2.1.07

A salvação

DESTA VEZ não fui a lado nenhum, nem perto nem longe. Passei o ano a encher a mula, a ver TV de todo o mundo, a deseducar os meus netos e os meus cães e a ler quilos de jornais e revistas.
Aqui estou, barricado, a ouvir corvos de dia e corujas e mochos à noite, até pareceria que estou no Kosovo, se uns melros, de bico amarelo, não trouxessem saudades do Surrey, e lembrassem que estou no Seixal, metendo-me a recitar versos do Guerra Junqueiro.
Ao meter no lixo sacos de tanta prosa, juntamente com caixas de cartão de bolos, azevias e filhós, enterrei duas descobertas. A mais importante é a de que os sonhos se desfazem, ou azedam, em calda de açúcar.
A outra é residual e irrelevante : Ao cabo de quilos de jornais e revistas, apenas se fica ciente de que ainda há quem desconheça a origem dos Labradores, apesar do nome, e quem nos negue o direito de saber onde fica Paragon, o maravilhoso centro tecnológico da MacLaren, de Norman Foster, mesmo escrevendo copiosamente sobre uma coisa e outra.
A salvação está na música, nos livros e nos filmes, ou então onde não se consiga ouvir uma palavra, com o barulho destinado a abanar o capacete!
«25ªHORA» - «24 horas» de 2 Jan 07

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