29.1.08

Votação pelos leitores

No post que se vê [aqui], fizeram-se algumas considerações acerca da forma - tão diferente! - como as populações de Lisboa e do Porto se relacionam com as respectivas cidades.
As opiniões de cinco leitores, juntamente com as do autor do texto, podem ser lidas em comentário a ESTE post, referenciadas com letras de A a I.

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Actualização (31 Jan 08/20h30m): após a votação pelos leitores, o passatempo foi ganho por Daniela, a quem já foi enviado o prémio - um exemplar do livro «Cidade Escaldante». Entretanto, o post teve mais um comentário interessante, desta vez de alguém que nasceu e vive no Porto há quase 60 anos.

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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A) Não serei de todo a pessoa mais indicada para opiniar sobre o tema proposto já que, e apesar de fazer parte da metrópole portuense, resido na periferia, podendo considerar-me uma 'bairrista'.

Contudo, as alterações no modo de vida da classe média e média alta, sobretudo, reflectem a sua posição no seio da sociedade. Refiro-me, essencialmente, à falta de tempo para tudo. Concordando com o autor da crónica, actualmente não é possivel assistir (em grandes meios) a conversas de esquina, a empréstimos de salsa ou a traquinices de crianças vizinhas. Observamos sim encontrões, 'stressados', deprimidos, "perdidos e desnorteados". Esta situação é evidente com mais força na capital, verdadeiramente. No entanto, com a ambição de sermos tão ou melhor metrópole que Lisboa, a cidade portuense vê-se na situação de copiar todos os hábitos 'lá de baixo'. As grandes cidades e as de média dimensão tornam-se, portanto, naquilo a que se chama "terra de ninguém"! Não existe mais o amor à terra-Natal. É tudo comum, público e efémero.

É por tudo isto que ser bairrista ainda é motivo de orgulho! Mas isso, sou eu que digo!

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B) Caro Medina Ribeiro
Nasci há já mais de quatro décadas na Maternidade Alfredo da Costa o que faz de mim um dos mais alfacinhas dos alfacinhas. Morei 10 anos nos subúrbios. Não descansei enquanto não voltei à «minha» cidade. E paguei bem caro para poder morar no centro Lisboa. Alguém me disse, então, que me deviam era «pagar» por vir repovoar Lisboa… Lembro-me, numa das minhas primeiras noites em Lisboa, de ir à janela e olhar para o passeio em calçada portuguesa e não em paralelepípedos de aglomerado de cimento; olhar para as placas com os nomes de ruas em pedra de lioz com caracteres gravados a preto e não em chapa com letras pintadas a azul e sentir-me de novo em casa. Se isto não é «amor pela cidade» não sei o que seja.

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C) Do que me é dado conhecer de Lisboa, o aqui dito ainda corresponde, parcialmente, à realidade: há grandes diferenças entre as duas cidades. O bairrismo, no Porto, por vezes excessivo, é um facto: o portuense diz muito mal da sua cidade, mas gosta dela, com todas as suas características, um pouco provincianas. Salvo nos mais modernos condominios, as pessoas conhecem-se: da rua, do cafe (creio que o café é, ainda, embora em muito menor escala, uma instituição portuense). Já não há, é evidente, os grandes cafés de há anos, que deram lugar a bancos e que agora viraram lojas de artigos chineses, onde eram feitos os negócios e as elites se encontravam. Mas ainda há cafés de referência, como o Majestic e o Guarani. E continua a haver muitos cafés, onde se lê o jornal e se convive (agora menos, por causa do fumo; oxalá não matem os cafés do Porto).
O Porto tem orgulho em receber bem, mas tem vindo a sentir-se desprezado pela capital, e com certa razão. O Porto pujante do comércio, da indústria, da banca (grandes bancos nasceram no Porto, como se sabe), das letras, das artes, da grande burguesia, está hoje deprimido, e sente que Lisboa (o Terreiro do Paço) é culpada. Lisboa "suga" a "inteligência" existente no Porto, onde se localiza a maior Universidade do País e que não consegue segurar os seus licenciados. A culpa é, também dessa "inteligência" que emigra e esquece. E é também da qualidade dos políticos que temos tido. Alguns, bons, emigram também e esquecem, o que, pessoalmente, não entendo. Por tudo isso, o Porto "vinga-se" nos feitos do clube mais representativo da cidade, por vezes, para não dizer sempre, de forma demasiado provinciana e pseudo-bairrita, para meu gosto.

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D) 1- Para efeitos de prémio, se houver vários comentários feitos pelo mesmo leitor serão considerados como sendo um único.

2- Esqueci-me de referir os cafés e pastelarias do Porto, que continuam a ser em grande número e bastante frequentados.

3- Trabalhei quase 30 anos na EFACEC, empresa com escritórios em Lisboa e sede no Porto. Também no mundo empresarial as formas de relacionamento são completamente diferentes entre Lisboa e Porto.

Há pequenos 'ódios de estimação' entre as duas comunidades (com resultados desastrosos para a empresa), mas o espírito de grupo das pessoas do Porto é incomparavelmente superior.
E isso tem influência - e de que maneira! - no prosperar (ou não) dos negócios.

4- Quando me refiro aos lisboetas-tipo refiro-me à grande maioria de desenraizados.
A geração que tem mais de 50 anos não nasceu em Lisboa.
As mães iam ter os filhos à terra, era para a terra que sonhavam ir na reforma, e era na terra que queriam morrer.

Ao contrário do Porto, onde se nascia, crescia e morria.
É possível que, a pouco e pouco, a realidade se vá alterando.
Mas na zona onde vivo (nas Avenidas Novas), a população é muito envelhecida e não conheço UMA ÚNICA dessas pessoas que tenha cá nascido. A cidade diz-lhes muito pouco, em termos sentimentais.

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Há ainda os 500 mil que entram na cidade de manhã e saem à tarde.
Quantos deles sofrem, verdadeiramente, com a cidade suja, engarrafada, cheia de pedintes, grafitada, cagada pelos cães, desordenada, com jardins ao abandono...? Muito poucos.
A maioria passam por isso tudo sem - sequer - ver.

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Aqui ficam mais algumas coisas para reflectir:

1- Da mesma forma que, na rua, identificamos um estrangeiro só pelo aspecto, também as pessoas de Lisboa, quando vão ao Porto, são facilmente identificadas como tal.
O inverso raramente sucede, a não ser em relação às pessoas que dizem "pom" em vez de "pão".

2- Lembro-me dos tempos em que, no Porto, era perfeitamente normal dar-se o lugar nos transportes públicos a quem mais precisava - quando, em Lisboa, esse hábito (já) não existia e era considerado provinciano.

3- Ao contrário do que sucede em Lisboa, o hábito de "ir almoçar a casa" ainda hoje é frequentíssimo no Porto. Tenho familiares que andam DEZENAS de quilómetros só para isso.

4- A popularidade dos eléctricos, no Porto, aliada a grandes dificuldades de estacionamento, levou ao uso generalizado dos transportes públicos durante muitos anos.

5- O portuense parece viver obsecado com Lisboa. É quase impossível ter uma conversa com um deles que, a certa altura (mesmo a despropósito), não esteja a dizer: «Vocês, os de Lisboa... Vocês, lá em baixo...».
Uma das graçolas quando se construiu a Ponte de Arrábida era dizer que era «a ponte que dá 'rábida' aos de Lisboa».

6- Lembro-me de ouvir na rádio o Pinto da Costa, na inauguração de uma instalação de água quente no estádio, a dizer, no seu discurso: «... e o mais importante é que foi construída por uma empresa do NORTE!!».

Ele e outros, jogando habilmente com os merecidos sucessos desportivos, agiram "à Jardim", criando e alimentado uma mentalidade de cerco pelos inimigos - que são todos.
A população mais inculta aderiu à ideia, por tal forma que, ainda há pouco, pudemos ouvir muita gente a desvalorizar os assassinatos nas ruas da cidade.
Foi aqui escrito, neste blogue qualquer coisa como "antes quero isso do que ter pedófilos na cidade, como sucede em Lisboa" - como se alguém tivesse de escolher entre esses dois terríveis males!
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Nota final: quando, no comentário anterior, falo em 500 mil pessoas que entram e saem de Lx, pequei por defeito. Só os carros são 400 mil (trazendo mais de meio milhão de pessoas)! Juntem-se as que vêm de comboio, de barco e de motorizada, e teremos um número assustador de gente que constitui a tal população flutuante, sem raízes na cidade nem - logicamente - amor por ela.

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E) Vou a Lisboa muitas vezes, mas nunca lá morei. De todas as vezes que vou a Lisboa sinto um pouco o que Medina Ribeiro descreve. No Porto é realmente diferente no que toca ao sociabilidade, apesar de se sentir um crescimento de desinteresse entre uns e outros.
Penso que é um factor que não terá resolução. As cidades vão evoluindo a todos os niveis e as pessoas vão-se centrando cada vez mais em si mesmas e nos seus.
Bom, no Porto os vizinhos ainda sabem o nome uns dos outros e cumprimentam-se quando se cruzam. O atendimento nos cafés ainda tenta ser personalizado, por exemplo se um individuo for mais de duas vezes a um café, o empregado arranja sempre uma forma de estreitar a relação descobrindo o nome da pessoa. Isto também se passa em papelarias e outros comércios. Volto a repetir, infelizmente este "bairrismo" está-se a perder, o que é pena!
No entanto ainda existe!

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F) Recentemente, fui ao Porto. A certa altura, na R. Sá da Bandeira, estava eu a consultar um horário de autocarro, quando uma senhora se aproximou e, sem que eu pedisse nada, desatou a dar-me todas as informações que achou que me eram necessárias! Só faltou enfiar-me no autocarro!
E não se tratava de nenhuma excepção; o que se passou é habitual.

Em Lisboa, o canalizador que é meu vizinho e vem a minha casa de vez em quando, faz de conta que não me conhece quando, horas depois, se cruza comigo na rua.

O meu prédio tem 14 inquilinos. Até há pouco tinha 5 casas devolutas, que foram todas alugadas em pouco tempo.
Assim, de um momento para o outro, o prédio tem mais de uma dúzia de pessoas novas.
Ninguém se fala, ninguém se conhece, ninguém se apresenta - nem ninguém está interessado nisso!

Pelo que conheço do Porto isso seria, pura e simplesmente, impensável.

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Por outro lado, no que toca a lixo nas ruas, o Porto sempre foi muito pior:
Já em Lisboa havia caixotes do lixo normalizados (e recolha feita por camionetas mecanizadas), e ainda no Porto as pessoa punham sacos de lixo à porta.

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G) Não pretendo fazer um novo comentário, apenas uma precisão: diz o CMR que em Lisboa já havia recolha de lixo noramliazado e no Porto se punham os sacos à porta. É verdade. Só que, as pessoas colocavam-nos pouco antes de o carro de recolha passar (havia excepções, é verdade). Hoje, é ver os contentores de recolha cheios, abertos e sacos no chão. Devo dizer que preferia o primeiro método, que falhava nos fins de semana. Mas agora, na maior parte dos casos, a recolha não é feita aos fins de semana, e às segunda-feiras, de manhã, é um espectáculo degradante. Mas olhe que Lisboa não é melhor!

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H) Caro Medina Ribeiro
Tem razão no que diz sobre os desenraizados. Mas acredite que há muita gente de 40, 30, 20 que foi obrigada a sair da cidade para subúrbios incaracterísticos e que anseia voltar. E se alguns foram atrás dos jacuzzi das banheiras outros não se importavam nada de prescindir deles e voltar para as casas com história do centro da urbe. Haja condições para isso.

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I) Nasci e trabalho em Lisboa. A empresa em que trabalho tem ramificações no Porto e em Faro. A comunidade da área em que trabalho no Porto é unida. Em Lisboa ignoram-se, por falta de tempo ou de de hábito. No Porto reunem-se uma vez por mês à volta de uma boa mesa. De vez em quando convidam-me e vou almoçar lá acima com eles. O ambiente é ruidoso, são amigos... mas já os vi zangados. Dizem o que pensam, sem entraves. Às vezes são agressivos e primários... mas sinceros... e muito teimosos. Em Lisboa nunca uma discussão à volta de uma mesa atingiria aquele grau de envolvimento. Isto acontece em reuniões informais, no entanto, em jantares de cerimónia ... são muito mais formais que os lisboetas.
Em Lisboa, na minha área as mulheres e os homens equivalem-se em número. No Porto as mulheres são em número muito reduzido. Haverá alguma explicação? Em Faro a comunidade é muito menor, mas não encontro diferenças em relação a Lisboa.

O que os fez tão diferentes?

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J) Sim, pelo menos a geração anterior à minha caracterizava-se, no Porto, por uma grande sinceridade, por vezes excessiva.
Conheci pessoas que, quando queriam dizer que alguém era hipócrita, diziam que era "lisboeta".
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Pelo menos nessa época (até aos anos 50/60) o Porto era uma "aldeia grande", no que isso tem de bom e de mau.

Era quase impossível irmos à baixa e não encontrar alguém conhecido.

Camilo, que viveu muito tempo no Porto, descreve muitas realidades que ainda conheci, várias décadas depois.

29 de janeiro de 2008 às 21:54  
Blogger R. da Cunha said...

Justa vencedora. Pena que não tenha havido mais comentários e mais votantes.

1 de fevereiro de 2008 às 00:46  

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