20.1.06

Ainda acerca do verbo «prever»

Os resolve -"dores"

O AUTOMÓVEL continua rei-e-senhor, em detrimento dos transportes públicos? «Vamos analisar esse problema».

As armas da GNR e da PSP encravam quando são mais necessárias? «Vamos tratar de resolver o problema!»

Décadas de incúria ajudam a tarefa dos fogos na desertificação do país? «Vamos lá ver esse problema...»

Casas clandestinas ocupam abusivamente zonas protegidas e do domínio público? «Vamos então pensar nesse problema...»

E assim por aí fora, em reacções que têm sempre implícito o advérbio «DEPOIS», e que me fazem invariavelmente recordar uma história que comigo se passou:

Em tempos que já lá vão, um administrador de uma empresa disse-me que pretendia contratar um gestor de obras e perguntou-me se eu conhecia alguém que estivesse disponível.
Depois de alguns contactos, consegui desencantar um colega que se mostrou interessado e que me apressei a recomendar recorrendo ao que - pensava eu... - era o melhor argumento em seu favor:
«Ele é óptimo a resolver problemas!».
No entanto, e para minha grande surpresa, o meu interlocutor abanou a cabeça, sorriu, e, com uma paternal palmadinha no ombro, deu-me a seguinte resposta que nunca mais esquecerei:
«Obrigado, meu caro, mas eu não preciso de quem RESOLVA problemas; gente dessa há por aí aos pontapés. Eu preciso é de quem saiba ANTECIPÁ-LOS, para que não cheguem, sequer, a surgir».

E rematou, ao mesmo tempo que me estendia a mão, dando a conversa por encerrada:
«Nunca se esqueça que, nos negócios, como na política, GERIR É PREVER».
Fiquei sem saber o que dizer, mas lembro-me sempre das suas palavras quando ouço pessoas a gabar-se de que são os melhores para resolver os problemas da empresa, do país, ou da autarquia.

Mas o certo é que, pensando bem, talvez estas tenham alguma razão, pois uma empresa de consultadoria estrangeira concluiu, recentemente, que
«os gestores portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam»...

1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Dizia A. Vitorino, na RTP:

«Só me preocupo com os problemas quando aparecem».

20 de janeiro de 2006 às 10:50  

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