21.1.07

O rugido do gato

JANEIRO ENTRADO, o CDS e o PP continuam a comportar-se como dois irmãos siameses, unidos, não pela cabeça, mas pela irresponsabilidade.
Se o líder parlamentar, o tal que não se demitia, afinal se demitiu, também é verdade que o fez em termos e circunstâncias que fazem da guerra, que a direcção partidária venceu, não mais do que uma mera batalha. À mesma Comissão Política que exigiu a demissão de Nuno Melo, exigem agora os deputados uma solução "à altura" dele. E a mesma Comissão Política que invocou - e bem - dever um chefe de bancada saber articular os deputados com a direcção do partido teria agora de sugerir um nome capaz de articular a direcção do partido com os deputados.
Isto a três semanas apenas do referendo sobre a IVG, que o partido - aproveitando-se de ser o único a defender oficialmente o "não" - promovera a alfa e ómega da sua estratégia. Se não para o crescimento eleitoral, pelo menos para a contenção da debandada. Se tal estratégia é boa, pouco importa. É a dele. Tal como as colagens incondicionais a Cavaco, que o CDS acredita que o fazem penetrar no eleitorado do PSD e que talvez só o transformem num acervo adquirido do Presidente, esta colagem incondicional à Igreja não promete ser melhor ideia. Porque, seja qual for o resultado do "não", ele será imputado à Igreja, e não ao CDS. E porque os cidadãos se obstinam na convicção de que mais facilmente o CDS será "da Igreja" do que a Igreja será "do CDS". Mas, boa ou má, foi a estratégia que o partido adoptou e é ela a primeira vítima do muito tempo que a guerra interna já fez perder (e mais fará).
A isto acresce o frenesim oposicionista, cuja pressa não consegue esperar pelos vagares da inteligência. Assim, Ribeiro e Castro anunciou, à Pátria e ao Cosmos, que, na próxima legislatura, seja qual for o ponto de situação do projecto da Ota, ele será "parado" - e, en passant, convida o PSD a tomar a mesma posição. O rugido é vistoso, mas o gato não convence. Porque, por muito que o desvaneça o ter regressado, na passada legislatura, ao "arco da governabilidade", esta ameaça de estadista só terá consistência no dia em que o CDS for a "governabilidade" por si mesmo. Até lá, nenhum destinatário da ameaça - a começar no cidadão eleitor - a leva a sério. E o destinatário do convite, o PSD, também não. Porque nenhum de nós hesita a ponderar o convite que nos fazem para tomarmos chá na nossa própria casa.
«DN» - 21 Jan 07

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