18.12.06

Em defesa dos ressabiados

SEGUNDO VARIADÍSSIMAS CABEÇAS com provas dadas, parece que não se pode acreditar em Carolina Salgado. E não se pode porquê? Porque a Carolina está ressabiada. Há muito tempo que não se via tanta virgem ofendida vir dar gritinhos para a praça protestando contra um livro, já apelidado de "literatura de cordel" e de "pedaço de papel higiénico". Ora, convém colocar algum travão na hipocrisia. A prosa da senhora pode ser deplorável, as suas intenções rasteiras e o seu coração escuro como breu, mas utilizar o argumento moral da ressabiada para desvalorizar as suas confissões é uma idiotice. Por uma razão muito simples: o ressabiamento dorme com a denúncia desde o princípio dos tempos. Movidas pelo ódio, as pessoas denunciam. Denunciam por vingança, por ciúme, por mau perder, denunciam pelos piores sentimentos e pelas mais desagradáveis razões, mas é em cima desse colchão incómodo que repousa quase toda a justiça e boa parte da comunicação social. Quando um envelope chega com documentos comprometedores ou o telefone toca numa redacção, poucas vezes encontrei do outro lado da linha o bom samaritano, disposto a arriscar o seu pescoço em nome do bem, do belo e da verdade. Do outro lado estão o ódio e a raiva, a apontarem o dedo.
A diferença do caso Carolina Salgado é que ela decidiu escrever um livro, procedimento muito comum em Inglaterra ou nos Estados Unidos mas ainda pouco habitual em Portugal. Se em vez de escrever o livro tivesse soprado as informações aos jornalistas a coberto do anonimato não haveria qualquer escândalo. Mas, para o bem e para o mal - para o bem do seu bolso e para o mal da sua reputação -, resolveu dar a cara. Há ainda uma outra diferença: o seu ressabiamento é amoroso, que é o mais violento de todos os ressabiamentos e aquele que a sociedade vê com piores olhos. Mas isso, mais uma vez, é moralismo de paróquia. A senhora Carolina Salgado pode ser a mais miserável e mesquinha das personagens, mas o que está aqui em causa e deve ser averiguado é o que ela diz, e não as razões que a levaram a dizer.
João Miguel Tavares
«DN» de 16 Dez 06 [PH]

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Você percebeu tudo mal.
O grande problema, é que para os benfiquistas e sportinguistas Carolina Salgado passou de Besta a Bestial pelo facto de acusar Pinto da Costa. E há logo a associação ao FCP, como já vi na blogosfera vários comentários de que o FCP devia de ir para a segunda divisão, retirarem-lhe as taças (e darem se calhar ao SCP e SLB, taças dos europeus e UEFA incluidos), mas esquecem-se que o FCP tem tido boas e até excelentes equipas (como o caso da equipa de Mourinho, umas da melhores do mundo na altura, tanto que actualmente. Mourinho e parte substancial da tal equipa estão em grandes clubes).
Se PC é culpado de corrupção(e acredito que sim, pois não é flor que seja), tal como Valentim Loureiro, João Loureiro, Madaíl, Veiga, Vieira e muitos outros tantos.
O que é ridículo é a mentalidade mesquinha e invejosa (sim, os portugueses são muito invejosos) deste pseudo-conflito regional Norte/Sul, de ambas as partes.

18 de dezembro de 2006 às 16:50  
Anonymous Anónimo said...

Não nos esqueçamos que Maria José Morgado meteu na choça o Vale e Azevedo...

Pelo que se conhece dela e de Pinto Monteiro, farão tudo para meter à sombra "artistas" do Norte, do Centro, do Sul, do Leste e do Oeste... - onde já deviam estar há muito tempo!

18 de dezembro de 2006 às 19:53  
Anonymous Anónimo said...

Que este nao seja mais um 'pseudo-mega-processo', onde no final se conclui que toda a corrupção e chantagem era dirigida por um motorista ou sopeira!
Investigue-se e puna-se exemplarmente os faltosos sob pena da maioria dos Portugueses deixar de acreditar na justiça!
Se a justiça nao demonstrar, urgentemente, capacidade, e acima de tudo independência, será o descalabro!
Anseio por um Falconne (sem o fim trágico deste) ou por um Garzón!

18 de dezembro de 2006 às 22:51  

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