2.5.06

Os insubstituíveis

A PROPÓSITO da recondução de João Bénard da Costa à frente da Cinemateca Nacional muito se tem falado, ultimamente, de «indispensáveis» e de «insubstituíveis».

O assunto é velho mas, como é interessante, pode (e deve) ser visto para além desse caso concreto.
Gostaria, aliás, de referir uma conversa que em tempos tive com um gestor de topo de uma empresa nacional.

Tratava-se de um engenheiro que estava a poucos anos da reforma e, como era uma pessoa extremamente competente e muito estimada, era frequente que lhe dissessem - em parte por simpatia, e em parte por parecer ser verdade - que não se poderia reformar porque era indispensável à empresa.
Disse-me ele um dia, sorrindo:
- Meu amigo, não o vou maçar com os habituais lugares-comuns de que "não há indispensáveis" e de que "os cemitérios estão cheios de insubstituíveis". Isso já toda a gente sabe. Mas há, de facto, algumas pessoas excepcionais cuja substituição, imposta pela lei da vida, é feita por outras que não são tão boas como elas. Mas não sofra com isso; preocupe-se, antes, com os falsos indispensáveis, os autopromovidos a insubstituíveis - aqueles que, agarrados ao poder, fazem tudo para se eternizarem nos cargos. Quanto a mim, meu caro, tenho bem a noção de que sou muito útil à empresa. Mas o dia em que eu me tornasse, de facto, indispensável, era também o dia em que, de certeza, já estaria a mais na casa...