2.1.07

Surpresas editoriais

QUE HÁ DE MAIS RELEVANTE, em Portugal e em 2006, no panorama da literatura científica? Uma escolha difícil de discutir será «O (Mau) Comportamento dos Mercados: Uma Visão Fractal do Risco, da Ruína e do Rendimento», de Benoit Mandelbrot e de Richard L. Hudson. Saído há dois anos em Nova Iorque, fruto da colaboração entre o célebre matemático Mandelbrot e um competente jornalista, agora editado em Portugal pela Gradiva, este livro revisita o estudo dos mercados financeiros e alguns conceitos essenciais da matemática e da ciência moderna. Ao contrário do que muitos podem pensar, Mandelbrot começou a sua actividade criativa com o estudo matemático dos mercados financeiros. Escrito no estilo típico deste investigador, o livro mistura a descrição de picantes episódios históricos com o esclarecimento do significado cultural de conceitos científicos e com explicações matemáticas.
Depois desta grande obra, é necessário fazer um gigantesco passo atrás no tempo. Recuemos mais de 20 séculos, ao célebre «Tratado de Arquitectura» de Vitrúvio, finalmente publicado em Portugal. Traduzido competentemente por Justino Maciel, com as ilustrações inexcedíveis de Thomas Noble Howe e uma muito cuidada edição da IST Press, temos agora na nossa língua uma obra maior da arte, da cultura e da ciência da Antiguidade. Vitrúvio fala de máquinas, de astronomia, de relógios de sol e das proporções humanas. É preciso lê-lo para perceber a especulação geométrica do célebre desenho vitruviano de Leonardo.
Na história da ciência é necessário falar também da «Intriga Cósmica», de Joshua e Anne-Lee Gilger, publicado pela Aletheia, com descrições fascinantes da revolução astronómica de Kepler. E, já em Portugal, «Gaspar José Marques e a Máquina a Vapor», de Estácio dos Reis, saído pelas Edições Culturais da Marinha.
De autoria igualmente nacional, «O Acaso», de Joaquim Marques de Sá, e chancela da Gradiva, é uma grande surpresa. Finalmente um livro de divulgação português sobre probabilidades e estatística, com alguns dos mais fascinantes paradoxos probabilísticos e algumas das grandes aplicações da estatística moderna. Ainda nesta área, «Cartas a Uma Jovem Matemática» de Ian Stewart, editado pela Relógio D’Água, é uma viagem pelo interior da vida humana, social e cultural dos matemáticos. Boas escolhas não faltam.
Adaptado do «Expresso»

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