Pena (da) Capital
EMBORA sendo portuense e tendo a maior parte da família a viver no Porto, moro em Lisboa desde muito pequeno, e o único jornal da minha terra que eu lia (quando lá ia) era «O Primeiro de Janeiro» por ser o que compravam lá em casa.
Quero com isso dizer que «O Comércio do Porto» nunca fez parte dos meus hábitos de leitura, pelo que o meu pesar pela sua suspensão é meramente teórico.
Já não sucede o mesmo com «A Capital», jornal que comecei a comprar em 1968, de que me afastei para passar ao «Diário de Lisboa», mas a que regressei nos últimos tempos; e foi com preocupação que fui acompanhando o declínio das tiragens, chegando elas, nos últimos dias, a ser de menos de 4000 exemplares!
E o espantoso é ver, agora, que há muito mais gente a chorar o seu desaparecimento do que compradores!
Que diabo! Onde é que estavam esses muitos milhares de lacrimejantes quando era preciso apoiar um jornal limpo e honesto como este era?
A resposta é simples: a malta mais culta, por vezes, é mesmo assim:
Tem pena, em abstracto, que estas coisas aconteçam. Mas (vezes demais...) é só mesmo em abstracto...
---
Este texto veio a ser publicado, no «DN» de 6 Ago 05, sem os dois últimos parágrafos («A resposta é simples, etc»)
Quero com isso dizer que «O Comércio do Porto» nunca fez parte dos meus hábitos de leitura, pelo que o meu pesar pela sua suspensão é meramente teórico.
Já não sucede o mesmo com «A Capital», jornal que comecei a comprar em 1968, de que me afastei para passar ao «Diário de Lisboa», mas a que regressei nos últimos tempos; e foi com preocupação que fui acompanhando o declínio das tiragens, chegando elas, nos últimos dias, a ser de menos de 4000 exemplares!
E o espantoso é ver, agora, que há muito mais gente a chorar o seu desaparecimento do que compradores!
Que diabo! Onde é que estavam esses muitos milhares de lacrimejantes quando era preciso apoiar um jornal limpo e honesto como este era?
A resposta é simples: a malta mais culta, por vezes, é mesmo assim:
Tem pena, em abstracto, que estas coisas aconteçam. Mas (vezes demais...) é só mesmo em abstracto...
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Este texto veio a ser publicado, no «DN» de 6 Ago 05, sem os dois últimos parágrafos («A resposta é simples, etc»)
8 Comments:
Infelizmente, essa é a pura-verdade.
Veja-se a choradeira pelo balet Gulbenkian, ou quando fecha algum teatro onde a maioria dos chorosos nunca põe os pés.
E veja-se quando há cortes em financiamentos de filmes portugueses (idem).
De facto, há coisas que têm de ser apoiadas pelo Estado mesmo quando só servem minorias (como a RTP, a RDP, etc).
Mas as outras, as que vivem numa lógica comercial (caso dos jornais, revistas, etc),têm de viver do que vendem. Se os leitores-compradores não aderem, adeus!
Um jornal que tem pouco mais leitores do que trabalhadores não pode sobreviver.
Mas -atenção - os compradores também não podem "funcionar" numa lógica de "ajudar o coitadinho"!
(Para isso já há a «CAIS»):
O jornal tem de se impor pelo seu valor. O prazer que nos dá lê-lo tem de corresponder ao dinheiro que aceitamos dar em troca.
E.R.R.
A velha teoria de quando se termina é que se dá valor, volta atacar.
Mas há mais coisas boas a acabar: a música portuguesa na rádio pública RDP Antena 1. Em horas seguidas, ouvem-se meia dúzia de músicas portuguesas, é um escândalo. Tenho uns tios emigrantes na Alemanha que estão cá a passar férias e acham incrível que a rádio pública de Portugal não passe exclusivamente música de Portugal. Dantes não era assim mas também isso acabou.
Caro anónimo,
De facto, é verdade o que diz.
Mas a solução não é fácil:
Deverá haver uma "discriminação positiva", obrigando a RDP a transmitir uma certa percentagem de música portuguesa (boa ou má)- uma espécie de "quota para as mulheres" na política?
Ou deverá, simplesmente, ser obrigada a transmitir música de qualidade,independentemente da origem - forçando, assim, a que a música portuguesa lute pelo seu lugar (melhorando)?
Não sei.
Talvez a resposta esteja algures entre uma solução e outra.
musica portuguesa de manhã à noite seria com certeza um susto... mas uma percentagem substancialmente maior do que aquela que actualmente existe seria benéfica. Porque é que isso não acontece? Sei lá... certamente as editoras lucram mais assim.
lily
Não sei como é agora, mas posso garantir (porque estive lá MUITO tempo) que na RFA a rádio dava MUITO palavreado e MUITA música anglo-saxónica.
Na melhor das hipóteses, apanhava com os ABBA (aquela do "Took a chance on me", então, era de manhã à noite!)
Quanto a música alemã, não me lembro de ouvir.
Mas o certo é que não era eu quem conduzia, pelo que é bem possível que o condutor tivesse sempre sintonizada uma emissora com música dessa - evitando as que dessem essencialmente música alemã.
Bem...
Vamos lá a ver se acertámos.
Vi hoje na RTP que o Carrilho convidou um cantor brasileiro, um tal de Gilberto qualquer coisa que pelos vistos também canta para o Governo Brasileiro, esse sujeito pelos vistos veio dizer aos Alfacinhas que o Carrilho é o maior... etc...etc.
Ora bem, se isto é assim, porque nos admiramos que os portuguese cantores e não só sejam passados para 3º ou 4º plano?
Cada um sabe de si... mas eu, se fosse ao Carrilho, em questões de campanha eleitoral afastava-me dos brasileiros o mais possível!
Já viram a borrada que o publicitário dele fez quando virou Lisboa do avesso?
(Abecassis é que dizia «Vou tornar Lisboa irreconhecível!»)
E quando teve a ideia de pôr a criancinha a dizer «Papá-papá, vais ser Presidente da Câmara!»?
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