... porque não calhou!

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Claro que ao vir para a praça-pública acusar Soares de «atraiçoar um amigo», a mensagem que H. Roseta quer deixar passar é que ele não é de fiar.

Bem... se queria dizer que «Soares diz uma coisa hoje e o oposto amanhã», não precisava de gastar papel de jornal, porque a gente sabe do que a casa gasta.
Basta ler o que M.S. dizia há poucas semanas.

5 de agosto de 2005 às 19:03  
Anonymous Anónimo said...

Se os amigos de Alegre são todos como o Carrilho e a Roseta, ele bem pode chorar!
Um, é o pavão que se sabe.
A outra, é uma ex-PSD (com tiques de MRPP), falando pelos cotovelos e irritante de ouvir.
É uma convencida e chata como tudo!

C.E.

5 de agosto de 2005 às 19:19  
Anonymous Anónimo said...

Pois, mas a comparação a propósito da batalha de Aljubarrota tem uma falha:
Para ser válida, Soares devia ter falado antes com Alegre, como fez Nun'Álvares com o irmão.
Mas concordo que hoje em dia a política é mesmo assim:
Sacanice + cinismo, e toca a andar!

5 de agosto de 2005 às 19:57  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro "Anónimo",

Tem alguma razão.
Mas note-se que não foi o Condestável que andou depois a queixar-se publicamente da «traição» do irmão.
A cena veio a ser divulgada pelo cronista Ayala, que assistiu à conversa (habitual antes das batalhas).

(Curiosamente, Ayala acabou por ser prisioneiro de guerra!)

5 de agosto de 2005 às 21:48  
Anonymous Anónimo said...

Aliás, neste caso, nem se pode falar de traição.
Esse irmão de Nun'Álvares estava apenas do lado da legalidade da época:
Defendia a D. Beatriz, filha de D. Fernando de Portugal e casada com D. João I de Castela.
Ela é que era a legítima herdeira do trono segundo as regras da altura.

E.R.R.

5 de agosto de 2005 às 21:51  
Anonymous Anónimo said...

Caro Carlos

Você diz que teve chatices, no(s) seu(s) emprego(s) com amigos.
Mas isso é normal, e sucede com todos. A questão é se esses amigos também alguma vez o "traíram" e "sacanearam".

F. Faria

6 de agosto de 2005 às 12:53  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro Faria,

Poupe-me! A resposta à sua pergunta é fácil de presumir...

--
Mas, já agora, deixe-me dizer-lhe que o problema é, precisamente, a definição de "AMIGO".

Nós passamos a vida a falar de amigos - o fulano com quem nos cruzamos todos os dias, o vizinho do lado, o colega de emprego... a todos nos referimos como sendo "amigos".

Mas aqui fica uma definição melhor e que dá que pensar:

«Um verdadeiro amigo não é o que se entristece com as nossas tristezas, mas sim o que é capaz de se alegrar com as nossas alegrias».
-
Toda a gente é capaz de dizer:

«Que maçada! Fulano tem uma doença grave...»

Mas poucos são capazes de dizer:

«Lembras-te que Cicrano queria tanto aquele trabalho? Pois conseguiu-o, e estou mesmo muito contente por ele!»

6 de agosto de 2005 às 13:06  
Anonymous Anónimo said...

Hoje, a Clara Ferreira Alves, na ÚNICA, faz também (a propósito do mesmo assunto Soares / Alegre) um grande arrazoado moral sobre as virtudes da amizade. É outra que ainda não percebeu que «quando a política entra em conflito com a amizade, ganha a primeira».

Hoje e sempre, minha rica senhora.
Hoje e sempre, goste-se ou não!

6 de agosto de 2005 às 14:36  
Anonymous Anónimo said...

A resposta à C. F. Alves tem a ver com a definição de "verdadeiro amigo".

Soares e Alegre são, possivelmente, apenas compinchas, velhos conhecidos, companheiros de partido e até talvez tenham sido (até agora...) parceiros da sueca.

Evidentemente, «verdadeiros amigos» não parece que sejam nem tenham sido: Soares devia ao menos ter avisado o outro.

Mas o que é que se esperava dele?

Já se esqueceram que o anti-americano de hoje foi o grande amigo da CIA, do Carlluci e do Kissinger quando estes andavam com o Pinochet ao colo?
Já se esqueceram de que ele foi grande amigo (e importante apoio) do Savimbi, mortífera criação dos colonialistas e da CIA?
Já se esqueceram que ele chegou a aceitar a possibilidade de Portugal ser invadido (por ingleses!)para combater o gonçalvismo?

6 de agosto de 2005 às 14:49  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Os jornais têm referido (negativamente, é claro) que Vara foi para a CGD por ser "amigo" de Sócrates.

Vá lá a gente entender o povo:

Sócrates, é criticado por ajudar um amigo; Soares, é-o por "desajudar" outro!

7 de agosto de 2005 às 12:52  

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