Sinais de decadência política
Por Alfredo Barroso
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VAI LONGE O TEMPO em que a política era, antes de mais, um combate de ideias sustentadas por pessoas. Hoje, a política é, sobretudo, uma disputa entre pessoas com poucas ou nenhumas ideias. É uma luta entre personalidades mais ou menos circenses, que se exibem como imagens de marca e se comportam como actores de telenovela no grande palco mediático em que se representa a política quotidiana.
Os partidos de poder e o próprio Estado transformaram-se, nas últimas décadas, em produtores de espectáculos exibidos em sessões contínuas. A vida política passou a ser uma sucessão ininterrupta de encenações medíocres para entreter telespectadores, e não para esclarecer cidadãos eleitores. Os políticos que aspiram ao poder, no partido ou no Estado, não são mais do que actores que cumprem um guião previamente elaborado por especialistas de imagem, comunicação, marketing e sondagens.
A política está, hoje, reduzida à imagem dos seus protagonistas, quase sempre superficial, ideologicamente indiferenciada e sem substância. O poder político formal, tanto no Estado como nos partidos dominantes, identifica-se com um rosto e um estilo, o corte dos fatos e a cor das gravatas. Não com um programa ou um conjunto de ideias e de políticas públicas. O discurso é oco e «politicamente correcto».
O verdadeiro poder ou poder real já não reside, aliás, nos órgãos de soberania do Estado democrático, designadamente nos Governos e nos Parlamentos, mas em outras entidades e instituições, sobretudo nos grandes grupos económicos e financeiros e nas elites de empresários, gestores e tecnocratas que os dirigem. É no ‘berço’ desses grupos poderosos que os partidos dominantes e os seus dirigentes vão ‘amamentar-se’. E já se sabe que «a mão que embala o berço é a mão que governa o mundo».
Os partidos de poder e o próprio Estado transformaram-se, nas últimas décadas, em produtores de espectáculos exibidos em sessões contínuas. A vida política passou a ser uma sucessão ininterrupta de encenações medíocres para entreter telespectadores, e não para esclarecer cidadãos eleitores. Os políticos que aspiram ao poder, no partido ou no Estado, não são mais do que actores que cumprem um guião previamente elaborado por especialistas de imagem, comunicação, marketing e sondagens.
A política está, hoje, reduzida à imagem dos seus protagonistas, quase sempre superficial, ideologicamente indiferenciada e sem substância. O poder político formal, tanto no Estado como nos partidos dominantes, identifica-se com um rosto e um estilo, o corte dos fatos e a cor das gravatas. Não com um programa ou um conjunto de ideias e de políticas públicas. O discurso é oco e «politicamente correcto».
O verdadeiro poder ou poder real já não reside, aliás, nos órgãos de soberania do Estado democrático, designadamente nos Governos e nos Parlamentos, mas em outras entidades e instituições, sobretudo nos grandes grupos económicos e financeiros e nas elites de empresários, gestores e tecnocratas que os dirigem. É no ‘berço’ desses grupos poderosos que os partidos dominantes e os seus dirigentes vão ‘amamentar-se’. E já se sabe que «a mão que embala o berço é a mão que governa o mundo».
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TUDO ISTO É do conhecimento público e explica muito do que se passa nos palcos mediáticos da política. Para quem já o tenha esquecido, aí está, para avivar a memória, o espectáculo delirante e patético proporcionado pela crise em curso no PPD/PSD, como tanto gosta de o designar Pedro Santana Lopes (PSL). Como é hábito, não se discutem políticas, discutem-se pessoas. No palco mediático da crise, nenhum lugar para as ideias consistentes e sérias, todo o lugar para as personalidades e suas idiossincrasias.
É a imagem pessoal dos candidatos, o estilo, a capacidade de atracção mediática de cada um, que interessa pôr em confronto. Não propriamente as ideias e programas que eles venham, eventualmente, a apresentar. Ninguém melhor do que PSL sabe disso. Por instinto ou por cinismo, pouco importa. É exactamente por saber disso que PSL faz tábua rasa do seu currículo e das suas prestações políticas mais recentes com a inocência perversa dos inimputáveis ou, se quiserem, o descaramento dos irresponsáveis.
Pedro Santana Lopes está sinceramente convicto de que foi um bom Primeiro-Ministro e um óptimo Presidente da Câmara. E acha que só não foi ainda melhor porque sinistras forças de bloqueio se conluiaram para lhe tramar a vida e pô-lo no olho da rua. PSL considera-se uma vítima. Mas tem-se em altíssima conta. A sua megalomania já o levou a comparar-se a Sílvio Berlusconi. É o seu mito do eterno retorno.
Como não é multimilionário, nem dono de um império mediático ao seu dispor, PSL supre tais carências fazendo valer o capital mediático constituído pela sua própria pessoa. Tal como Benito Mussolini, modelo de Berlusconi, PSL quer «fazer da própria vida a sua obra-prima». E certamente não desdenharia subscrever estas palavras de Il Duce, escritas já lá vão oitenta anos: «É a maior prova de abnegação que eu poderia dar para edificação dos meus semelhantes: apresentar-me a mim mesmo».
A esta luz, percebe-se melhor o autismo de PSL, que se vê a si próprio como o melhor actor político, o melhor produto mediático à disposição do PPD/PSD, rótulo de uma embalagem sem conteúdo que ele não se cansa de promover em vão. E, no entanto, mesmo que venha a ser derrotado em mais esta corrida para a chefia do partido, poucos duvidam de que hão-de ser os próprios media a ajudá-lo a recuperar de mais um revés. È que o poder mediático precisa de PSL a «andar por aí», para entreter o pagode.
É a imagem pessoal dos candidatos, o estilo, a capacidade de atracção mediática de cada um, que interessa pôr em confronto. Não propriamente as ideias e programas que eles venham, eventualmente, a apresentar. Ninguém melhor do que PSL sabe disso. Por instinto ou por cinismo, pouco importa. É exactamente por saber disso que PSL faz tábua rasa do seu currículo e das suas prestações políticas mais recentes com a inocência perversa dos inimputáveis ou, se quiserem, o descaramento dos irresponsáveis.
Pedro Santana Lopes está sinceramente convicto de que foi um bom Primeiro-Ministro e um óptimo Presidente da Câmara. E acha que só não foi ainda melhor porque sinistras forças de bloqueio se conluiaram para lhe tramar a vida e pô-lo no olho da rua. PSL considera-se uma vítima. Mas tem-se em altíssima conta. A sua megalomania já o levou a comparar-se a Sílvio Berlusconi. É o seu mito do eterno retorno.
Como não é multimilionário, nem dono de um império mediático ao seu dispor, PSL supre tais carências fazendo valer o capital mediático constituído pela sua própria pessoa. Tal como Benito Mussolini, modelo de Berlusconi, PSL quer «fazer da própria vida a sua obra-prima». E certamente não desdenharia subscrever estas palavras de Il Duce, escritas já lá vão oitenta anos: «É a maior prova de abnegação que eu poderia dar para edificação dos meus semelhantes: apresentar-me a mim mesmo».
A esta luz, percebe-se melhor o autismo de PSL, que se vê a si próprio como o melhor actor político, o melhor produto mediático à disposição do PPD/PSD, rótulo de uma embalagem sem conteúdo que ele não se cansa de promover em vão. E, no entanto, mesmo que venha a ser derrotado em mais esta corrida para a chefia do partido, poucos duvidam de que hão-de ser os próprios media a ajudá-lo a recuperar de mais um revés. È que o poder mediático precisa de PSL a «andar por aí», para entreter o pagode.
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AO PONTO A QUE ISTO CHEGOU, não espanta o crescente desinteresse pela política e o descrédito que ela suscita. PSL é apenas um epifenómeno, um sintoma que sobrevém numa doença já declarada e que afecta seriamente os partidos de poder em Portugal. No PS também há «casos sérios», mas a maioria absoluta tem servido de cimento às hostes. Já o PPD/PSD, tem o supremo azar de estar na oposição, sem rumo, sem ideias e sem programa desde que o governo do PS se encostou à direita e lhe puxou o tapete.
A decadência da política é consequência de múltiplos factores. A indiferenciação ideológica e a vacuidade do discurso político são certamente os mais chocantes.
A decadência da política é consequência de múltiplos factores. A indiferenciação ideológica e a vacuidade do discurso político são certamente os mais chocantes.
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NOTA: As crónicas do autor encontram-se também arquivadas no blogue Traço Grosso
Etiquetas: AB
6 Comments:
"No palco mediático da crise, nenhum lugar para as ideias consistentes e sérias, todo o lugar para as personalidades e suas idiossincrasias".
Mas que ideias consistentes e sérias !? Essas não estão já todas no ideário socialista? Ainda temos mais algumas para discutir...?
E se alguém trouxer alguma ideia que não esteja nesse ideário, não corre o risco de estar a meter-se com o PS, arriscando-se a "levar" do empreiteiro J. Coelho?
Será mesmo "ideias" o que se torna necessário discutir?
http://www.militantedebase.blogspot.com/
Membros do XVI Governo Constitucional, que teve Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro, agora apoiantes declarados de Manuela Ferreira Leite:
Álvaro Barreto (ministro de Estado, das Actividades Económicas e do Trabalho)
Nuno Morais Sarmento (ministro de Estado e da Presidência)
José Pedro Aguiar Branco (ministro da Justiça)
José Luís Arnaut (ministro das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional)
Fernando Negrão (ministro da Segurança Social, da Família e da Criança)
Luís Pais Antunes (secretário de Estado adjunto do ministro das Actividades Económicas e do Trabalho)
Jorge Neto (secretário de Estado da Defesa e dos Antigos Combatentes)
António Montalvão Machado (secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares)
Henrique de Freitas (secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação)
Paulo Rangel (secretário de Estado adjunto do ministro da Justiça)
José Cesário (secretário de Estado da Administração Local)
José Eduardo Martins (secretário de Estado do Desenvolvimento Regional)
http://www.militantedebase.blogspot.com/
Lá porque as ideias (e as imagens) dominantes são as ideias da classe dominante, como diz "o outro", não tem o A. Barroso que cair no sofisma criado pelo domínio mediático, re-apresentador dos poderes vigentes, segundo o qual a imagem publicada é a realidade toda. Política e políticos são mais que isso, como sabe. Não é por uma lagarta ser uma lagarta, que não virá a ser borboleta.
Com estima, AMP.
DISCURSO MEDIATICAMENTE CORRECTO
(Antes de comentar gostaria de esclarecer que não sou, nunca fui, não conto ser filiado em qualquer partido; nunca exerci qualquer cargo público nem fui funcionário do Estado. Idem aspas para qualquer membro da minha família)
Se há alguma coisa que não falta em Portugal são críticos. Há críticos para todos os gostos e ocasiões. O que sendo muito salutar, porque é com atitude analítica que se forja o progresso, é, contudo intrigante que uma parte importante dos críticos não passa daí. Só critica. Aliás, a maior parte nunca fez outra coisa.
Esta actividade exclusiva e repetitiva tem uma consequência inevitável: qualquer mosca que passe põe os críticos pasmados a olhar e a falar dela. E, como corolário, a mosca passa a vedeta.
Nesta sua abordagem, Alfredo Barroso segue as regras: Começa por afirmar o que é verdade (Hoje, a política é, sobretudo, uma disputa entre pessoas com poucas ou nenhumas ideias) para prosseguir no encalce da mosca, e falar da mosca, não de qualquer ideia. O que só pode dar vantagens à mosca. À mosca não lhe importa que digam mal dela mas que falem dela. AB, deste modo, pôs-se ao serviço da mosca. Porquê, só ele poderá esclarecer.
Dito de outro modo, queixa-se que os políticos fulanizam os debates mas ele, e a generalidade dos críticos, não fazem normalmente outra coisa.
E quando não se queixam, choram.
Já que o Alfredo Barroso quer debater ideias, deixo-lhe aqui uma ideia muito interessante, que retirei do livro de Oriana Fallaci, "The Force of Reason". Numa tradução rápida, diz o seguinte :
"Nos regimes ditatoriais ou absolutistas, segundo Tocqueville, o despotismo ataca o corpo. Fá-lo agrilhoando o corpo, torturando-o, ou suprimindo-o de diversas maneiras. Decapitações, enforcamentos, fuzilamentos, apedrejamentos, imolações executadas pela Inquisição, etc. E, procedendo desta forma, ignora a alma, a qual pode erguer-se intacta da carne despedaçada, convertendo a vítima em herói.
Nas democracias inânimes, nos regimes inercialmente democráticos, pelo contrário, o despotismo ignora o corpo e ataca a alma. Porque é a alma o que o despotismo pretende agrilhoar. Torturar e suprimir.
Portanto, ao contrário dos regimes ditatoriais ou absolutistas, nunca diz às suas vítimas "Ou pensas como eu, ou morres". Diz : "Escolhe. És livre de não pensar, ou de pensar como eu. Se não pensares como eu, não te eliminarei com autos-de-fé. Não tocarei no teu corpo, não confiscarei os teus bens, não violarei os teus direitos cívicos. Ser-te-à, até, permitido votar. Mas nunca serás eleito. Nunca serás seguido ou respeitado.
Utilizando as minhas leis sobre liberdade de pensamento e de opinião, direi que és impuro. Um mentiroso, um dissoluto, um pecador, um lunático. Farei de ti um proscrito, um fora-da-lei, condenar-te-ei à morte civil. E as pessoas deixarão de te escutar. Mais do que isso: para não serem igualmente punidos, aqueles que pensarem como tu abandonar-te-ão".
Destaco :
- És livre de não pensar, ou de pensar como eu...
- Utilizando as minhas leis sobre liberdade de pensamento e de opinião...
- Condenar-te-ei à morte civil...
Estes pontos dizem-lhe alguma coisa? A mim, que estive 30 anos na EDP e vi como os socialistas tratam aqueles que não estão de acordo com eles, ou que não lhes lambem as botas, permite-me dizer que este libelo de Oriana Fallaci assenta que nem uma luva nos socialistas portugueses.
Mas esta ideia é reaccionária, não é verdade? Fora de questão discuti-la.
Penso que o Alfredo Barroso põe o dedo na ferida.
"O PSD tem o supremo azar de estar na oposição", por isso dá agora esta sensação de barco à deriva.
O problema é que quando acabar o ciclo do PS no poder, arrisca-se a passar por uma crise semelhante ou pior. É que neste momento ninguém sabe do que se passa no PS, parece um partido mais ou menos adormecido e não é por mero pragmatismo dos seus militantes.
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