4.4.08

Troféu

Por João Paulo Guerra
Em Portugal a justiça conta-se ao nível dos dramas nacionais.
Quanto à “justiça desportiva” já é do domínio da farsa.
ANTES DE MAIS note-se que não há em Portugal qualquer processo judicial ou disciplinar em curso relativo a casos de corrupção no desporto. Há um processo por suspeitas de corrupção, relativo a uma obra pública determinada, em cujas malhas foram apanhadas algumas ligações ao futebol. Processos sobre suspeitas de corrupção no desporto em geral, e no futebol em particular, foram anunciados vários mas ficaram todos em águas de bacalhau como seria de esperar.
Processos por corrupção no futebol não há mas está a decorrer um julgamento, de um processo chamado do “Apito Dourado”, relativo a tranquibérnias em redor do clube de Gondomar. E decorrentes das implicações futebolísticas dos autos sobre as aludidas obras públicas, poderá haver sanções disciplinares relativas a dois ou três jogos da época de futebol de 2004, que as instâncias do futebol sempre meteram na gaveta. Para décadas de suspeitas e de histórias mal contadas haverá dois ou três casos pontuais relativos a um ano que saíram no jogo do azar. A pesca à rede daria para apanhar o cardume da corrupção mas optou-se por esta modalidade de pesca à linha.
Portanto, se um ou outro clube for punido com perda de pontos ou mesmo descida de divisão, isso será o reconhecimento de que houve ou tem havido corrupção no futebol e de que se está a punir uma amostra sem valor da corrupção. Mas uma coisa é certa: uma punição, por mais simbólica e pouco significativa que seja, ficará como um título sem par. A “Taça da Corrupção” vai ocupar lugar para sempre na sala dos troféus de cada clube e no historial de cada dirigente.
«DE» de 4 Abr 08 - c.a.a.
Actualização-1: ver, no post seguinte, o prémio associado a esta crónica.
Actualização-2 (9 Abr 08/12h30m): o autor da crónica entendeu que o prémio deveria ser atribuído a "rc", pelo comentário que escreveu [aqui]. O livro já foi enviado.

Etiquetas:

2 Comments:

Blogger R. da Cunha said...

Corrupção no futebol (só?) é assunto falado há muito. Há quantos anos ocorreu o caso Calabote? Que se fez depois disso? E será por acaso que desde há uns quantos anos se aponta sempre para o mesmo sítio? Quem domina o futebol a nível de dirigentes há tempos infindos? Que laços unem os "profissionais" do dirigismo? O "Apito Dourado" vai dar em alguma coisa? Aguardo, mas não tenho esperança nenhuma. Talvez um ou outro árbitro possa vir a ser sancionado por ter recebido uma prenda (pode ter sido a "frutinha"), mas não se vai encontar o ofertante. Os sempre citados exemplos de Itália e Espanha não se aploicam aqui, país de brandos costumes, como soe dizer-se. E depois, há demasiada promiscuidade entre membros da própria Justiça e do futebol. Não gosto de ver juízes e magistrados metidos em diversos órgãos futebolísticos.

4 de abril de 2008 às 18:49  
Blogger Musicologo said...

Isto é uma mera fantasia, um problema de caça às bruxas. É aquelas coisas que todos sabem que existem mas que ninguém consegue provar. E que todos sabem que se faz, mas ninguém sabe como garantir que se faz. O problema não está na corrupção no futebol. O problema está no sistema judicial e na forma como as coisas são avaliadas.

Se toda a gente vê as escutas, lê as escutas, de que advoga se depois são consideradas ilegais?

Um árbitro pode ir a minha casa tomar chá e até levar um envelope de volta. Alguém consegue garantir o que está nesse envelope? E alguém consegue garantir que mesmo que esse envelope contenha algo importante o árbitro depois faça algo no jogo que realmente coloque a balança a pender a meu favor?

O sistema não funciona.

A meu ver o que sempre defendi: meios tecnológicos. Enquanto a arbitragem continuar a depender de árbitros humanos está sujeita ao seu juízo, ao erro e à eventual manipulação.

Se estiver sujeita apenas ao juízo mecânico, televisivo, ninguém pode inventar penalidades ou cartões vermelhos que lá não estejam, logo a corrupção deixa de existir. Fica sujeita a escrutínio popular é domínio público. Isto está tudo ligado.

Porque será que nas altas instâncias da UEFA se repudiam os meios tecnológicos alegando que se tirarmos o erro humano do jogo, retiramos a polémica e o sal do futebol? A corrupção e o tal "erro humano" talvez interesse. Talvez seja conveniente de vez em quando, afinal.

Por isso quando se decidirem a acabar com a hipocrisia já sabem a solução. Transparência. Até lá, os árbitros são humanos, os dirigentes também são e reúnem todos em amena cavaqueira e que fique ao juízo de cada um...

6 de abril de 2008 às 04:57  

Enviar um comentário

<< Home