Luzes Sorumbáticas
DIA DE REIS é dia de retirar as luzes da árvore de Natal. Compraram-se por tuta e meia e cumpriram a sua função.
Há muita ciência nas lâmpadas. Muitas delas piscam. O sistema mais moderno de as fazer piscar é um sistema de transístores numa caixa que o fio atravessa. Aí há um cristal que oscila à passagem da corrente — tal como um pêndulo forçado pelo motor de um relógio —, e há minúsculos transístores que transformam a frequência de oscilação do cristal numa outra, mais lenta, que permite que as luzes pisquem a um ritmo perceptível pelos humanos — uma vez por segundo, ou coisa parecida.
Outro processo, mais antigo, de fazer piscar as lampadinhas usa uma delas que tem um contacto com uma lâmina bimetálica por onde a corrente passa. Quando se acende, a lâmpada aquece e o calor dilata de forma diferente os dois metais da lâmina. Esta torce-se e afasta-se do contacto, desligando a corrente. Logo a seguir a lâmina esfria, pois essa lâmpada especial também fica desligada. A lâmina endireita-se e restabelece o contacto. Como todas as lâmpadas estão ligadas em série com esta, todo o sistema se acende e apaga ao ritmo do movimento da lâmina bimetálica de contacto.
Mas há mais nas lâmpadas de Natal. São concebidas para 5V e ligam-se à corrente doméstica de 220V. Se o leitor arrancar uma delas do seu suporte, conseguirá acendê-la com uma ou com duas pilhas de 1,5V. Com uma pilha de 9V pode também acendê-la, mas arrisca-se a fundi-la. Se a ligar directamente à corrente de 220V, então ela aquece tanto que funde mediatamente e pode mesmo explodir. Não o faça, a não ser que se proteja e saiba muito bem no que se está a meter. Mas na árvore nada de perigoso acontece, pois as pequenas lâmpadas estão em série — a corrente atravessa cada delas em sequência, uma a seguir à outra —, e por isso as 50 lâmpadas sobrevivem à corrente doméstica.
O problema da ligação em série é que uma falha de uma lâmpada, interrompendo o circuito, fará com que a corrente não passe por nenhuma das outras, inutilizando todo o sistema. Para evitar esse inconveniente, inventaram-se lâmpadas que têm uma ligação directa entre os dois contactos. Essa ligação oferece uma resistência muito grande e, por isso, quando o filamento da lâmpada está bom, praticamente não passa corrente pela ligação directa. Mas quando o filamento se funde e parte, a corrente passa por ela, aquece a resistência, funde-a quase instantaneamente e liberta um contacto metálico que é bom condutor. A corrente continua a passar pela série de lâmpadas, mesmo com algumas delas inutilizadas. Mas não se pode retirá-las do suporte, apesar de não darem luz. Se o fizer, o circuito não se estabelece e as outras lâmpadas não se acendem. Conserve-as assim para o próximo ano.
E, no próximo ano, quando for altura de as retirar de novo, já sabe: é também dia de mais um aniversário do Sorumbático.
Etiquetas: NC
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home