Os dois irmãos mercadores
ERA UMA VEZ dois irmãos muito amigos que corriam o país de lés-a-lés, de terra em terra e de feira em feira, numa velha carroça desconjuntada puxada por um burro cego.
Assim que chegavam aos mercados - e ainda antes de os galos cantarem -, punham o pobre animal a pastar, armavam as suas tendas e bancas lado-a-lado e depois, até ao cair da noite, cada um deles se esforçava o melhor que podia para convencer os passantes a gastar o seu dinheiro com os produtos que levavam.
Ora, como ambos vendiam as mesmas mercadorias, os dois irmãos procuravam animar o negócio fingindo fazer concorrência um ao outro, mas o certo é que, enquanto o mais novo, por mais que se esforçasse, pouco ou nada conseguia vender, o mais velho sempre ia fazendo algum dinheiro.
O segredo deste era simples:
Começava por fazer rufar um tambor para juntar algum povo e, uma vez isso conseguido, aclarava a voz com um copo de vinho e bradava, numa voz tonitruante:
- Aproximem-se, senhoras e senhores, meninos e meninas, velhinhos e velhinhas! Venham ver, experimentar e comprar a milagrosa banha-da-cobra acabada de chegar dos desertos da Arábia, ainda quente e embrulhada na pele da foca que o grande Afonso de Albuquerque caçou no cume do Everest na noite do famoso eclipse que provocou o terrível maremoto que afogou Pôncio Pilatos nos mares da China... - etc. etc., numa lenga-lenga infernal que parecia não ter fim, e que ele recitava muito sério enquanto o fôlego lhe durava, fazendo rir toda a gente.
Quanto ao mais novo... limitava-se a aproveitar as pausas que o irmão tinha de fazer para respirar, e apenas dizia, baixinho:
- Aqui também há... Aqui também há...
NOTA: Como se sabe, no PPD/PSD muita gente se queixa que Marques Mendes não está a ser eficaz na oposição ao governo de José Sócrates. Peço desculpa se ofendo alguém, mas não tenho culpa que me tenham feito recordar esta história infantil que aqui fica - e que me contavam quando eu era miúdo e não queria comer a sopa.
Assim que chegavam aos mercados - e ainda antes de os galos cantarem -, punham o pobre animal a pastar, armavam as suas tendas e bancas lado-a-lado e depois, até ao cair da noite, cada um deles se esforçava o melhor que podia para convencer os passantes a gastar o seu dinheiro com os produtos que levavam.
Ora, como ambos vendiam as mesmas mercadorias, os dois irmãos procuravam animar o negócio fingindo fazer concorrência um ao outro, mas o certo é que, enquanto o mais novo, por mais que se esforçasse, pouco ou nada conseguia vender, o mais velho sempre ia fazendo algum dinheiro.
O segredo deste era simples:
Começava por fazer rufar um tambor para juntar algum povo e, uma vez isso conseguido, aclarava a voz com um copo de vinho e bradava, numa voz tonitruante:
- Aproximem-se, senhoras e senhores, meninos e meninas, velhinhos e velhinhas! Venham ver, experimentar e comprar a milagrosa banha-da-cobra acabada de chegar dos desertos da Arábia, ainda quente e embrulhada na pele da foca que o grande Afonso de Albuquerque caçou no cume do Everest na noite do famoso eclipse que provocou o terrível maremoto que afogou Pôncio Pilatos nos mares da China... - etc. etc., numa lenga-lenga infernal que parecia não ter fim, e que ele recitava muito sério enquanto o fôlego lhe durava, fazendo rir toda a gente.
Quanto ao mais novo... limitava-se a aproveitar as pausas que o irmão tinha de fazer para respirar, e apenas dizia, baixinho:
- Aqui também há... Aqui também há...
NOTA: Como se sabe, no PPD/PSD muita gente se queixa que Marques Mendes não está a ser eficaz na oposição ao governo de José Sócrates. Peço desculpa se ofendo alguém, mas não tenho culpa que me tenham feito recordar esta história infantil que aqui fica - e que me contavam quando eu era miúdo e não queria comer a sopa.
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Publicado também no jornal «metro» de 17 Mar 06, numa versão simplificada.
2 Comments:
Eles são muito persuasores, não são?
No meio disto tudo fiquei com pena do burro cego...
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