A notícia que matou a lenda
Por Ferreira Fernandes
AS NOSSAS CONVERSAS são assaltadas periodicamente por rumores incríveis. Para eles há olhos esbugalhados dos ingénuos, varridos pelo encolher de ombros dos cínicos. Mas há rumores tenazes, que desaparecem uns anos e voltam, e voltam. A esses chamamos lendas urbanas.
A mais célebre: alguém, que eu não conheço, mas alguém que conheço conhece, apanhou uma boleia, adormeceu e acordou, dias mais tarde, com uma dor nas costas, foi ver e era uma cicatriz. Mais um a quem lhe assaltaram o rim...
Há 20 anos que oiço isto. Há 19 que interrompo a lenda a meio, enfadado.
Ontem, não deu para interromper. A minha fonte era o New York Times, a história era confirmada, com fotos e nomes. Em Nova Deli, Índia, foi fechada uma clínica que roubava rins a pobres. Estes eram raptados nas ruas e acordavam com a tal dor nas costas. Aconteceu a cerca de 500. Vinham ricos de todo o mundo para comprar.
Entre as vítimas estou eu, que não acreditava no que somos capazes.
«DN» 1 de Fevereiro de 2008 - c.a.a.
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