7.2.08

Mutilação genital feminina

Por C. Barroco Esperança
EM NOME DA TRADIÇÃO tanto se pode defender a morte do touro em Barrancos como a lapidação de uma mulher por adultério. Não há selvajaria, malvadez ou crueldade que não tenha na tradição argumentos de peso e defensores tenazes.
As mulheres foram, sempre, vítimas dilectas do pecado original e da brutalidade dos homens ou de outras mulheres. Foram queimadas por bruxaria, vergastadas por adultério, repudiadas pelos maridos, casadas por imposição dos pais e exoneradas dos direitos cívicos e humanos pela legislação sexista. O martírio, a desonra e a humilhação foram o ónus do género que as religiões acolheram e as tradições consagraram.
Dentre as tradições mais abjectas conta-se a «mutilação genital feminina» uma forma de impedir à mulher o prazer sexual, de lhe causar sofrimento atroz e de lhe provocar, com frequência, a morte.
Dir-se-á que esta selvajaria não é, tal como outras, imposição religiosa. É verdade, mas não deixa de estar associada a costumes onde, quase sempre, há uma forte implantação do Islão. E, naturalmente, a componente mercantilista de um próspero negócio.
Não há grande diferença entre o facínora que se aluga para disparar um tiro de escopeta num inimigo a abater e a mulher que se contrata para fazer a excisão numa menina. Há nesta selvagem crueldade o peso de séculos e na condescendência ou cumplicidade uma cobardia que envergonha o género humano.
Malditas tradições, maldita gente que pactua com um negócio destes.
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Apostila -
Vídeo sobre a mutilação genital feminina.

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5 Comments:

Blogger Luís Bonifácio said...

[...]Não há grande diferença entre o facínora que se aluga para disparar um tiro de escopeta num inimigo a abater e a mulher que se contrata para fazer a excisão numa menina[...]

Para quem há uns meses fez um postal elogioso de Buíça e Costa, registo com agrado que passados yns meses já os considera facínoras.

7 de fevereiro de 2008 às 09:21  
Blogger Carlos Barroco Esperança said...

Caro leitor Luís Bonifácio:

Aprecio-lhe o humor e a tentativa de mostrar a minha incoerência mas não considero facínoras Manuel Buíça e Alfredo Costa.

Sabe, habituei-me na escola primária a estimar o Mestre de Avis, apesar de ter apunhalado o Conde de Andeiro e, depois, os conjurados de 1640, apesar da patifaria que fizeram ao Miguel de Vasconcelos.

Habituei-me a admirar os "maquis" franceses que organizavam atentados contra as tropas de ocupação alemãs e, mesmo na guerra colonial, nunca considerei assassinos os soldados da FRELIMO que mataram amigos que ainda hoje choro.

O homicídio é sempre condenável. Mas será sempre injustificável?

Eu não tenho certezas e sei que o melhor que as sociedades democráticas nos oferecem foi conseguido à custa de muito sangue.

7 de fevereiro de 2008 às 18:05  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Tenho andado a pensar escrever um post só dedicado ao tema do assassinato político - em geral.
No entanto, apesar de ser muito interessante, é difícil de abordar e de debater em abstracto pois, em Portugal, temos dois casos que, em termos históricos, foram "ontem": o regicídio e o de Delgado.

O que sucede é que, por definição lapalissiana, um "assassinato político" é um acontecimento com características duplas: é um "assassinato" (na medida em que se tira a vida a alguém) e é um acto "político" na medida em que se pretende alterar o curso da História (e não roubar a carteira à vítima).

Face a isso, as apreciações seguem o critério do analista:

Para os simpatizantes do morto (ou do que ele representa), a tónica é posta na palavra ASSASSINATO.
Para os beneficiados pela morte, é posta na palavra POLÍTICO.

Os casos de Miguel de Vasconcelos e do Conde Andeiro são curiosos, pois qualquer bom português será capaz de ir colocar uma coroa de flores na campa dos assassinos - apesar de, em ambos os casos, os mortos representarem poderes hereditariamente legítimos (o de D. Beatriz e o de Filipe III).

7 de fevereiro de 2008 às 18:36  
Blogger G. Noronha said...

Apesar de os comentários terem tomado um rumo que não estava provavelmente na ideia do autor, gostaria de retomar o tema e congratular-me por ter tido a coragem de comparar a crueldade e falta de respeito com que são tratados os animais (todos eles) com a maldade e crueldade exercida sobre mulheres e crianças. Todos e cada um dos casos são prova da cobardia dos que se sentem mais fortes e continuam a acreditar que animais e mulheres foram colocados sobre o Planeta para os servir e lhes satisfazer os instintos abjectos.
Bom Dia

8 de fevereiro de 2008 às 09:09  
Blogger Blondewithaphd said...

Finalmente um texto sobre um tema que enche páginas das revitas de referência estrangeiras e que nos passa ao lado.
A mutilação genital feminina, mais do que um atentado à Mulher, é, sobretudo, um crime de lesa-Humanidade (se é que isto se diz, mas devia).
Claro que é um tema complexo que implica o enraizamento religioso e o fundamentalismo da tradição, que insinua o nosso direito ou não de interferência nos hábitos do Outro. Em qualquer caso, quando o cerne da questão são direitos humanos, acho mesmo que se "lixe" a cultura de um povo.

8 de fevereiro de 2008 às 13:04  

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