4.11.05

E o nosso barril-de-pólvora?

«O que se está a passar em França é uma grande lição para todos, em particular para Portugal, onde as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto caminham a passos largos para uma guetização que poucos querem ver». (Do Editorial do «DN» de hoje)

Nos Comentários: transcrições do «ABRUPTO», do «Público», do «Diário Digital», da «TSF-online» e da «CNN» sobre o mesmo assunto.

O problema foi levantado na campanha eleitoral para as autárquicas - nomeadamente no caso de Lisboa:

Acabaram-se com as barracas na cidade (e muito bem), mas criaram-se novos guetos (e muito mal).
Então e agora?

É o velho problema dos governantes que temos... ou não temos pois, nestas coisas, há os que encaram os problemas estritamente no curto-prazo (são os pândegos do «Quando houver azar, logo se vê») e os estadistas que, com visão mais ampla, se preocupam com o longo-prazo.
Como estaremos nós servidos (em qualidade e quantidade) no que toca a uns e a outros?
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Imagem: www.faceright.com/archives/images/perpignan_cars_sm.jpg

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O ódio


Eduardo dâmaso

E m 1995 o realizador de cinema Mathieu Kassovitz contou-nos a história de Said, Vinz e Hubert, três jovens de uma periferia parisiense que acorda numa manhã em sobressalto devido às torturas sofridas por um jovem de 16 anos num interrogatório policial. A história acaba mal. Agora, morreram dois jovens electrocutados depois de uma acção policial e a pradaria urbana incendiou-se.

Esse belo e trágico filme intitulado O Ódio é uma crónica da permanente guerra civil travada por jovens desintegrados, desempregados e empurrados para a criminalidade com as forças policiais que podia ter sido feita dez anos antes. Ele é apenas mais uma abordagem criativa desta tragédia francesa que antecipa aquilo que um dia pode propagar-se a outros países.

O que está a passar-se em Paris já antes se passou. Paris é um permanente regresso ao passado nesta matéria da violência urbana e também não é por acaso que a França é um dos países europeus onde a extrema-direita fascista maior expressão institucional tem. Há duas décadas que os governos franceses de esquerda e de direita não conseguem dar respostas consequentes na integração das vagas de emigrantes que entraram no país. Há duas décadas que a política francesa oscila entre a defesa e a recusa, ambas radicais, de um modelo social utilizado como arma de arremesso nas barricadas ideológicas de cada tribo. Há duas décadas que a política francesa não sabe como enfrentar o crescimento explosivo do desemprego, da criminalidade, do gigantismo imobiliário em bairros dormitórios, horríveis e labirínticos, que cresceram nas periferias das grandes cidades. Há duas décadas que jovens marginalizados pela crise económica e por uma sociedade em crise de valores estão em guerra com forças policiais abandonadas à sua própria sorte. Uns são a mesma carne do canhão, açulados como cães ao ódio recíproco por um poder político irresponsável. Poder esse que tem, agora, na cara do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, expoente de um populismo light mas profundamente pirómano a quem alguns espíritos mais entusiasmados com a suposta coragem das suas decisões já antecipam uma dimensão de grande estadista, a maior evidência.

A única resposta que Sarkozy consegue dar é a da repressão pura. Nada conseguirá, como nunca nenhum antes dele conseguiu. Nada se consegue neste campo estigmatizando o protesto e instrumentalizando a polícia. Nada se consegue desinvestindo na integração social ou entregando-o apenas à velha lógica misericordiosa da piedade católica.

O que se está a passar em França é uma grande lição para todos, em particular para Portugal, onde as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto caminham a passos largos para uma guetização que poucos querem ver.

4 de novembro de 2005 às 19:10  
Anonymous Anónimo said...

ABRUPTO

De novo, o noticiário das 13 horas da RTP1 transformou-se numa versão "noticiosa" de um panfleto do Bloco de esquerda, a propósito dos incidentes de Paris. De novo, é pena que o texto das notícias não esteja disponível em linha, para que todos possam julgar. Já não basta o modo como se tratou o Katrina, nunca rectificando as informações falsas que foram dadas, coisa que todos pediram (e bem) para ser feito com o "arrastão", mas que ninguém exige quanto ao Katrina. Agora é uma "interpretação" do que acontece em Paris inteiramente conducente à justificação da violência. Preto no branco, uma justificação da violência, que nada tem a ver com notícias ou com jornalismo, mas com um digest de pseudo-sociologia politizada e grosseira. Por que razão é que eu tenho como contribuinte que pagar os exercícios de propaganda política de um grupo de senhores jornalistas que são maus profissionais e que nos querem apascentar?

Os que estão sempre a pedir exemplos concretos e que depois nunca os querem discutir, têm aqui um exemplo mais que preciso - noticiário das 13 horas da RTP1. Coloquem-no no papel para lermos com distanciação e vejam lá se o que resulta é jornalismo ou é opinião política disfarçada de notícias.

4 de novembro de 2005 às 21:16  
Anonymous Anónimo said...

José Manuel Fernandes (PÚBLICO)

Na mesma noite em que dois jovens morreram electrocutados em circunstâncias que permanecem nebulosas (mas de que logo se responsabilizou a polícia), um homem de 50 anos era morto ao pontapé por delinquentes perante a passividade de dezenas de pessoas. O presidente da câmara local entendeu dever acorrer ao funeral dos jovens, mas ignorou o da vítima do banditismo. Este gesto contém uma clara mensagem política que valoriza a suspeição, não provada, sobre um eventual exagero da polícia, e desvaloriza o vandalismo mais bárbaro.

O imenso falhanço da "integração" reside exactamente nestes tipo de equívocos, nesta total confusão de valores. Se se aceita e justifica os que vivem desafiando a lei, acaba-se no caos. E se não se promovem os valores da tolerância e do trabalho, acaba-se na segregação. Pior só acrescentando um clima político inquinado, como aquele que a França vive.

4 de novembro de 2005 às 21:21  
Anonymous Anónimo said...

Diário Digital / Lusa

De Villepin recebe jovens de bairros problemáticos


O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, recebeu uma quinzena de jovens para tentar encontrar soluções para resolver os problemas que afectam os bairros problemáticos, ao mesmo tempo que a violência voltava pelo nono dia consecutivo.



Desta vez não foi preciso esperar pela noite para que os actos de violência regressassem, com vários veículos a serem queimados perto da câmara municipal e de um centro comercial em Bobigny.
Nesta mesma localidade dos arredores de Paris, uma trintena de presidentes da câmara de cidades do departamento de Seine-Saint Denis, o mais afectado pela guerrilha urbana, reuniram-se para tentar apelar à calma.

Confrontado perante a crise mais grave desde que assumiu as rédeas do Governo em Junho, Villepin multiplica-se em reuniões para encontrar formas de estancar a onda de distúrbios, depois de uma noite particularmente violenta, com uma mulher gravemente ferida, mais de 500 viaturas incendiadas e 78 pessoas detidas.

Perante o agravamento da crise, o primeiro-ministro reuniu-se com o seu ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, cuja linguagem «guerreira» suscitou fortes críticas e levou mesmo vários políticos de esquerda a reclamar a sua demissão, No entanto, Villepin cerrou fileiras com Sarkozy para evitar que a crise das ruas se estenda até ao interior do Governo, isto apesar dos dois figurarem como os principais rivais da direita francesa na corrida à eleição presidencial de 2007.

Depois de Sarkozy, o chefe do executivo reuniu-se com vários jovens, com idades compreendidas entre 18 e 25 anos, provenientes de bairros dos arredores de Paris e representando um espectro alargado de experiências: imigrantes, estudantes, desempregados, beneficiários dos subsídios mínimos de subsistência e até um empresário.

Villepin prepara um «plano de acção», que pretende ter pronto antes do final do mês, para implementar nos bairros problemáticos, marcados pela imigração, o desemprego, a pobreza e a delinquência.

No entanto, os autarcas das localidades afectadas pelos distúrbios, com os quais se reuniu na quinta-feira, mostraram-se contrários àquilo que definiram como o «enésimo» plano e pediram antes um trabalho em profundidade e de forma duradoura.

Os autarcas pretendem que o executivo implemente programas de educação, de habitação e de emprego nesses bairros.

Outras vozes pedem o restabelecimento da polícia de proximidade, implantada pela esquerda e na prática eliminada pela direita quando chegou ao poder em 2002.

4 de novembro de 2005 às 21:31  
Anonymous Anónimo said...

TSF-online:

Violência alastra ao resto do país
É a nona noite de violência em França. Cerca de 220 veículos foram incendiados esta sexta-feira em cinco zonas da capital francesa. Entretanto, a violência já alastrou a outras cidade do norte e sul do país. ( 00:44 / 05 de Novembro 05 )


É a nona noite consecutiva de confrontos. Cerca de 220 veículos foram incendiados esta sexta-feira à noite, por grupos de jovens de cara tapada, em cinco zonas de Paris.

Em Val d'Oise, os bombeiros foram chamados para apagar incêndios em dois edifícios. Noutro subúrbio, Epinay-sous-Bois, cerca de 40 manifestantes saquearam dezenas de carros.

Os tumultos causados por jovens - na sua maioria descendentes de imigrantes africanos e muçulmanos - ganham força devido ao desemprego, à pobreza, à falta de acesso à educação e aos problemas habitacionais que enfrentam.

Hoje, os confrontos alastraram a outras regiões da França: Rouen, no norte do país, Dijon, a leste, e Marselha e Toulouse, no sul.

Os episódios estão a causar intensa pressão sobre o governo do primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, que está a tentar restaurar a ordem sem excluir as minorias e a população mais pobre.

5 de novembro de 2005 às 10:26  
Anonymous Anónimo said...

CNN

PARIS, France -- French Prime Minister Dominique de Villepin was scheduled to meet with community leaders Saturday as authorities sought ways to halt violence that has struck the Paris area for more than a week
.

De Villepin's meeting coincides with marches in several Paris suburbs that are intended to call for calm.

Friday was the ninth straight night of vandalism that has spread to at least 20 communities among largely immigrant and Muslim populations frustrated by poverty, high unemployment and what they see as discrimination in French society. In some areas, unemployment is 25 percent. (Full story)

The protests began in the Paris suburb of Clichy-sous-Bois, where locals blamed police for the October 27 deaths of two black teenagers, who had climbed a fence surrounding a power station while running from police.

Police denied responsibility, and media reports said a preliminary study of the incident exonerated authorities.

Witnesses in Aulnay-sous-Bois said three TV journalists -- from France 2 -- were insulted and physically attacked on Friday night.

In Meaux, paramedics responding to a call were attacked, and a Molotov cocktail thrown at their ambulance.

Authorities arrested more than 200 people, an unprecedented sweep since the beginning of the unrest, according to The Associated Press.

Bands of youths also burned a nursery school, warehouses and 900 cars were burned Friday night and early Saturday alone, according to media reports, as the violence spread from the restive Paris suburbs to towns around France.

Police said 1,260 cars had been burned since the violence began last week.

An incendiary device was tossed at the wall of a synagogue in Pierrefitte, northwest of Paris, where electricity went out after a burning car damaged an electrical pole, AP reported.

Initially, the rioting was confined to Paris suburbs, but on Thursday night, rioting and car fires were reported as far away as Dijon in southeastern France. Violence was reported Friday night in suburbs north of Paris, in Lille in the north, Toulouse in the southwest and Rouen in Normandy.

The U.S. Embassy in Paris has issued a public announcement warning American travelers about the rioting.

"Although the riots have occurred in areas not normally frequented by U.S. tourists, travelers should be aware that train travel from the Charles de Gaulle Airport to the city center may be disrupted at times, as it passes near the affected area," according to the announcement, dated Friday.

"Travelers could rely instead on airport buses or taxis to downtown Paris. Americans should avoid the affected areas."

On Saturday morning, more than 1,000 people took part in a silent march in one of the worst-hit suburbs, Aulnay-sous-Bois, filing past burned-out cars to demand calm. One banner read: "No to violence."

In addition, religious leaders organized a peace march through the Paris suburbs.

Police and government officials are struggling to restore order, and debates are raging over how to quell the unrest. An additional 2,000 police officers were deployed on streets Thursday night, and the police union called for the assistance of French military.

There have been calls by the Green Party and the Communist Party for French Interior Minister Nicolas Sarkozy to resign, after he called the rioters "scum" earlier in the week -- language that served only to inflame the vandalism.

5 de novembro de 2005 às 13:29  

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