O Herr Müller – 4 (*)
PELO menos no que depender de mim, os pormenores relacionados com o fim da história anterior ficarão para sempre guardados ao abrigo do segredo industrial, com o que evito entrar em detalhes que só serviriam para mostrar como está difícil ganhar a vida.
E foi esse compromisso de silêncio que eu aleguei à D. Rosa quando, no dia seguinte, ela me pediu que lhe contasse tudo o que sucedera.
No entanto, dado que, mesmo assim, não me largava com perguntas, recorri a um truque que com ela funciona sempre:
Perguntei-lhe porque é que não se ia oferecer para fazer a limpeza do casarão do Sr. Müller; pareceu-lhe uma óptima ideia, e, no dia seguinte, lá estava ela – como pouco antes sucedera comigo – às turras com a complicada campainha.
Vim a saber que tudo correra a seu gosto quando, pouco depois, encontrei o Sr. Müller na rua.
No entanto, não se preocupou a explicar-me detalhes das combinações que fizera com a D. Rosa nem tão-pouco abordou o caso dos micro-submarinos (assunto de que, como se compreende, não quero voltar a ouvir falar).
Mas colocou-me uma questão estranha:
- Acha que há muitos aldrabões em Portugal?
Fiquei tão embaraçado com a pergunta (sem saber se lhe havia de responder a verdade ou defender a honra da Nação...), que tentei desviar a conversa para outro assunto.
Mas, com ele, esse expediente não resultava.
Assim, meteu a mão no bolso do sobretudo, tirou dele uma grande quantidade de papelinhos e, quando encontrou aquele que queria, perguntou-me – ao mesmo tempo que consultava qualquer coisa que nele estava escrito:
- A D. Rosa sugeriu-me que instalasse no escritório um... ora deixa-me cá ler o que escrevi... Ah! Um detector de intrujões. Você sabe onde é que isso se compra?
Num ápice, passei mentalmente em revista o que é que podia ter levado a senhora a dizer um disparate desses!
Não era Carnaval, nem 1º de Abril...
E, mesmo que fosse, ela não tinha confiança com o novo patrão para estar com brincadeiras tolas!
Pedi então um minuto, afastei-me um pouco e, discretamente liguei do meu telemóvel para o dela.
E foi quando ele me atendeu (dizendo, na sua pronúncia engraçada - a que nunca me referi - «Estou quage a chegar a caja»), que eu percebi!
A boa senhora limitara-se a sugerir ao Sr. Müller um vulgarísimo «alarme contra intrusões»!
(*) Capítulos anteriores:
1: http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/o-herr-mller-1.html
2 : http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/o-herr-mller-2.html
3: http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/o-herr-mller-3.html
E foi esse compromisso de silêncio que eu aleguei à D. Rosa quando, no dia seguinte, ela me pediu que lhe contasse tudo o que sucedera.
No entanto, dado que, mesmo assim, não me largava com perguntas, recorri a um truque que com ela funciona sempre:
Perguntei-lhe porque é que não se ia oferecer para fazer a limpeza do casarão do Sr. Müller; pareceu-lhe uma óptima ideia, e, no dia seguinte, lá estava ela – como pouco antes sucedera comigo – às turras com a complicada campainha.
Vim a saber que tudo correra a seu gosto quando, pouco depois, encontrei o Sr. Müller na rua.
No entanto, não se preocupou a explicar-me detalhes das combinações que fizera com a D. Rosa nem tão-pouco abordou o caso dos micro-submarinos (assunto de que, como se compreende, não quero voltar a ouvir falar).
Mas colocou-me uma questão estranha:
- Acha que há muitos aldrabões em Portugal?
Fiquei tão embaraçado com a pergunta (sem saber se lhe havia de responder a verdade ou defender a honra da Nação...), que tentei desviar a conversa para outro assunto.
Mas, com ele, esse expediente não resultava.
Assim, meteu a mão no bolso do sobretudo, tirou dele uma grande quantidade de papelinhos e, quando encontrou aquele que queria, perguntou-me – ao mesmo tempo que consultava qualquer coisa que nele estava escrito:
- A D. Rosa sugeriu-me que instalasse no escritório um... ora deixa-me cá ler o que escrevi... Ah! Um detector de intrujões. Você sabe onde é que isso se compra?
Num ápice, passei mentalmente em revista o que é que podia ter levado a senhora a dizer um disparate desses!
Não era Carnaval, nem 1º de Abril...
E, mesmo que fosse, ela não tinha confiança com o novo patrão para estar com brincadeiras tolas!
Pedi então um minuto, afastei-me um pouco e, discretamente liguei do meu telemóvel para o dela.
E foi quando ele me atendeu (dizendo, na sua pronúncia engraçada - a que nunca me referi - «Estou quage a chegar a caja»), que eu percebi!
A boa senhora limitara-se a sugerir ao Sr. Müller um vulgarísimo «alarme contra intrusões»!
(*) Capítulos anteriores:
1: http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/o-herr-mller-1.html
2 : http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/o-herr-mller-2.html
3: http://sorumbatico.blogspot.com/2005/12/o-herr-mller-3.html
1 Comments:
O desenho é de José Abrantes e foi feito para o livro «Jeremias, Consultor», que pode ser lido gratuitamente (em e-book/PDF) em:
www.jeremias.com.pt
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