4.8.05

O «naming» (?!) da Luz


RECENTEMENTE, no post «Em defesa do bom nome», gozava-se com o facto de o Estádio da Luz ter o seu nome à venda; referiam-se, a propósito, alguns fabricantes de lâmpadas, e até se alertava para o facto que o nome PHILIPS já fora dado a um estádio (em Eindhoven, terra holandesa onde existe a respectiva fábrica).
Segue-se, com autorização do autor, um texto de Alfredo Barroso sobre o mesmo assunto.

TRISTEZAS NÃO PAGAM DÍVIDAS
NO CICLISMO profissional, já há muito que é concebível imaginarmos os adeptos a incitarem as suas equipas favoritas, ao longo de algumas estradas de Portugal, gritando: «Força, Pepolim & Irmãos!»; «Coragem, Barbot/Torrié!»; «Chega-lhes, Antarte/Rota dos Móveis!»; «Prà frente, Porta da Ravessa/Bom Petisco/Tavira!»; «Toca a pedalar, Maia/Milaneza/MSS!»; «Já falta pouco, Carvalhelhos/Boavista!»; «A meta é já ali, LA LibertySeguros!». (Texto integral em «Comentário-1»)

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

TRISTEZAS NÃO PAGAM DÍVIDAS

No ciclismo profissional, já há muito que é concebível imaginarmos os adeptos a incitarem as suas equipas favoritas, ao longo de algumas estradas de Portugal, gritando: «Força, Pepolim & Irmãos!»; «Coragem, Barbot/Torrié!»; «Chega-lhes, Antarte/Rota dos Móveis!»; «Prà frente, Porta da Ravessa/Bom Petisco/Tavira!»; «Toca a pedalar, Maia/Milaneza/MSS!»; «Já falta pouco, Carvalhelhos/Boavista!»; «A meta é já ali, LA Liberty Seguros!». Isto, para já nem falar da T-Mobile, ou da Discovery Channel, ou da Saunier Duval, equipas cujos ciclistas disputaram, em Julho, a Volta à França.

Não tarda que o naming também invada por completo o futebol português, numa homenagem (tardia, em relação ao que já se passa em vários países estrangeiros) à nossa Super Liga Galp Energia. Teremos, então, que comentar uma grande jogatana entre, por exemplo, as equipas de futebol do SLB/Sacyr-Somague/BES/BCP/CGD/Vodafone e do SCP/Entreposto/Herdade do Esporão/BES/BCP/CGD/Vodafone, disputada no «Estádio Vaticano», ou no «Estádio Coca-Cola», ou no «Estádio McDonald’s». Veremos.

Dirá o leitor amigo que estou a delirar ou a tentar ser tão «fantasista», no papel, como o «genial» Rui Costa, no relvado. Mas eu respondo-lhe como o já falecido doutor Álvaro Cunhal: «Olhe que não, caro leitor! Olhe que não!». Admito que o Vaticano não seja a multinacional capaz de comprar o naming do Estádio da Luz - que os benfiquistas consideram, sem rebuço, como «a Catedral» da bola lusitana. E é uma pena. Mas outros nomes, todos os nomes de uma caterva de multinacionais, poderão colmatar os pruridos teológicos, bem naturais, da Santa Sé, do Papa Bento XVI ou, até, do nosso Cardeal D. José Policarpo, proporcionando um naming bastante lucrativo ao Estádio da Luz.

Na «economia do imaterial» em que hoje vivemos e com que hoje lidamos, tudo tem um preço e se transforma em objecto mercantil: seja a educação, a cultura, a arte, a criação; seja a felicidade, o lazer ou o sonho. O desporto profissional não escapa à regra, bem pelo contrário, é uma autêntica máquina de gastar e fazer dinheiro, mobiliza e vale muitas pipas de massa. Tal como os novos «saltimbancos» (as vedetas de cinema ou da canção), os novos «gladiadores» (os grandes atletas e, desde logo, os ases do pontapé na bola) são quem mais faz sonhar os consumidores estimulados pelos impulsos mediático-financeiros e dominados pelos espectáculos narcísicos, personalizados e voláteis.

Mas, chega de conversa fiada e vamos aos factos. O CEO da SAD do SLB já foi bem claro quanto ao target que ele visa atingir com os vários contratos de naming, face ao amount das dívidas abrangidas pelo project finance montado pelo sindicato bancário que viabilizou a construção desse novo Estádio ainda chamado «da Luz» (vulgo «nova Catedral»), cujo nome pode mudar em troca do pagamento de 30 a 40 milhões de euros. Claro que há as garantias constituídas por passes de jogadores, direitos de transmissão televisiva de jogos nas épocas de 2011/2012 e de 2012/ 2013 (onde isto já vai!), rendas do Estádio, de alguns camarotes, de «bilhetes de época» e pela «dação pró-solvendo» de contratos comerciais. Mas o naming é o que mais potencia a imagem de marca.

Há os namings das bancadas, dos pavilhões, das piscinas, do Centro de Estágio. Mas o naming cuja venda é mais apetecida é o do novo Estádio. Diz o CEO da SAD do SLB que, mais do que «ter a camisola poluída com patrocínios», urge «fazer o naming do estádio».

E lembra que, «nos EUA, 70 % dos estádios têm naming». Só falta mesmo vender os namings das tácticas adoptadas pelas equipas. Interrompia-se um jogo sempre que cada equipa mudasse de táctica, para fazer publicidade, por exemplo, à Pepsi-Cola (4x3x3), à Nestlé (4x4x2) e ao Viagra (3x5x2) - ou, até, ao golo Nike e ao golo Adidas, consoante a bola. Já só falta vender a alma ao diabo. Tristezas não pagam dívidas.

Alfredo Barroso

(Texto publicado no «DN» de
3.Agosto.2005

4 de agosto de 2005 às 10:56  
Anonymous Anónimo said...

Trata-se, então, de «dar à Luz»... um novo nome.

«Parir» estaria bem?

4 de agosto de 2005 às 11:53  
Anonymous Anónimo said...

As velinhas que os sócios andam a acender (para que o SLB comece a jogar como deve ser) devem ser mais do que suficientes para haver boa Luz!

(Se não houver «Luz» que chegue para ver certos jogos, também não faz mal! Sou benfiquista, e há muitos jogos em que prefiro não ver nada. E certos jogadores, que por lá andam, mais parecem coxos e ceguinhos do que profissionais principescamente pagos - com o dinheiro dos palermas como eu, é claro!)

Madureira

4 de agosto de 2005 às 11:58  
Anonymous Anónimo said...

De vez em quando leio as crónicas do Dr. A. Barroso no DN. Mas nem sempre calha.
Vão passar a afixa'-las aqui, ou foi só agora porque vinha a propósito?

John

4 de agosto de 2005 às 12:33  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro John,

Infelizmente, o Dr. Alfredo Barroso não é colaborador deste blogue, e nem sei se o é em algum outro.

Mas este texto foi aqui publicado (com a sua autorização) como sucede de vez em quando, neste blogue, com textos de pessoas cultas e inteligentes.

Já sucedeu também com artigos de Joana Amaral Dias, Nuno Costa Santos, Appio Sottomayor, Saldanha Sanches, Duarte Lima, etc.

4 de agosto de 2005 às 13:34  
Anonymous Anónimo said...

Por falar em acender velinhas e rezar a Nossa Senhora, que tal o estádio passar a chamar-se "Nova Catedral de Fátima"? Não era necessário darem-se ao trabalho de construir outra naquela localidade, o Benfica ganhava o mesmo e Fátima ainda poupava. Dentro de pouco tempo cumprir-se-ão 2 anos sobre uma cerimónia sui generis que ficou conhecida como "terço vivo" e que reuniu no Jamor umas dezenas (falou-se em mais de 5) de milhares de pessoas. Nada de inédito, portanto. E. assim, ninguém mais chamaria nomes aos árbitros e jogadores, pois passava a ser "pecado". Parece que o Sporting já vendeu o nome da academia e de 4 portas do XXI e está a analisar a venda do nome. Sugiro, desde já, estádio "Lacoste".

CC

4 de agosto de 2005 às 14:25  
Anonymous Anónimo said...

As vossas ilustrações continuam a ser muito bem escolhidas!

Esta da "luz" com cifrão não lembraria a ninguém!

C.E.

4 de agosto de 2005 às 17:19  

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