14.11.06

A TERRA E OS RELÓGIOS

NA ESCOLA, ensina-se que a Terra efectua um movimento de rotação sobre si própria e um movimento de translação em torno do Sol. Diz-se que esses movimentos se efectuam no sentido directo, isto é, contrário ao dos ponteiros do relógio.
Por vezes, apontam-se nomes mais sofisticados. O sentido directo é o sinistrorsum e o indirecto ou retrógrado, o dextrorsum, seguindo os advérbios latinos que significam, respectivamente, «para a esquerda» e «para a direita».

(Fazer duplo-clic no triângulo maior)
São palavras que impressionam... Mas qual será o significado de dizer que se roda «para a esquerda» ou «para a direita»? Se olharmos os ponteiros de um relógio, por exemplo, eles movem-se «para a direita» quando passam em cima, perto das doze horas, e «para a esquerda» quando passam em baixo, perto das seis horas. No Renascimento, foram construídos relógios com ponteiros a mover-se em sentido oposto. Nesses, a numeração das horas começava em baixo, e aí, em baixo, os ponteiros também se deslocavam «da esquerda para a direita», que é o sentido que associamos ao progresso.
Na definição do sentido de rotação falta pois explicar onde se observam a esquerda e a direita.
Mas há algo ainda mais curioso: apenas se pode falar do sentido de rotação dos ponteiros do relógio porque há uma face virada para nós. Os ponteiros vistos por trás, rodam em «sentido contrário ao dos ponteiros do relógio».
Então e os planetas? Não tem qualquer sentido falar sobre o seu sentido de rotação ou translação sem se definir um ponto de vista. Por vezes, ensinam-nos mal. É sempre preciso acrescentar «para um observador situado a norte», ou referência semelhante.
Quando se escondem pressupostos, pode ficar-se com a sensação de ter percebido, mas de facto não se percebeu.

(Adaptado do «EXPRESSO»)

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A designação "movimento de translacção em torno do Sol", apesar de ser a que é geralmente aceite, não me parece correcta.

Por definição, um "movimento de translacção" não é "em torno" de coisa nenhuma, mas sim um movimento em que o corpo se desloca rectilineamente, com todos os seus postos a descreverem trajectórias paralelas.

Certo?

C.R.

14 de novembro de 2006 às 08:46  
Anonymous Anónimo said...

A terra desloca-se em linha recta, o espaço é que está curvo. Foi o sol que o entortou.

14 de novembro de 2006 às 09:29  
Anonymous Anónimo said...

Correcto, mas apenas com um reparo:

A noção do "espaço curvo", que só apareceu com Einstein, não é posterior à expressão "movimento de translação em torno do Sol"?

Digamos, então, que o movimento é "rectilíneo por linhas curvas", uma versão relativista do "(d)escrever direito por linhas tortas"...

C.R.

14 de novembro de 2006 às 12:54  
Anonymous Anónimo said...

Lá que a esquerda é sinistra, não tenho dúvidas ...
JO

14 de novembro de 2006 às 21:40  
Anonymous Anónimo said...

É movimento de translação em oposição a rotação, que é inequívoco. Por acaso é em torno do Sol, mas o importante é que a Terra se move sem ser em torno de um eixo próprio.

É só a minha interpretação.

14 de novembro de 2006 às 23:21  
Anonymous Anónimo said...

Como diz o Nuno Crato, é preciso acrescentar «para um observador situado a norte».
Claro. Um observador situado no espaço exterior, do lado do polo Norte do nosso planeta.
O que era preciso acrescentar era a razão para termos escolhido essa posição de referência e não a oposta.
Talvez porque quem escolhe as referências, a nomenclatura, etc., são aqueles que avançam primeiro no estudo das questões. Estão no seu direito. E quem estudou primeiro e mais profundamente, esta e outras matérias (quase todas) foram os humanos que viviam no hemisfério Norte.
J. Oliveira

15 de novembro de 2006 às 06:10  
Anonymous Anónimo said...

Ainda em relação ao movimento de translação da Terra:

Tendo a trajectória da Terra em torno do Sol qualquer coisa como 1000 milhões de quilómetros, pode considerar-se, numa 1ª aproximação, que durante um curto intervalo de tempo (alguns dias, p. ex.) é rectilíneo.

15 de novembro de 2006 às 12:24  

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