13.11.06

O Regresso aos Bons Velhos Tempos

AS EMPRESAS que vendem telemóveis, serviços de tv, seguros e empréstimos têm de mudar de métodos: o Estado deve regular tudo.
Antes de cada empréstimo ou telemóvel deve exigir-se um atestado da sua junta de freguesia que comprove que o requerente é um bom chefe de família e que não é caloteiro.
Só assim podemos restabelecer os bons hábitos daquele Portugal salazarista pobre, mas honesto e morigerado, em que cada um sabia qual era o seu lugar e as empresas não incomodavam os tribunais com catadupas de dívidas por executar.
É a opinião de um conhecido activista do movimento sindical dos juízes hoje exprimindo as suas opiniões reivindicativas como presidente do Supremo Tribunal de Justiça.
As empresas – mesmo pagando impostos e taxas de justiça – não podem colonizar os tribunais.
Isso não acontecia quando o senhor Conselheiro Noronha do Nascimento entrou para os tribunais e não há nenhuma razão para que hoje aconteça.
Contudo, acontece: e é tão sensato imaginar que pode deixar de acontecer como propor o regresso às carruagens puxadas por cavalos para reduzir os acidentes de viação.
A economia de hoje assenta na massificação do crédito ao consumo e por isso tem que haver um método expedito, ainda que com intervenção judicial, para executar o crédito mal parado. Sem isso a economia não pode funcionar.
O cons. Noronha do Nascimento teria razão se dissesse que a resolução do intolerável atraso das execuções atrasadas não pode caber só aos juízes e que é imperioso que o Governo lhe dê uma qualquer solução.
Também sabemos que o eng. Sócrates (ele lá saberá porquê!) não gosta dos tribunais. Também sabemos que o Dr Alberto Costa tem sido o fiel executor da sua política de não fazer nada.
Recordar que os juízes que foram para a primeira instância dos tribunais administrativo e fiscais formados por um curso próprio e que eram, pela primeira vez em Portugal, juízes com formação especializada estão a abandonar os seus lugares por continuarem com ordenados de estagiários. Quando os atrasos da primeira instância dos tribunais fiscais ultrapassam tudo o que e razoável.
Tudo isto é incontestável. Mas sr. Conselheiro, uma reacção de cariz sindicaleiro a estes flagelos judiciais não vai resolver nada. Aquele Portugal do tempo em que Sr. Conselheiro entrou para magistratura já não existe e não pode ser repristinado.

Adenda: Não tratando do mérito da deliberação, não seria possível dar um curso (elementar) sobre conflitos de interesses a alguns daqueles senhores que votaram contra o indigitado Vice-Procurador geral da República?

J.L. Saldanha Sanches

Crónica publicada no «EXPRESSO» de 11 Nov 06 [PH]

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6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não sucederá, também, que certas empresas, face ao não pagamento do serviço pelo cliente, continuam a fornecê-lo em vez de o interromper?

Julgo que, em muitos casos, é isso que se passa, remetendo depois a cobrança da dívida para os tribunais quando podiam, pura e simplesmente, "ter fechado a torneira" - literalmente, em se tratando de água e gás...

C.R.

13 de novembro de 2006 às 17:52  
Anonymous Anónimo said...

Compreendo perfeitamente o ponto de vista de S. Sanches.

Mas, se é verdade que os tribunais estão afogados em processos de cobrança (quais "cobradores do fraque" pagos pelos contribuintes), também me interrogo se não poderá haver métodos mais expeditos e económicos de evitar a situação.

14 de novembro de 2006 às 10:51  
Anonymous Anónimo said...

Noronha do Nascimento parece ser um bocado (?) vaidoso e embirrento, mas não devemos permitir que esse facto nos impeça de analisar o que ele diz.

Se é verdade (e S. Sanches não contesta isso) que as empresas (privadas ou não) transformaram os tribunais em "cobradores do fraque" pagos pelo Zé (passando a ser regra o que deveria ser excepção), então, se calhar, há que fazer alguma coisa.

E quem é que terá de fazer "essa coisa"?
Os tribunais? As empresas que beneficiam desse serviço de cobranças? Parece bem que não.

Então o que resta?

Ridicularizar Noronha do Nascimento, como S. Sanches faz neste texto, não parece ser a melhor solução.

Ed

14 de novembro de 2006 às 14:26  
Anonymous Anónimo said...

Não são pagos pelo Zé. São pagos, e muito bem, pela taxa chamada imposto de justiça. Se houvesse alguma capacidade de gestão e menos lobbies todo poderosos (juízes, funcionários, advogados) seria uma fonte de receita para o Estado.

J.L. Saldanha Sanches

15 de novembro de 2006 às 18:30  
Anonymous Anónimo said...

Há clientes particulares e entidades públicas e privadas que devem cerca de 20 milhões de euros à Empresa Municipal de Águas do Porto. Contam-se casos em que as facturas da água não são pagas há mais de 20 meses. Até ao final do ano, a empresa dará nova oportunidade aos devedores para colocar as contas em dia. É a terceira vez que o Município lança apelos aos devedores para regularizarem a situação.

(...)
--
http://jn.sapo.pt/2006/11/16/porto/clientes_devem_milhoes_euros_a_aguas.html

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Francamente! A empresa está à espera dos tribunais para fechar as torneiras aos caloteiros?

16 de novembro de 2006 às 13:10  
Anonymous Anónimo said...

Bem... se o estado não consegue garantir a justiça aos cidadãos e às empresas, então a extinção do estado é mesmo o melhor caminho. Pelo menos a poupança seria grande.
Meus senhores, o Estado serve para garantir a ordem e a justiça, sendo que nesta última seria bom também por em prática a redistribuição da riqueza.
Para além disso só estão a atrapalhar!
O que verdadeiramente pornográfico é pagar reformas de 5 ou 6 mil euros aos Srs juizes com dinheiro de taxas de justiça, tão elevadas que o cidadao vulgar fica arredado do acesso à justiça.

22 de novembro de 2006 às 18:05  

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