Alguém me arranja um partido em que votar?
Por João Miguel Tavares
HÁ DUAS SEMANAS eu previa que não seria preciso esperar muito para Portugal ter o seu Barack Obama versão loja dos 300. Sabem como é: nós adoramos copiar o que está a dar lá fora, para passarmos por "sofisticados". Cumpriu-se. O nosso obamazinho apareceu no início da semana passada, com imagem nova, desejo de mudança, certo de estar ao lado do povo contra a intriga partidária e uma seta cor de laranja a apontar para o céu - chama-se Luís Filipe Menezes. (Os próximos dois parágrafos ficam piedosamente em branco, para o leitor ter tempo de se rir à vontade.)
Ora cá estamos outra vez. E não, não é para bater (novamente) em Luís Filipe Menezes. Menezes está a desempenhar o seu papel e a esforçar-se para estar à altura das suas ambições - quantas vezes terá ele sonhado ser líder do PSD? Eu quando era pequenino também queria ser astronauta. A diferença é que o mundo mostrou-me depressa que eu não era suficientemente bom para ser astronauta, enquanto o PSD é incapaz de mostrar o que quer que seja a quem quer que seja - e por isso Menezes chegou muito mais longe do que as suas modestas qualidades aconselhariam. O problema não está, pois, em Menezes. O problema está no PSD, um partido que parece sofrer de Alzheimer, cometendo os mesmos erros vezes e vezes sem conta, como aquelas moscas que insistem em espetar-se contra os vidros da janela.
Se eu fosse comunista ou bloquista, estava-me nas tintas para a mosca ou então ia buscar o insecticida. Mas eu sou um rapaz do centro-direita, e o PSD terá sido o partido em que mais vezes votei na vida (embora já não me recorde de quando foi a última). Admito a alternância - umas vezes PS, umas vezes PSD -, mas nunca me encontrei na situação de chegar a umas legislativas sem saber o que fazer à cruzinha. Provavelmente, vou chorar sobre o boletim de voto. Ou pior: pelo andar da carruagem - ou seja, se Menezes abrir a boca para aí mais três vezes - posso mesmo vir a ser obrigado a votar em Sócrates, o arrogante e insuportável Sócrates, mais os seus tiques de pequeno tiranete, o que para mim será equivalente a engolir de penálti uma caneca de óleo de fígado de bacalhau. Eu admito que neste mundo haja coisas mais giras do que ser candidato a primeiro-ministro. Mas nada justifica o deserto de valores a que chegou o PSD, reduzido a um conjunto de caciques voluntariosos, barões mudos e jovenzinhos que mascaram a falta de currículo com o excesso de ambição. Não há memória de tal coisa em 30 anos de democracia.
«DN» de 18 Mar 08 - c.a.a.
Etiquetas: JMT
3 Comments:
Além de achar que a sua posta é bastante deselegante e desinteressante, deixe-me dizer-lhe que está também errada a sua analogia: "vezes e vezes sem conta, como aquelas moscas que insistem em espetar-se contra os vidros da janela.". Vou dar-lhe uma novidade: a mosca só se espeta uma única vez!
A funcionária do laboratório onde hoje fui pela 1ª vez também me disse: "estou farta de dizer que não devem pendurar os casacos aí".
E eu digo-lhe a si: estou farto de ler esta mesma posta, embora com palavras diferentes, já li isto dezenas de vezes nestes últimos meses!
E já agora gostava de perceber porque é que Menezes é o Barack Obama versão loja dos 300. Porque não a versão loja do chinês da Sra Clinton?
Be cool, boy!
Independente de a metáfora da mosca ser ou não 100% verídica (e uma metáfora nunca o é), o que torna interessante este desabafo de JMT é o facto de não vir de um "barão" do PSD nem de ninguém do PS.
O autor é um votante habitual do PSD, e é compreensível a sua irritação por ver à frente do partido alguém sem quaisquer hipóteses de chegar ao poder.
O assunto já foi abordado mil vezes, e há-de sê-lo muitas mais, pois a falta de alternativa para a "desgraça" de Sócrates é, por si só, uma desgraça que não é menor.
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