21.11.05

A «guerra civil» nas estradas portuguesas

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Falsos acidentes

I - A propósito do «Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada» (que se comemorou no passado dia 20), gostava de referir que um dos maiores contributos que se podem dar para combater a sinistralidade rodoviária é bem fácil: começar por substituir a palavra «acidente» por outras mais apropriadas, como «sinistro», «desastre», «crime», «suicídio» ou «homicídio» - pois a contribuição dos condutores para o povoamento das morgues, hospitais e sucateiros tem muito pouco de «acidental».

É que é o próprio conceito de «acidente» (por definição «algo de imprevisível») que está em causa.

Se não, vejamos:

Um dia, houve uma chuva de meteoritos. Se um deles me tivesse caído na cabeça indo eu a guiar, não havia dúvida nenhuma: teria sido um VERDADEIRO ACIDENTE. Mas haveria decerto gente que abrandaria só para ver a cena e provocaria uma fila gigantesca e inúmeros choques em cadeia. Poder-se-ia falar, neste segundo caso, de «acidentes»?!

II - Durante muitos meses conduzi na RFA, em cujas auto-estradas não existia limite de velocidade; mas nas outras vias não era assim, e da única vez que excedi o valor permitido (e por muito pouco) fui de imediato mandado parar, paguei a multa em dinheiro-vivo, e nem percebi de onde é que os guardas haviam saído.

Também em Macau (pelo menos quando eu lá estive) a impunidade não era fácil pois, se fosse preciso, as multas ficavam à espera do infractor na IPO, de onde o carro não saía sem que estivessem pagas.

De facto, muito mais importante do que subir o valor das multas (para valores eventualmente astronómicos) é acabar com o sentimento de impunidade, aumentando significativamente a probabilidade de se ser punido em caso de infracção.

Entretanto, por cá, temos até sítios habituais onde as autoridades estão (quem não ouviu já o impensável «Cuidado, que a Guarda costuma estar ali!»?) e muitos dos carros que circulam não-identificados são iguais em marca, modelo e cor. E temos também uma coisa que costuma fazer rir à gargalhada quem nos visita: as incríveis zonas de «Tolerância Zero», verdadeiras «Regiões Demarcadas» onde a lei tem de ser cumprida!

III - No início dos anos 70 houve um instrutor e um examinador que me deram como «apto para conduzir» (mesmo um Ferrari, se o apanhasse à mão) apesar de eu nunca tinha guiado de noite, nem com chuva, nem com nevoeiro nem a mais de 40 à hora. Recentemente, assisti a algumas aulas de condução dadas a um familiar meu: apesar de a escola ser outra, as aulas eram rigorosamente iguais às que eu havia tido... TRINTA ANOS ANTES!

IV - Mas nada disto é novo, e as soluções estão estudadas e mais-do-que-estudadas no mundo todo. O que há - isso sim! - é uma gigantesca falta de vontade política para as pôr em prática.

21 de novembro de 2005 às 21:56  

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