2.5.08

Notícias da Alemanha

O leitor Luís Bonito, actualmente a residir na Alemanha, envia-nos esta foto e o texto que seguidamente se transcreve.
«O artigo do Pedro Barroso é excepcional.
A ideia é passarem todos os custos para o fim da linha que somos nós, os cidadãos. Em tudo! Não será só na reciclagem. Veja-se só o que acontece com todos os outros serviços.
A foto mostra o lixo produzido por um casal numa semana, aqui na região da Ostfriesland, na Alemanha! São 3 sacos de 50 litros. A solução adoptada pelas autarquias não é igual em toda a Alemanha, varia conforme os distritos e as cidades. Mas aqui onde vivo (perto de Leer) não há contentores de lixo. As pessoas têm que guardar e separar o lixo durante uma semana:
- Sacos amarelos: plásticos, embalagens e objectos de metal;
- Sacos azuis: papel e cartão;
- Sacos cinzentos: restante lixo.
Há ainda outro tipo de sacos (verdes) para os restos provenientes da jardinagem (relva cortada, etc). Os sacos cinzentos são opacos, mas os outros são transparentes e se o conteúdo não estiver correcto o saco é deixado à porta do respectivo produtor de lixo.
Cada colecção de 10 sacos custa €9, ou seja, todas as semanas o cidadão paga, além dos impostos respectivos, €0,90 pelos sacos. Claro que o método tem aplicabillidade por vários motivos. E o primeiro é que as pessoas já fazem assim há muito tempo. Segundo, o tipo de habitação que impera na região, de pequenas moradias, que têm normalmente espaço para guardar o lixo.
O clima poderá ser também importante, mas não acho que seja a razão fundamental. E finalmente, (e este para mim é o aspecto mais importante), foram implementadas medidas simples (politicas, tão só) mas muito eficazes e que reduzem o volume de lixo.
Passo a explicar: na Alemanha todas as garrafas de vidro vão para os vidrões de várias cores. Mas só podem ir mesmo para os vidrões! E praticamente todas as garrafas de plástico têm uma tara de 25 cêntimos, o que já faz doer a carteira e obriga os utilizadores a devolver todas essas garrafas de plástico.
Há em todos os supermercados máquinas automáticas para devolução e compactação de garrafas de plástico. Os talões podem ser imediatamente trocados por dinheiro. Devolver as garrafas de plástico é só uma questão de hábito, depois não custa nada, até porque o plástico é leve e podemos retornar essas garrafas quando vamos às compras. Basta um decreto, mas basta mesmo um decreto, e apenas algumas medidas de preparação. Claro que em Portugal imagino que irão surgir lobbies a complicar qualquer implementação deste tipo, etc.
Queria só contar mais um episódio relacionado com o lixo e a reciclagem aqui nesta região:
O lixo é recolhido por 2 ou 3 firmas privadas com contratos com a câmara do distrito de Leer, uma pequena mas bonita cidade. Há 3 semanas apareceu nos jornais locais o aviso que uma dessas firmas iria colocar contentores azuis de 200 litros para o papel, e que passariam a recolher os contentores de 4 em 4 semanas. Uma vez mais os custos passariam para o cidadão. Teriam que guardar por mais tempo esse lixo e para a firma seriam menos recolhas... Aconteceu que o pessoal reagiu! Começaram a colocar cartazes nos jardins e nas portas a dizer que "Aqui não queremos contentores azuis!". Inclusivamente houve ruas onde os homens do lixo, quando foram entregar os tais contentores, foram corridos com tomatada!
O problema parece que, para já, ficou resolvido, ou adiado pelo menos. No último fim-de-semana os jornais locais já informavam que a firma tinha desistido desse processo. Cidadania».

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