14.8.07

PASSEIO ALEATÓRIO

Falar com números
Por Nuno Crato
NA SEMANA PASSADA falámos de um estudo publicado na revista «Science». Nele se discutia o papel da preparação pré-universitária para a boa conclusão dos estudos superiores nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, a única disciplina que tem efeitos positivos cruzados, isto é, em que uma melhor preparação nela facilita os estudos noutras disciplinas, é a Matemática.
O trabalho é muito complexo, os resultados serão debatíveis com novos dados e novas pesquisas, mas o número de casos analisados é brutal. Nem de outra forma seria possível um estudo estatístico de regressão em que variáveis também decisivas, como o professor, o estrato social e a escola pudessem ser controladas.
Foram escolhidas 77 universidades, foi conseguida a ajuda de 122 professores e a amostra incluiu 8474 estudantes. Foram conseguidos dados comparáveis ao longo de vários anos. O ciclo de estudos no Ensino Secundário norte-americano (high-school), por exemplo, inclui Biologia, Química e Física, nesta ordem, constituindo uma sequência que essencialmente se mantém desde 1890.
As notas podem ser comparadas, pois existe desde 1921 um sistema de avaliação externo independente que afere os conhecimentos dos alunos à saída do Secundário e que produz, sobretudo a partir de 1941, resultados que são comparáveis de ano para ano e de escola para escola. Assim, por exemplo, um resultado a Química em 1970 de um aluno da Califórnia, pode-se comparar com um de 2007 em Nova Iorque.
Quando soubermos fazer o mesmo — e à nossa escala será mais fácil —, poderemos falar com propriedade do que se passa com o nosso ensino e do que são progressos e retrocessos.
«Expresso» de 11 de Agosto de 2007

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