Einstein estatístico
Por Nuno Crato
O ÚLTIMO NÚMERO da revista «American Statistician» tem um interessante artigo de Boris Iglewicz sobre o primeiro artigo científico de Albert Einstein. Acabado de sair da universidade, o jovem físico tinha então 21 anos e esse seu trabalho foi publicado na «Annalen der Physik», onde vieram depois a sair os artigos mais revolucionários do jovem cientista.
Visto à distância de mais de cem anos, há várias coisas interessantes no artigo. Prefigura-se já o carácter teórico do físico, pois apesar de estudar dados experimentais, estes são recolhidos do trabalho de outros investigadores. Nota-se a maneira directa e sucinta de expor — o artigo tem apenas 10 páginas. E regista-se o número muito reduzido de citações — o físico centra-se no que tem de novo a dizer e não recorre ao «argumento por citação», como acontece com muitos académicos menores. Mas o mais interessante é o uso de técnicas estatísticas para retirar conclusões dos dados experimentais.
Um contemporâneo de Einstein e ele próprio um grande físico, Ernest Rutherford, tinha dito, com alguma sobranceria, que «se uma experiência necessita de estatística, então é melhor refazer a experiência». Einstein, pelos vistos, não pensava assim. Neste seu primeiro trabalho aplica a técnica da regressão linear múltipla o que, sem meios de cálculo automático, exige contas bastante trabalhosas. Segue um raciocínio tipicamente estatístico, com a formulação de uma hipótese e o seu confronto com a síntese dos dados experimentais. E conclui, com a mesma linguagem que um estatístico usaria, «podemos dizer que o nosso pressuposto básico sobreviveu o teste».
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 2 de Fevereiro de 2008Etiquetas: NC
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