AZUL CALCIO (*)
Sob o céu azul de Berlim, i azzurri (os azuis transalpinos) venceram les bleus (os azuis gauleses) na roleta do desempate por penalties, após 120 minutos de uma final em que a selecção francesa e, sobretudo, Zidane deram um recital de bola durante a segunda parte e todo o prolongamento. Mas a história do futebol está cheia de vitórias injustas e imprevisíveis – e é precisamente essa imprevisibilidade e capacidade de surpreender os adeptos que ainda hoje mantêm bem vivo o fascínio que o futebol exerce.
Todavia, seria injusto afirmar que a selecção italiana não mereceu o título, tendo em conta a regularidade, a consistência e, até, os lampejos de grande classe que revelou ao longo de todo o campeonato. A Itália é a mãe de quase todo o futebol que se pratica por esse mundo fora, criadora do catenaccio e de todas as tácticas de ferrolho, derivadas e adjacentes, que contaminaram e moldaram o futebol contemporâneo. Sendo certo que as cópias muito raramente têm conseguido ser tão eficazes como o original.
Ainda por cima, a selecção italiana é a única, de entre as 16 que lograram atingir os oitavos-de-final, cujos futebolistas jogam todos em clubes italianos. Só Alemanha e Inglaterra (com dois «estrangeirados» cada), México (com três), Ucrânia (com quatro), Equador (com cinco) e Espanha (com seis) se aproximam, com selecções nacionais que genuinamente representam o futebol que se pratica em cada um dos respectivos países. Todas as outras selecções são «legiões estrangeiras» recrutadas na Europa. A começar pelo Brasil e pela Austrália (21 «estrangeirados» cada), a que se seguem Argentina (20), Gana (19), Suécia e Suiça (17 cada), Portugal (15), França (13) e Holanda (9).
De resto, todo este Euromundial foi dominado por um futebol azul calcio. Com evidente predomínio da organização defensiva sobre o futebol ofensivo, supremacia dos guarda-redes e defesas sobre os atacantes, proliferação de centrocampistas ou médios de todos os tipos (polivalentes, volantes e alas) e raríssimos avançados. Ora, nesta selva de pernas a meio-campo, a selecção italiana, mais do que qualquer outra, demonstrou que tem a paciência dos predadores e a persistência dos vendedores de seguros. Pratica um futebol consistente e paciente, fechado e oportunista, que acaba por fatigar e corroer os adversários. Por isso vai conseguindo tantas vitórias nas pontas finais dos jogos.
De resto, todo este Euromundial foi dominado por um futebol azul calcio. Com evidente predomínio da organização defensiva sobre o futebol ofensivo, supremacia dos guarda-redes e defesas sobre os atacantes, proliferação de centrocampistas ou médios de todos os tipos (polivalentes, volantes e alas) e raríssimos avançados. Ora, nesta selva de pernas a meio-campo, a selecção italiana, mais do que qualquer outra, demonstrou que tem a paciência dos predadores e a persistência dos vendedores de seguros. Pratica um futebol consistente e paciente, fechado e oportunista, que acaba por fatigar e corroer os adversários. Por isso vai conseguindo tantas vitórias nas pontas finais dos jogos.
A selecção portuguesa não foge à regra, mas joga à italiana curta por manifesta carência de avançados tão eficazes como os italianos. Aliás, quando quis jogar aberto, a trabalhar para o bronze, contra a Alemanha, três pedradas do Schwarzeneger prussiano (Sebastian Schweinsteiger), lançadas do meio da rua, bastaram para a arredar do pódio. Claro que a culpa foi da bola (das curvas de trajectória), dos árbitros e das conspirações (a sul-americana e a dos poderosos), como convém a uma vítima que se preza. Mas isto não retira qualquer mérito à saga da selecção de Scolari, que mereceu a menção honrosa que o quarto lugar significa. Parabéns! Sobretudo ao grande jogador que é Figo!
(*) Esta é a habitual crónica das 4ªs-feiras que Alfredo Barroso publica no «DN» e que oferece aos leitores do «Sorumbático» no mesmo dia..
Na versão em papel só saiu no dia seguinte, e não está disponível na Internet.
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