12.8.07

MAFOMA E O TOUCINHO

Por Nuno Brederode Santos
ENTRE AS BRUMAS NOTICIOSAS do Verão, vamos cruzando o duelo pirotécnico das próximas "directas" do PSD. Segundo a imprensa, a guerra vai já nas mensagens de telemóvel e Luís Filipe Menezes acompanha a Volta a Portugal em bicicleta. Óptimo. Como a felicidade só existe na sua versão mais simples, é bom que cada um faça aquilo de que gosta. Mas o último incidente digno de registo foi uma entrevista de Paula Teixeira da Cruz, na qual profetiza, para um hipotético cenário de vitória de Menezes, uma "debandada das elites do partido". O visado encarregou da resposta o presidente da Câmara de Ílhavo e seu porta-voz, Ribau Esteves: "Essas elites já deixaram o partido, ao não votarem no PSD nas eleições de Lisboa, ao não trabalharem para ganharmos relevância ao nível das sondagens e ao não permitirem que a liderança do PSD tenha uma notoriedade pública mais forte."
Havia margem para pedidos de esclarecimento a Paula Teixeira da Cruz. Designadamente, a que "elites" se refere e em que consiste, no caso, uma "debandada". Por mim, tomei as "elites" como não circunscritas aos barões, com cartão de militante e quotas em dia, mas como extensíveis aos companheiros de jornada sem filiação partidária. São profissionais, gestores e outros - por vezes competentes, outras vezes "administradores das fábricas do sogro" (na sugestiva fórmula de Ferreira Fernandes) - que hipotecaram as carreiras à sorte do partido nas urnas. Quando ele ganha, devotam algum tempo à causa pública, mas saem dela promovidos na vida profissional. Quando ele perde, furtam-se à espera solitária e aos solilóquios tristes dos homens do aparelho e entretêm-se a esperar, no conforto do sucesso já conseguido, por nova oportunidade. São talvez vocações cívicas condicionadas, moderadas pelas realidades da vida. Mas são as que há. Quanto à "debandada", tomei-a como afastamento e omissão, sem necessariamente terem de genuflectir na praça pública e, entre cóleras e desagravos, rasgar a camisa e o cartão.
Menezes sabe que, nestes sentidos, a debandada das elites é mais do que plausível. De resto, se o alinhamento táctico de "cavaquistas" e "barrosistas" com Marques Mendes é um facto, também o é que ele próprio não recusou nem recusa barão algum que lhe queira dar o seu apoio. Porque, longe dos falsos moralismos que as câmaras de televisão e as entrevistas aos jornais propiciam, ele sabe também que o partido - um partido - é a única máquina de assalto ao poder com alvará. E tais elites afastam-se na exacta medida em que o poder está afastado. Marques Mendes não pôde contar com mais do que uma complacência distante por parte dessas elites. Serviu para derrubar o populismo de Santana Lopes, mas não chegou para dar rosto e voz aos sonhadores do regresso a S. Bento. Tergiversou, hesitou e cedeu. E deixou-se enredar no taco-a-taco das iniciativas do Governo, não tendo sido capaz de seguir uma agenda da oposição. Em suma, não criou esperança. Mas não ensombrou o futuro, como Menezes, cuja assombrosa imprevisibilidade se tornou na única garantia adquirida. Ninguém sabe se, aos seus olhos, o partido continua ou não aleivosamente infiltrado por "sulistas, elitistas e liberais" e se a sua ambição não é entregá-lo a nortistas, populistas e intervencionistas. Ou se foi bom apoiar Cavaco ou se teria sido melhor Marcelo Rebelo de Sousa. Se o Tribunal Constitucional ainda é para extinguir. Se um grupo parlamentar totalmente escolhido pelas distritais é a melhor garantia de um bom grupo parlamentar. Se a nossa referência europeia é Sarkozy. Se Marques Mendes estará longe da história e da alma do partido, caso, na noite da hipotética vitória, não vá celebrar à Cova da Moura.
Desde há muito que critico a liderança de Marques Mendes. E não espero melhorar a compostura. Mas ao menos sei que o campeonato em que ele joga é o mesmo que o dos seus adversários. Já de Menezes, politicamente, penso o que Mafoma não disse do toucinho.
É como preferir o Lula, com todos os seus possíveis defeitos, ao Chávez, com todas as suas possíveis virtudes.
«DN» de 12 de Agosto de 2007

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostava de deixar aqui uma mensagem para o NBS. Ele deve ser mais ou menos da minha idade (61) e talvez se recorde de uma velha anedota dos tempos da PIDE, que contava a história de um homem que denunciava comunistas. Ao denunciar o primeiro recebeu uma recompensa de cinquenta escudos. Naqueles tempos era uma pipa de massa. Encorajado, dias depois denunciou um segundo comunista e voltou a receber um prémio de cinquenta escudos. Verdadeiramente empolgado com as recompensas, alguns dias depois denunciou um terceiro comunista. Já não houve prémio. Foi dentro ! Porque afinal conhecia comunistas demais...
Jorge Oliveira

12 de agosto de 2007 às 13:46  
Blogger R. da Cunha said...

Essa de misturar Mafoma, toucinho e Menezes não lembraria ao "nosso" Diabo!

12 de agosto de 2007 às 21:35  

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