28.2.08

Chipre – Um laboratório político

Por C. Barroco Esperança
DESDE CEDO os princípios igualitários do comunismo me seduziram tanto quanto deles me separaram o centralismo democrático e o partido único.
Diz o aforismo que de boas intenções está o inferno cheio e, de facto, as experiências comunistas fracassaram sem terem alcançado o bem que se propunham e evitado o mal, que se considerava transitório, condição sine qua non para o almejado paraíso.
O fracasso de uma experiência não arruína a doutrina e não se vê que uma segunda oportunidade, no respeito pelas normas do pluralismo e da alternância democrática, não possa e não deva experimentar-se, nomeadamente – como foi o caso – através de eleições livres.
O partido comunista do Chipre ganhou as eleições contra a direita e contra o empenhamento da Igreja ortodoxa que vai ter de aceitar um Estado laico, como é próprio das democracias. Cabe ao novo presidente mostrar de forma exemplar que os marxistas respeitam o pluralismo e abdicam da conquista do poder pela via revolucionária e o devolvem quando a sorte das urnas o determinar.
Dimitris Christofias prometeu durante a campanha eleitoral que iria preservar a economia de mercado e que não procederia à nacionalizações de empresas. O contexto geopolítico não lhe permitiria outra opção mas é saudável que um comunista possa mostrar que há caminhos alternativos à teologia ultraliberal.
Todos teremos a ganhar e Chipre não será a Cuba da Europa ainda que alguns julguem que um comunista que respeite a iniciativa privada seja uma espécie de vegetariano que não dispensa o bife.

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