Passeio Aleatório
Vale a pena correr à chuva?
Por Nuno Crato
NA ÉPOCA DAS CHUVAS não pensamos muito: andamos protegidos e procuramos manter-nos em locais abrigados. Mas, chegados os aguaceiros ocasionais, hesitamos sempre antes de nos meter à chuva. Corremos? Vale a pena correr? Ou será melhor ir devagar, para não cortar a chuva e para não nos molharmos à frente e dos lados?
Curiosamente, físicos e matemáticos ocuparam-se já deste problema, que é menos trivial do que parece. Para fazer as contas, é necessário assumir alguns pressupostos simplificadores, tais como admitir que a chuva cai na vertical e que o nosso corpo funciona como um sólido rígido. Se tivermos de andar à chuva um tempo x fixo, quanto mais devagar formos, melhor. Parados é mesmo o ideal: apanhamos a mesma chuva no toutiço, mas não nos molhamos dos lados. Só que isso não é muito realista, pois habitualmente queremos ir de A para B e não estar um tempo fixo à chuva. O problema então é saber qual a maneira de menos nos molharmos no percurso. Feitas as contas, verifica-se que a quantidade de água que nos cai em cima é directamente proporcional ao tempo que estamos à chuva, pelo que, para poupar o penteado, o melhor é correr como um atleta. Mas a chuva que cortamos com o corpo depende da velocidade a que nos movemos. Quanto mais depressa formos maior o ritmo a que a chuva nos molha pela frente. Mas também menos tempo estamos a ser molhados...
Feitas as contas, e há quem as tenha feito e publicado, a matemática diz-nos que é indiferente. É muito curioso. Ao fazermos um determinado percurso, cortamos sempre a mesma quantidade de água e ficamos sempre igualmente molhados no corpo. O problema está na cabeça e nos ombros. O melhor é correr.
Adaptado do «Expresso»
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5 Comments:
Será que esses matemáticos tiveram em conta que, quando corremos á chuva, inclinamos o tronco para a frente, de modo a que a chuva continue só a cair no toutiço e numa parte das pernas?
Quanto á ideia de ir o mais devagar possível, não faz qualquer sentido, a água que cai na cabeça e nos ombros vai acabar por escorrer para o resto do corpo.
Acho que o instinto neste caso supera as contas, todos nós corremos á chuva com o corpo inclinado para a frente, milhões de anos de evolução ensinaram-nos.
Discordo do Manuel.
Se usasse sapatos de salto (mais ou menos alto, não importa para o caso), veria que nós, mulheres, em Lisboa, quando chove, CORREMOS MARCHANDO À CHUVA COM O CORPO INCLINADO PARA TRÁS, saltitando de poça em poça e encharcando os pés na água castanha das obras da capital.
É que os saltos, altos ou não, enfiam-se e prendem-se na calçada portuguesa, que é linda mas muito pouco prática!
Ainda na Quinta-feira passada me encharquei da cabeça aos pés e de pouco me serviu o chapéu de chuva fantástico da Samsonite! Era uma chuva-molha-parvos e não me bastou correr! Tive de correr a marchar, erguendo os joelhos!!... COM O CORPO INCLINADO PARA TRÁS!!!
E eu corro à chuva. Normalmente. Auf!...
Esta dos saltos altos está bem vista. Cá p´ra mim foram os matemáticos que os inventaram, para tornar as contas só acessíveis a alguns génios.
Supondo as tais simplificações, o resultado surpreendeu-me, pois o caso-limite de uma deslocação extremamente lenta (a quantidade de agua tende para infinito) parece-me pior que os outros casos, nomeadamente o caso da deslocação extremamente rápida (a quantidade de água tende para um valor limitado).
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