3.2.08

Palavras...

Por António Barreto
A NOVA MINISTRA DA SAÚDE, Ana Jorge, disse, quinze dias antes de ser nomeada, que era necessário pôr ordem “nesta confusão toda”, isto é, na política de saúde e no Serviço Nacional de Saúde. Acrescentou ainda que tinha “dúvidas que se estivesse a salvar o SNS”, não sem ter esclarecido que “faltam médicos e falta organização”.
A ministra tem a correr, contra si, um processo no Tribunal de Contas por alegadas irregularidades administrativas cometidas no tempo em que era funcionária superior da Administração Regional de Saúde.
José Sócrates, no dia de tomada de posse nos novos ministros da saúde e da cultura garantiu que as políticas e as reformas de Correia de Campos iriam continuar. Precisou que a mudança de ministro servia mesmo para salvar as reformas em curso. Mas também disse que ia haver um novo rumo na Saúde.
A ministra Ana Jorge declarou também que vai “rever as políticas do ministério”.
Manuel Alegre, dias antes da demissão de Correia de Campos, afirmou que o Serviço Nacional de Saúde, criação da democracia e bandeira dos socialistas, estava em risco.
Sócrates garante que não demitiu Correia de Campos, mas que foi este que se demitiu. Afirma que a sua substituição não foi provocada nem se ficou a dever ao Presidente da República, às populações locais, às autarquias, às sondagens e aos socialistas.
ANA BENAVENTE, António Nóvoa e outros especialistas e profissionais do sector da educação, entre os quais muitos socialistas, insurgiram-se contra as políticas de educação seguidas por José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues. Afirmam que se assiste “a uma ruptura na política de educação, contrária ao espírito e ao programa do PS”. E garantem que “se está a tocar no núcleo duro da escola pública, sem debate ou participação”.
NA CERIMÓNIA SOLENE de abertura do ano judicial, o Presidente da República Cavaco Silva teceu críticas muito duras, apesar de ligeiramente veladas, ao sistema de justiça e ao funcionamento das instituições do sector. Sublinhou, em particular, a ausência de diálogo na gestão e na reforma do sector, assim como a tradicional morosidade da justiça. E foi lapidar: “O Estado de direito não pode ser refém daqueles que dispõem de maiores recursos”.
Na mesma ocasião, o novo Bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, insistiu na existência de duas justiças, a dos pobres e a dos ricos. O Procurador-geral da República, no seu discurso, assegurou que não havia uma justiça para os ricos e outra para os pobres.
O Bastonário pôs em causa o ministério público e a Polícia Judiciária e afirmou, com certezas, que, no processo da Casa Pia, o objectivo era “o de decapitar o Partido Socialista”, cuja direcção terá ficado esfrangalhada.
O presidente do conselho distrital da Ordem dos Advogados, Carlos Pinto Abreu, ameaçou o Bastonário com um processo por deslealdade e comportamento antitético.
O Bastonário exaltou-se contra os poderosos, os políticos, os magistrados, as polícias, os corruptos e os capitalistas. Apesar de certeiro, especialmente no que diz respeito à desigualdade social perante a justiça, o Bastonário atirou com arma de cano curto e tão largo espectro, que bem pode ficar no arquivo morto. Garantiu ainda que há criminosos “a ocupar ostensivamente cargos relevantes no Estado português”.
NUMA ANÁLISE feita a 25 empresas públicas, o Tribunal de Contas detectou 23 que cometeram irregularidades e não cumpriram os requisitos legais dos concursos e das adjudicações.
INVESTIGAÇÕES DO PÚBLICO revelaram que José Sócrates terá exercido, ao longo dos anos oitenta e noventa, actividades profissionais na câmara da Covilhã, ao mesmo tempo que assinava projectos de engenharia para entregar nas câmaras do distrito, nomeadamente na da Guarda. Entre 1981 e 1992, Sócrates foi sucessivamente funcionário da Câmara, presidente da comissão distrital do Partido Socialista e deputado à Assembleia da República e, sucessiva ou simultaneamente, engenheiro liberal, autor de projectos privados de engenharia, signatário de projectos feitos por amigos e consultor de uma empresa de construção. Sócrates nega e denuncia aquilo que designa por “uma campanha” do jornal, “um exercício de ataque pessoal e político”. Acrescenta que todas as suas actividades eram conhecidas e legais. O mais provável é que aquelas tenham sido legais.
APESAR DE DECLARAR “que acredita que a economia portuguesa é capaz de resistir à conjuntura internacional”, ministro Teixeira dos Santos começou, subitamente, a moderar o seu optimismo e a prever dificuldades económicas para os próximos tempos.
O GOVERNO PROIBIU que elementos das forças armadas, designadamente bandas de música, participassem nas cerimónias públicas de evocação do centenário do assassinato do rei D. Carlos.
Apesar de este rei ter cumprido todos os critérios, então vigentes, da legitimidade e da legalidade, a Assembleia da República recusou aprovar um voto de pesar pelo assassinato deste Chefe de Estado.
João Soares afirmou que “por razões históricas, é preciso homenagear quatro figuras: o rei D. Carlos, o príncipe Luís Filipe e os regicidas Buiça e Costa”.
Vinte pessoas foram depositar flores na campa dos assassinos.
«Retrato da Semana» - «Público» de 3 de Fevereiro de 2008

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1 Comments:

Blogger Sepúlveda said...

"Sócrates garante que não demitiu Correia de Campos, mas que foi este que se demitiu. Afirma que a sua substituição não foi provocada nem se ficou a dever ao Presidente da República, às populações locais, às autarquias, às sondagens e aos socialistas."
Deve ter sido por obra do espírito santo. Ninguém tem culpa... Mas é como quem diz: "Não fui eu que o demiti, mandei-o demitir-se e ele demitiu-se."
É ainda engraçada a insistência com que se chamou remodelação ao que noutros governos foi chamado de demissão forçada por incompetência. Remodelação até dá o ar de que foi uma alteração há muito planeada e totalmente pacífica. Os eufemismos são tão amigos deste nosso PM. A propaganda é fabulosa.

4 de fevereiro de 2008 às 14:12  

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