19.12.07

Outra vez Natal

Por Carlos Pinto Coelho

Olha o Natal outra vez... seu constante espectro de despedida derradeira... seu gonzo ferrugento por brunir... sua estafada alegria em naftalina murcha...
Chegam as canelas dos rostos da memória... desfiam-se tempos velhos nas curvas das couves fumegantes... tragam-se lutos em copos generosos... sibérias caladas no fogo das lareiras... a implacável inutilidade da existência num prato de aletria...
Consome-se, lento, cada Natal. Lento como a espera das coisas nenhumas que hão-de chegar em madrugadas de insónias... como aquele comboio vazio que passou, sem parar, pela minha estação de nevoeiro... num filme sem realizador nem fim sabido.
Olha o Natal outra vez. E não saber ignorá-lo... não poder rasgar-lhe a página... não conseguir despedi-lo... mai'las suas asas grotescas de monstro decadente!
Que venha, pois. Que entre, tire o ridículo barrete, sacuda a poeirada dos ombros e das botas, abra o remendado saco. E cumpra a sua única e definitiva missão: levar este meu aconchegado abraço a quem muito bem quero.
S. Miguel de Machede, Dezembro 2007

Etiquetas:

1 Comments:

Blogger José F. said...

Resposta a este texto antropologicamente negativo:

"Natal.
Na província neva.
Nos lares aconchegados
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados"

(Fernando Pessoa)

20 de dezembro de 2007 às 16:34  

Enviar um comentário

<< Home