12.12.06

Alfredo Pereira Gomes

NO PASSADO DIA 1 de Dezembro, ao fim da manhã, muitos amigos, familiares e antigos alunos vieram despedir-se de um homem que tinha falecido dois dias antes, na manhã de 29 de Novembro. Foi uma cerimónia de rara dignidade. Poucas terá havido no Cemitério do Alto de S. João em que os elogios fúnebres tivessem referências a Erasmo, ao matemático Grothendieck, ao direito ao erro na criação científica, ao formalismo de Bourbaki e à Análise Harmónica.
O homem que tinha falecido e que nesse dia foi cremado não era também um homem vulgar. Era um matemático a quem Portugal muito deve. Chamava-se Alfredo e era conhecido entre amigos pelas iniciais dos seus últimos nomes: PG. Tinha sido irmão de dois romancistas, Alice Gomes e Soeiro Pereira Gomes, este último autor do conhecido romance «Esteiros». Tinha nascido em 19 de Janeiro de 1919 e estava pois adiantado nos seus 87 anos de idade. Tinha-se doutorado no Porto, onde começara a trabalhar muito cedo. Tinha sido expulso do ensino universitário pelo regime salazarista e tinha sido obrigado a ir para França e depois para a Universidade do Recife, no Brasil. Aí criara o Instituto de Física Matemática, que colocou o Recife no mapa científico internacional. Com a ditadura dos generais, teve de sair do Brasil e voltou a França, tornando-se professor em Nancy. Só na década de 1970 pôde regressar ao nosso país. Aqui desenvolveu uma actividade notável no relançamento da revista «Portugaliae Mathematica», na orientação de estudantes e na reorganização da Sociedade Portuguesa de Matemática, de que era sócio honorário.
Quem nos deixa é uma das últimas figuras da geração matemática dos anos 1940. Um homem com uma vida recheada de experiências e de contribuições para a matemática.
Adaptado do «Expresso»

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