2.8.05

O sobrinho-do-tio e os filhos-da-mãe

O QUE é que pode levar um jornal (como ontem fez o «Correio da Manhã») a dar uma notícia do género:

«Sobrinho de Avelino Ferreira Torres apanhado com cocaína»?

Neste caso, não se limita a meter o nome do cavalheiro no título pois, no desenvolvimento da notícia, o suspeito é referido, por várias vezes, como «o sobrinho do autarca» (*).

CLARO que, em casos destes, a ideia é (sem mentir) associar um determinado acto de uma pessoa a uma outra que, à partida, não tem nada a ver com ele.

Isso é quase sempre feito com figuras públicas que, assim, vêem o seu nome conspurcado por indivíduos para quem o jornalismo «funciona na lógica do ardina»: o que interessa é vender jornais.

Pense-se o que se poderia fazer com pessoas como os irmãos Paulo e Miguel Portas:
«Irmão de ex-Ministro da Defesa ataca Bush!»
«Irmão de dirigente do B.E. apoia Bush!»
Exceptuam-se, evidentemente, os casos em que a relação familiar possa ser importante para a notícia.
Imagino, p. ex., que seja possível que as marotices do filho da Sra. Tatcher ou do filho de Kofi Annan possam ter a ver com a actividade dos respectivos progenitores. Mas, mesmo que seja esse o caso, isso deverá ser bem explicitado.
Caso contrário, e não havendo relação entre uma pessoa e a outra para além do parentesco, parece evidente que o filho-da-mãe é quem faz «notícias» dessas.
--
(*) Mas já vi casos mais imbecis, como dar destaque a marotices feitas «pelo cunhado da ex-mulher do jogador fulano-de-tal»

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Os comentários que CMR faz em relação à especulação Jornalística sobre o citado autarca são oportunos pela frequência com que se estão a verificar. Isto deixa de ser Jornalismo para serem "Mulheres de Solheiro"- Será que alguns Jornalistas saberão o que isso é?

3 de agosto de 2005 às 00:57  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Dei conhecimento deste texto ao Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que teve a amabilidade de me responder (coisa que muito boa gente não sabe fazer):


Fui ler o seu blogue e convergimos nas ideias. A associação famílias é,
muitas vezes, injusta, abusiva e especulativa. Foi o caso.

Cordiais cumprimentos,

Marcelo Rebelo de Sousa

16 de agosto de 2005 às 15:21  

Enviar um comentário

<< Home