"Pode haver pressão para subir notas aos alunos"
O REGIME de avaliação dos professores está em vigor. Em diálogo com o DN, Nuno Crato, da Sociedade Portuguesa de Matemática, elogia o princípio da avaliação "frequente e sistemática" do trabalho dos professores, mas critica aspectos da avaliação, como o aparente incentivo a dar boas notas aos alunos.
Com a publicação, no dia 10 deste mês, do decreto regulamentar 2/2008, ficou instituída a avaliação de desempenho consagrada no novo Estatuto da Carreira Docente (ECD), aprovado há um ano. A reforma, defendida pela tutela como fundamental para "valorizar" o trabalho individual dos professores, promete influenciar profundamente o percurso profissional dos educadores.
A avaliação, bienal, assentará numa grelha de classificação que vai do insuficiente ao excelente. E ao contrário do que sucedia no anterior modelo, em que praticamente a totalidade dos professores progredia ao mesmo ritmo, as notas serão mesmo fundamentais para decidir quem sobe, quem estagna e quem arrisca mesmo ser expulso da carreira. Quem for "muito bom" ou "excelente", uma classificação sujeita a uma quota máxima de 20% dos avaliados, vai subir mais rapidamente. Quem ficar abaixo do "bom", correspondente a uma média de 6,5 a 7,9 valores numa escala de 10, não progride. Quem repetir duas ou mais classificações insuficientes fica sujeito a procedimentos que poderão conduzir mesmo à sua expulsão da rede do Ministério da Educação.
Nuno Crato, professor universitário e presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), é assumidamente um defensor de uma cultura de avaliação no sistema educativo português. E, como não poderia deixar de ser, acredita que os docentes não podem ficar de fora desse esforço: "A avaliação dos professores é necessária. E são bem-vindos todos os esforços para que esta seja feita de forma mais frequente e sistemática."
Nuno Crato, professor universitário e presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), é assumidamente um defensor de uma cultura de avaliação no sistema educativo português. E, como não poderia deixar de ser, acredita que os docentes não podem ficar de fora desse esforço: "A avaliação dos professores é necessária. E são bem-vindos todos os esforços para que esta seja feita de forma mais frequente e sistemática."
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DN: É justo que se estabeleçam quotas para as melhores notas?
NC: O estabelecimento de quotas para as melhores classificações, eliminando, na prática, a possibilidade de todos poderem almejar à excelência, tem sido um dos aspectos da reforma mais criticados pelos sindicatos do sector. É uma regra, dizem, que serve objectivos" economicistas", permitindo controlar os aumentos salariais.
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Nuno Crato reconhece que o princípio das quotas "tem algo de perverso", mas, diz, "tem algumas vantagens óbvias. Sabemos que a ausência de quotas leva a que toda a gente tenha muito bom".
Nuno Crato reconhece que o princípio das quotas "tem algo de perverso", mas, diz, "tem algumas vantagens óbvias. Sabemos que a ausência de quotas leva a que toda a gente tenha muito bom".
DN: Os aspectos e a forma de avaliação são os melhores e mais rigorosos para traduzir a realidade?
NC: A avaliação dos professores terá várias etapas. A primeira componente é a auto-avaliação (obrigatória), em que o profissional analisa o cumprimento dos objectivos a que se propôs no início do ano lectivo e descreve o enriquecimento profissional que conseguiu, nomeadamente através de acções de formação. O docente é também avaliado pelo coordenador, por necessidade um professor que já chegou à categoria de titular, preferencialmente da mesma área de docência. Este coordenador vai analisar aspectos como o planeamento das actividades lectivas, o trabalho em sala de aula (tem de assistir a pelo menos duas aulas por ano), a relação com os estudantes e os progressos por estes obtidos. Numa terceira fase entra a direcção executiva da escola, ponderando aspectos qualitativos como a assiduidade, o serviço distribuído ao professor e também os progressos dos alunos e redução do abandono escolar dos mesmos, a participação em actividades da escola e do grupo de docência.
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________Extracto da entrevista feita por P. S. Tavares, do «DN», publicada em 26 Jan 06; texto integral [aqui]
Etiquetas: NC
3 Comments:
Com tanto pensador que este país tem, fico espantado como é possível não perceberem o que está na base de todo o modo em que assenta o processo.
Alguém já se deu ao trabalho de juntar a bota com a perdigota e verificar como é que esta aberração funciona? Alguém já percebeu que não é a qualidade do ensino que esta gente pretende? Alguém percebe alguma coisa sobre a qual emite opinião?
Parece que temos que concluir que os pensadores em Portugal padecem de analfabetismo ou de cegueira!
Por falar em ensino e, especificamente, na Matemática, caro Nuno Crato, já sabia desta?
http://cafepuroarabica.blogspot.com/2008/01/bandalheira-geral-3.html
(desculpe a publicidade - literalmente)
Das coisas que mais impressão me causam é o ataque que se fazem sob anonimato, v.g.: "Parece que temos que concluir que os pensadores em Portugal padecem de analfabetismo ou de cegueira!". Pode ser que pareça, mas não é!
Quanto ao medo da avaliação é provável que repouse no facto de nunca me ter sido respondida a pergunta que tenho feito, amiúde em artigos de jornais, sem qualquer resposta: Em anos do processo avaliativo anterior, excluindo o número de professores que tenham falecido ou desistido de "motu proprio" qual a percentagem de professores licenciados que, apenas cumpridos os anos a tanto necessários,não atingiram o 10.º escalão?
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