Eles estão doidos!
Por António Barreto
A MEIA DÚZIA DE LAVRADORES que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da “fast food”, para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e “petiscos”, a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A SOLUÇÃO FINAL vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
EM FRENTE À FACULDADE onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
AS REGRAS, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta “produto não válido”, mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
TUDO ISTO, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro.
«Retrato da Semana» - «Público» de 25 de Novembro de 2007
-Actualização (6 Dez 07): esta crónica continua [aqui]/ CMR
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40 Comments:
Julgo que não devíamos perder de vista que os doidos são os legisladores que tais pérolas produzem, e não tanto - como por vezes se diz - a ASAE.
Imagino que esta apenas executa as ordens que lhe dão, fazendo cumprir leis e regulamentos elaborados por burocratas lunático-tontos - facto a que ela, ASAE, deve ser alheia.
Concordo completamente com C. Medina Ribeiro (e com António Barreto, evidentemente). Comentei também n'A Baixa do Porto.
Muitas vezes, também nos insurgimos contra decisões de tribunais que (vem-se depois a saber) mais não fazem do que aplicar legislação existente.
Da mesma forma, muita gente se insurge contra a ASAE (porque é a face visível do ABSURDO) e não contra quem fez os regulamentos que ela faz aplicar.
Será bom não se disparar contra o alvo errado.
Sugestão: www.NÃO.net ou www.NÃO.com (com til).
Este mundo em que nos obrigam a viver vai ficando cada vez mais depressivo.
Acho que ou António Barreto encurtou a lista ou os Big-broda-legisladores estão a esquecer uma área importante:
a prática do sexo.
Convido-vos a imaginar apenas.
Nem me atrevo a dar as mais ridículas sugestões, por receio que sejam tomadas a sério e adoptadas por estes
Micróbios da cólera! Bexigosos! Piratas! Cáfila de marinheiros de água doce! Anacolutos!
Ainda não se lembraram de talheres esterelizados, embrulhados individualmente e de utilização única.
Quanto ao pessoal da ASAE, não terá direito a apelar à objecção de consciência?
Felizmente isto passa-se em Portugal onde as leis são sempre sofismadas, ignoradas ou distorcidas. Mas neste país à beira mar plantado, (com licença de que Ministério (Marinha?, Agricultura?) existem já numerosos cumpridores.... Desobedientes de todos os países, uni-vos.Só temos a perder batatas normalizadas!
keating@netcabo.pt
Concordo na totalidade com a abordagem que fazem. Não resisti a também partilhá-la no blog onde pontualmente intervenho
www.memorialdolamento.blogs.sapo.pt
Saudações, antonio
Se a reaccionarice desse um Nobel, Barreto tinha dois. Quem não entende o dever da protecção à saúde pública, porque vive na patética nostalgia de um mundo de primarismo, porque os seus filhos tiveram a sorte de não apanhar uma septicémia ou uma intoxicação alimentar, é contra a ASAE. Quem não quer viver num mundo limpo, com lojas respeitadoras de uma cultura de limpeza, com defesa dos direitos dos consumidores, emigra para o Ruanda. Ou, então, vai de volta para a Suíça, onde as exigências da modernidade não devem ser menores. Só espero que a ASAE tenha um dia licença para nos libertar do lixo do cepticismo dos Barretos, Valentes & Mónicas.
Passei 15 anos da minha vida em Paris,nos anos setenta frequentava o café-de la gare,um café teatro criado a partir de uma oficina de mecânica cujas obras de construção civil foram efectuadas pelos próprios artistas,hoje ainda existe e é subsidiado pelo estado, foi a partir deste espaço que saíram grandes nomes do panorama cultural francês inclusivé um compatriota nosso de nome Lúis Rego,não tenho dúvida se a asae lá fosse era encerramento certo. O que se está a passar é absolutamente humilhante para Portugal.
A tasca aqui do lado sempre impecávelmente limpa está fechada,os proprietários desistiram ,hoje as exigências do estado são de tal ordem que está a por em causa a sobrevivência de dezenas de milhares de pequenos comerciantes a asae é só mais um prego para o caixão,o fundamentalisto e arrogância desta polícia é apenas a expressão das mentalidades burocráticas e fascizantes que ainda habitam em certas cabeças que infelismente governam este país,nós não estamos na Suíça,nós somos um país pobre,existem centenas de milhares de reformados e de idosos sem família que só tem as pequenas tascas para comerem uma refeição a preços razoáveis quando se fizer a história destas politicas veremos que elas foram contraproducentes.
É frequente alguma confusão entre a acção da ASAE (em si mesma meritória, quanto mais não seja por ser uma autoridade que faz o seu dever - contrastando com tantas outras, adeptas das "leis da treta") e os regulamentos (muitas vezes delirantes, como os que são referidos neste texto) que ela faz cumprir.
Este debate só faz sentido se não se confundirem as duas coisas.
Eu sei que é preciso (e justíssimo!) multar quem usa colheres de pau, mas não se arranjará um tempinho para incomodar (nem que seja ao de leve e uma vez na vida...) os criminosos que poluem o Alviela e a Ribeira dos Milagres? E os que continuam a encher o país de construções clandestinas?
Acontece que eu sou um cidadão urbano mas com grande ligação "à terrinha". Ainda ontem trouxe o carro cheio (sem guia de transporte, aliás) uma sacada de couves, 2 dúzias de ovos, 4 garrafões de água-pé, 2 de azeite, tanjas e limões, louro, cebolas, 3 chouriços e... não coube mais nada.
Agora vou cometer a monstruosidade de dar esses alimentos aos meus filhos e mesmo a uns incautos amigos que lá vão jantar a casa esta semana.
Com tal falta de higiene pode a qualquer momento entrar a ASAE lá em casa, de modos que já tratei de esconder debaixo da cama este material contrabandeado. Mas posso sempre ser apanhado; aliás, esta confissão pública do crime cometido só pode mesmo ser compreendida pelo facto de estar já terrívelmente conspurcado pelos alimentos que criminosamente insisto em consumir...
Só me resta pedir ao leitores do blog que não me denunciem. Ah!, e que não me venham pedir sequer um raminho de salsa porque podem ficar dementes assim como eu.
Nem oito, nem oitenta. Eu, já o tenho escrito, apoio a ASAE, que está a cumprir as competências que lhe atribuiram. O problema está, como muito bem diz CMR, nos diversos "legisladores", que parece não distinguirem o essencial do acessório. É um fanatismo bacoco. E um dia não quererão saber se na minha cozinha há uma colher de pau? E se a encontrarem terei que denunciar quem ma vendeu? E se tiver sido eu próprio a manufacturá-la, pago uma coima (detesto este termo!)? Falando nisso: até há poucos dias não havia sido julgado nenhum caso, nem havia sido paga qualquer coima, segundo a própria ASAE. Melhor fazer greve às inspecções.
É claro que a ASAE faz falta, e é claro que só lhe fica bem fazer cumprir as leis que estão em vigor.
Estas é que podem ser idiotas, e são-no muitas vezes. Lembram-se de quando a comissão Europeia quis proibir a França de produzir Camembert de leite cru? O Príncipe Carlos lá interveio para impedir a tolice e granjeou com isso a gratidão de milhões de europeus, entre os quais este vosso criado.
Tremo só de pensar o que Bruxelas voltar a sua atenção para a francesinha. Sem um Príncipe Carlos que a defenda, vai desaparecer das cervejarias tripeiras. E depois? Vamos comer croque-monsieur, como na Bélgica? Mais vale beber a cerveja com o estômago vazio, se ainda deixarem tirar cerveja à pressão.
Mas chateiem Bruxelas. E chateiem o nosso governo por não refilar como devia. Não chateiem a ASAE, por favor, que essa só está a cumprir o seu dever.
Proponho aos legisladores que apontem uma normativa às bombas de gasolina - afixação bem visível de frases que especifiquem que o petróleo causa a morte das pessoas e do planeta; só desta forma deixarei de fumar. Eeee, já agora,ainda não perceberam que se está a cumprir aquilo que na década de 60 julgávamos ser ficção científica? A saber: "Triunfo dos Porcos" e ainda "O Admirável Mundo Novo". Não se esqueçam ainda que o destino respondeu às normalizações ou globalizações (como queiram!) com o desmembramento e uma nova realidade. Estamos mesmo em cima do momento,daí os absurdos, as incongruências, as mudanças diárias, a narcotização mediática sob o signo da desgraça ou do espectacular e sobretudo a presença constante do aniquilamento selectivo de modos de vida legítimos (antigamente). Está nas nossas mãos mudar, ou...,foi só no 25 de Abril que o Povo conseguiu gritar. Não esqueçamos que à altura ele (o povo) tinha as costas aquecidas pelas forças armadas. E agora? Não se lembram da Maria da Fonte, de Aljubarrota e dos tomates (perdoem a brejeirice e o hipotético machismo) que tivemos em nos fazer ao mar?
Assinado: "desculpem lá qualquer coisinha, mas é só olhar à volta!"
... e que diremos quando chegar a vez de não podermos preparar a nossa própria alimentação num parque de campismo?...
Acabaram-se as transgressões. Tudo normalizado e dentro da linha.
Foda-se que agora são as coisas. Um dia destes é o nosso bigode e indumentária.
Manual de como fazer autómatos!
Não sei o que se passa no resto do país, mas em Lisboa vejo gente preocupada com o fumo nos restaurantes mas que aspira (indiferente ou até deliciada!), a poluição da Av. da Liberdade.
E vejo quem sofra só com a ideia de ver castanhas embrulhadas em folhas de listas telefónicas, e nem ligue à vergonha que são as ruas da capital pejadas de folhas de jornais ou de caca de cão...
O comentário de QUE MIL ASAES FLORESÇAM ! é o género de comentário que não acrescenta nada a uma discussão. O que se discute não é a fiscalização das condições de higiene, mas sim o exagero da uniformização. Não me parece que por consumir limões e castanhas dos meus terrenos corra o risco de uma septicémia. Muito embora os burocratas acreditem que não conseguimos zelar pela nossa saúde, o facto é que todos temos conhecimentos e base para podermos decidir. No meu caso sei que aquelas árvores estão de boa saúde porque zelo por isso, mas quem são eles para me proibirem de jantar num restaurante onde em vez de se preocuparem com o corte no. 3 do fiambre 5 às 17h30 do dia 26/11/07 pelo funcionário X os donos se preocupem connosco e com a comida que servem?
Não protestem contra a PIDE estes só fazem o seu dever... hmm
I want my old world back!
I want back a world with harmless germs where children grow immune to diseases of hyper-civilization. I want back a world in which bread lasts for more than two days. I want back charcoaled chestnuts that leave stains of ash in your teeth. And yes, I want my coffee in porcelain cups, please! Can't they see that plastic cups are an environmental hazzard?
I want taste back!
Thank you for this text!
"QUE MIL ASAES FLORESÇAM ! said...
...
Só espero que a ASAE tenha um dia licença para nos libertar do lixo do cepticismo dos Barretos, Valentes & Mónicas.
Novembro 26, 2007 9:17 PM"
Penso que 1 dia há-de ter... quando já só habitarem em Portugal pessoas com a tua inteligência. Fica pois descansado.
pois ... mas quem cria e aprova essa legislacao asfixiante e insultuosa sao os nossos representantes, por nos eleitos, e quem a promulga e o nosso representante, por nos eleito, ... e viva esta "democracia" ...
Plataforma Transgénicos Fora
Comunicado
2007/11/28
Hipocrisia em forma de lei
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA CRIA SEGURO DE
PROTECÇÃO ÀS CULTURAS DE MILHO TRANSGÉNICO
Foi hoje publicado o Decreto-Lei 387/2007
relativo ao Fundo de Compensação destinado a
indemnizar danos económicos causados pelo cultivo
de milho transgénico. O governo português
reconhece assim formalmente que a introdução de
variedades geneticamente modificadas pode levar à
contaminação da agricultura portuguesa, e que
essa contaminação acarreta prejuízos concretos.
No entanto, a letra da lei falha redondamente o
espírito da lei e o 387/2007, em vez de garantir
protecção efectiva e integral às vítimas da
contaminação, redefine prejuízo económico por
forma a excluir quase todos os casos possíveis.
Com efeito, e de acordo com este Decreto-Lei, não
há direito legal a indemnização via Fundo de
Compensação se:
- o terreno contaminante e contaminado
distarem mais de 200 metros [muito embora a
investigação do governo ter já encontrado
contaminação de 1,4% a 250 metros];
- o produtor prejudicado cultivar
variedades regionais [muito embora estas
constituam o nosso mais precioso património
agrícola];
- a contaminação estiver abaixo de 0,9%
[muito embora todos os produtores biológicos e
alguns convencionais percam certificação e/ou
contratos mesmo com contaminações inferiores];
- a descoberta da contaminação acontecer depois de 31 de Dezembro;
- não for possível demonstrar a perda de
contrato, ou seja, se a contaminação for
detectada antes de o contrato ter sido acordado;
- o prejudicado for um apicultor, cuja
exportação ou venda de mel seja cancelada devido
à presença de pólen transgénico;
- a contaminação for devida a más
práticas de quem cultivou milho transgénico.
Para além dos casos evidentes de prejuízo não
contemplados neste Decreto-Lei existe também um
enviesamento marcado a favor da engenharia
genética e das sementes contaminantes:
- a ANSEME, Associação Nacional dos
Productores e Comerciantes de Sementes,
representa as empresas que vendem as sementes
transgénicas e como tal é parte interessada em
todos os processos e queixas que envolvam os seus
produtos... mas, em flagrante conflito de
interesses, a ANSEME vai fazer parte do Grupo de
Avaliação que ajuizará e atribuirá indemnizações;
- esse mesmo Grupo de Avaliação não
inclui qualquer representante da fileira da
agricultura biológica, a primeira e mais imediata
vítima da contaminação, nem da sociedade civil,
muito embora inclua a indústria alimentar e de
rações;
- hectare por hectare, a taxa a cobrar
aos utilizadores de transgénicos (4 euros por
hectare) vai ser frequentemente muito inferior à
taxa que os produtores vitimados terão de pagar
só para que a sua queixa possa dar entrada e ser
considerada (que é de 100 euros por cada pedido);
- mesmo que a queixa seja atendida, o
Decreto-Lei não garante que o produtor receba
toda a compensação a que tem direito uma vez que
a indemnização efectiva depende dos fundos
disponíveis em cada ano;
- o preço das análises exigidas é muito
elevado (pode rondar os 450 euros por amostra,
fora o custo da deslocação e amostragem) e, no
caso de a queixa ser indeferida, não é ressarcido;
- para pequenos produtores, de dimensão
familiar, o investimento em planos regulares de
monitorização de contaminação e processos de
queixa quando essa contaminação se verifique é
simplesmente incomportável e impede qualquer
tentativa de busca da compensação;
- quando variedades regionais aparecerem
contaminadas não está prevista qualquer medida de
descontaminaçã o ou protecção do germoplasma
nacional.
A machadada final nas expectativas que poderiam
existir em torno deste Fundo de Compensação está
na exigência de que os queixosos prescindam de
qualquer outro modo de compensação financeira.
Esta medida efectivamente representa um seguro de
protecção às actividades da indústria da
engenharia genética em Portugal, que assim recebe
garantias de que, qualquer que seja a extensão do
prejuízo, nunca receberá a factura real e apenas
pagará os simbólicos 4 euros por hectare.
De notar que, para o caso de 2007 em que foram
cultivados 4263 hectares de milho transgénico, o
Fundo de Compensação receberia 17 052 euros. Este
valor não é suficiente sequer para cobrir o custo
de 40 análises, fora o prejuízo propriamente dito
da desvalorização efectiva da produção, e não se
prevê qualquer mecanismo para aumento da taxa que
o financia.
O Decreto-Lei 387/2007 permite ao governo e à
indústria uma última ironia: afirmar, dentro de
pouco anos, que o cultivo de milho transgénico em
Portugal é um sucesso na medida em que o Fundo de
Compensação não está a ser utilizado.
Infelizmente conhecem-se desde já as razões dessa
não utilização.
Desobediência Civil já não me parece suficiente!
Excelente artigo!
Pois, pois, essa de se "limitarem" a cumprir ordens já re tb no tempo do Hitler! Bolas, isso de cumprir ordens não iliba as pessoas! Concordo que há que por ordem "higiénica" em mtas situações,mas não me parece que esta seja a forma mais inteligente nem tão pouco eficaz
Espanta-me tanta contestação a uma regulação que tanta falta fazia ao sector da restauração; talvez por falta de conhecimentos no sector ou mesmo por contaminante saudosismo provocaório tantos comentadores de tão distinto blog cairam na tentação de mais uma vez preferir o subjectivo ao objectico e de fazerem afirmações tão delirantes como por exemplo nas comparações Pidescas ou na extrapolação (até com piada) do fenómeno da conspiração colectiva..o ELES do sistema (serão os mesmos ELES do futebol?)que em cada esquina cospiram e congeminam estratégias para NOS tramarem. (E agora um grande LOL)Pessoalmente, e cidadão experimentado nestas coisas de regulamentações
refiro apenas o seguinte:
Porugal não se conseguiu adaptar e trazer para a restauração e afins (a primeira objecto de orgulho nacional com o pastel de nata, a segunda nem por isso)um nívél de qualidade suficiente ( suficiente fico-me pelo sanitáriamente suficiente, o resto nem comento no que para ai andava em cada botequim de esquina) e necessário para criar uma actividade REGULAMENTADA que se inserisse dentro do panorama contributivo e legal das demais, espanta-me assim como tantos cidadão atacam tudo e todos por finalmente se tentar trazer ao sector ORDEM quando o caos era rei e o tóxico omnipresente.
Meus amigos, como em todo o resto quem tem unhas toca guitarra, se a legislação está exageradamente regulada?
Não existem duvidas no meu espirito que todos os que aqui escreveram tão proveitosos comentários o voltariam a escrever se a legislação peca-se por defeito.
Haja lei.
Apenas mais uma nota:
Caros comentadores esclarecidos,
E quando um seu conhecido for parar as urgências de um hospital com um soldadinho em latão entalado na garganta depois de uma trinca num qualquer Bolo Rei de feira?
Ahhhh...demagogia como és util...
Esses senhores legisladores vão ter que ser sujeitos às suas decisões para perceberem a barbaridade do que pretendem.... se é que percebem.....
Acho bem que existam regras, mas isto é um absurdo. Para já a abordagem do "medo" com que se levantam os problemas de saúde é errada. Já assisti a uma formação de higiéne e segurança alimentar onde alarmam as pessoas com potênciais riscos de saúde (Ex: envenenamento por arsénico através da água), cuja probabilidade é tão infinitésimal (e incontrolável por parte dum estabelecimento), que mais parece que atiram areia para os olhos para justificar todos estes "organismos" fiscalizadores e formadores. Não tenho dúvida que os profissionais do ramo querem aprender e melhorar, mas não os façam perder tempo com a probabilidade do cliente numa esplanada ser atingido por um meteorito... É precisamente com base nesta "estratégia do medo" que se justificam as guerras que há no mundo. Não vamos por aí. Qualquer dia entramos num café e ficamos 15 minutos à espera de ser atendidos, por um funcionário mais preocupado com as medições e anotações das temperaturas, que em bem servir os clientes. É um exagero impraticável a quantidade de regras e procedimentos que se impôem. Mas existe alguma estatística alarmante das pessoas que morreram após entrarem num café? Todos os dias convivemos com o risco e aceitamos isso ao tomar banho (escorregadela e bang on the head bye-bye), atravessar a estrada, conduzirmos um veículo na estrada, comer um bolo-rei (desculpe lá Sr. João Castanhinha, mas essa do soldadinho de latão deixou-me cheio de medo...). Vamos deixar de sair de casa?
E só para terminar: ainda este ano visitei algumas cidades europeias em Espanha e Itália e achei os nossos cafés e a nossa capital mais asseados, higiénicos e tristes. Em contrapartida os nossos congéneres europeus são mais felizes e trabalham mais para o cliente...
O nosso país está a perder a graça...
Vamos passar a andar bem desinfectados (o que ainda ninguém provou que é o melhor para a nossa saúde!) e com mais lixo plástico para tratar ou esconder onde ninguém veja. Não gosto nada de ir a um café e para beber um copo de água, usar um copo de plástico que segue para o lixo, em nome da "saúde pública", da preguiça de lavar copos de vidro ou das indústrias que fazem os copos?!? Agora passará a ser geral?!!
Alguém votou nestes loucos. Se calhar é este tipo de situação que nós Portugueses necessitamos para sair da letargia e dizer...BASTA!
Somos um pequeno país, pobre mas com um historial rico e costumes brandos. Somos diferentes de tantos outros e assim acabamos por perder grande parte da "nossa magia". Há que proteger e publicitar a diferença, tornar aquilo que nos torna diferentes uma mais valia lá fora. Isso é responsabilidade dos nossos governantes. Não foram eleitos para destruirem a Cultura e a rica História do nosso Portugal.
Conheço centenas de visitantes estrangeiros que adoram estar e visitar Portugal. Do que mais gostam é precisamente destes aspectos que vão deixar de usufruir!
Há muito espaço para viver entre os oito e os oitenta.
É simplesmente lamentável continuarmos a votar nestes políticos oportunistas de trazer por casa, apenas preocupados neles próprios e pouco ou nada no Portugal que é deles e de todos nós.
Mas só eu (salvo honrosas xepções)entre tantos ilustres comentadores, se apercebia das fugas ao fisco, quer no acto da venda final, quer na aquisição de bens das várias diferentes actividades económicas nomeadamente e de forma aterradoramente impune no sector da restauração?
A regulação tenta tambem, não só regular sectores caóticos de facturação mas trazer alguma honestidade competitiva entre empresas; porque é que uma empresa que passa facturas, faz contractos com fornecedores, pede (exige) certificados de qualidade, zela pela segurança dos seus clientes tem de competir com empresas (se assim se poderiam chamar) de vãos de escada, sem contabilidade, sem garantia de produtos ou de certificados de origem (sim, esses certificados que garantem que o que se compra cá em portugal é a alheira de chaves e não a da Andaluzia ou da China, com o respectivo benefício para o produtor nacional) e sem a minima capacidade de gestão ou de inovação.
Tambem eu gosto dos produtos lá da quinta dos meus avós, agora nem me passa pela cabeça colocá-los á venda num qualquer establecimento lá da rua...é no mínimo higiénicamente estranho e económicamente fraudulento.
De qualquer forma vendo a quem quiser, batatas, mel e azeite...ah, e sobre a factura, isso depois falamos.
AMANHÃ (5ª FEIRA) DE MANHÃ SERÁ COLOCADA, EM POST PRÓPRIO, A RESPOSTA DE ANTÓNIO BARRETO AOS COMENTÁRIO QUE AQUI TÊM SIDO FEITOS.
A partir dessa altura, pede-se que os novos comentários passem a ser feitos lá, onde vai ser colocado um "link" para aqui.
A grande chaga social da legislação absurda está em justificar o perdão, quer isto dizer com limite de 120 na autoestrada, a GNR não multa se eu circular a 139km/h, e se o soldado da GNR não gostar da minha cara?...aí vai multa, o inspector da ASAE pode fechar os olhos a um enchido que tem um erro ortográfico não compremetedor na etiquetagem, e se o inspector não for com a cara do comerciante?...ou seja a legislação absurda faz com que se transfira para o agente no terreno a autoridade de um juíz, passa o sr. agente ter uma capacidade muito além daquilo que os próprios legisladores definiram como razoável. As consequências, a abertura e convite à existência de delitos muito mais gravosos para a qualidade de vida na sociedade parece-me evidente, lei deve ser cumprida, mas também é verdade que a lei só deve ser feita para ser cumprida. Que tal instituir exames de admissão a deputado?
Salgueiro Maia? Onde estás? Precisamos de ti, agora, já .
Pede-se aos leitores que, a partir deste momento, passem a fazer os comenta'rios [aqui]
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