Em defesa d’ Os Lusíadas
TEMO QUE A MESMA excitação beata que conduziu Amália ao Panteão, num coro de unanimidade, possa agora levar Os Lusíadas a caminho do ensino básico.
A sua anunciada migração curricular do ensino secundário para o 12.º ano deu origem a uma onda colectiva de indignação de que se fizeram eco Manuel Alegre, do PS, Vasco Graça Moura, do PSD, e o CDS-PP que, na falta de poeta, recorreu ao comunicado. Ficou a pátria posta em desassossego.
Todos, sem excepção, pediram a intervenção de Jorge Sampaio. Temo que, para os acalmar, o Presidente da República exerça a sua magistratura de influência no sentido de se ir ainda mais longe e tornar o poema épico obrigatório para o ensino das primeiras letras.
Como aprecio muito Camões, embora com o pecado de preferir o lírico ao épico, risco que me expõe às fogueiras deste recorrente zelo patriótico, gostava de ver Os Lusíadas servido como deliciosa sobremesa a quem ama e já conhece a língua portuguesa – a partir do 10.º ano. Servido demasiado cedo pode converter-se em aperitivo obrigatório com sabor a óleo de fígado de bacalhau.
Nada pior do que obrigar a ler o que não se compreende para matar o gosto da leitura. Camões não merece ser algoz.
Quando o Professor Cavaco era Primeiro-ministro e na sua contabilidade apenas constavam 9 cantos do poema, ninguém pediu a sua inclusão no ensino superior. Nem Graça Moura se indignou.
Falta cumprir os altos destinos que o vate profetizou para os portugueses. Que pena!
A sua anunciada migração curricular do ensino secundário para o 12.º ano deu origem a uma onda colectiva de indignação de que se fizeram eco Manuel Alegre, do PS, Vasco Graça Moura, do PSD, e o CDS-PP que, na falta de poeta, recorreu ao comunicado. Ficou a pátria posta em desassossego.
Todos, sem excepção, pediram a intervenção de Jorge Sampaio. Temo que, para os acalmar, o Presidente da República exerça a sua magistratura de influência no sentido de se ir ainda mais longe e tornar o poema épico obrigatório para o ensino das primeiras letras.
Como aprecio muito Camões, embora com o pecado de preferir o lírico ao épico, risco que me expõe às fogueiras deste recorrente zelo patriótico, gostava de ver Os Lusíadas servido como deliciosa sobremesa a quem ama e já conhece a língua portuguesa – a partir do 10.º ano. Servido demasiado cedo pode converter-se em aperitivo obrigatório com sabor a óleo de fígado de bacalhau.
Nada pior do que obrigar a ler o que não se compreende para matar o gosto da leitura. Camões não merece ser algoz.
Quando o Professor Cavaco era Primeiro-ministro e na sua contabilidade apenas constavam 9 cantos do poema, ninguém pediu a sua inclusão no ensino superior. Nem Graça Moura se indignou.
Falta cumprir os altos destinos que o vate profetizou para os portugueses. Que pena!
Agosto de 2001
Nota:
O exemplar do meu 5.º ano do liceu passava do oitavo canto para o décimo. Podiam ao menos os censores ter-lhe chamado nono bis ou simplesmente último. Deve ter sido isso que confundiu o Professor Cavaco.
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Do livro «Pedras Soltas», de Carlos Barroco Esperança. Oferta do autor aos leitores deste blogue.
1 Comments:
O meu exemplar dos Lusíadas era completo.
Na cadeira de Português tínhamos uma professora extremamente rigorosa, que impunha uma disciplina de ferro no decorrer da aula. Dava classificações arrasadoras a quem cometesse erros de palmatória, ainda que dissesse maravilhas no resto do teste. Punha na rua sem dó nem piedade qualquer marmanjo que perturbasse o funcionamento da aula.
Em suma, uma excelente professora. Faz parte daquele conjunto de professores, quase todos já falecidos, que recordamos com saudade e aos quais agradecemos a preparação que nos proporcionaram. Obviamente uma professora com aquelas características não tinha problemas em mandar ler na aula as estrofes do Canto IX. Claro que o pessoal estava mais agitado e com vontade de se rir, mas todos tivemos de nos conter. Com aquela senhora, era melhor não arriscar ...
Jorge Oliveira
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