Os ratos a comer o queijo
Por Alfredo Barroso
HÁ POUCOS DIAS, no acto público de lançamento de um livro sobre «A corrupção e os portugueses» (da autoria de dois professores do ISCTE, Luís de Sousa e João Triães) a procuradora-geral adjunta Maria José Morgado (autora do prefácio) afirmou que não existe uma estratégia de combate à corrupção em Portugal e defendeu a criação de um sistema integrado de prevenção deste fenómeno, designadamente a constituição de uma base de dados única, sem o que não será possível tornar mais eficaz o combate à corrupção, de modo a permitir «apanhar o rato enquanto come o queijo».
A metáfora não podia ser mais oportuna, tendo em vista o surpreendente «lapso» que terá sido cometido por alguém, ainda não identificado, que decidiu introduzir na proposta de Orçamento de Estado para 2009 uma alteração à lei de financiamento dos partidos, que tornaria outra vez possível os donativos privados em dinheiro vivo, e não apenas, como agora sucede, através de cheques ou transferências bancárias.
A marosca foi detectada pelo Diário Económico, mas o certo é que, até agora, ainda não foi possível identificar o rato que queria comer o queijo. Para grande espanto do estimável público, nem o primeiro-ministro nem o ministro das Finanças, principais responsáveis pela proposta de OE, conseguiram descobrir quem foi o ‘safardana’ que, segundo eles, cometeu este mero ‘lapso’ comendo-lhes ‘as papas na cabeça’.
Curiosamente, também há poucos dias, o presidente da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, Miguel Fernandes, admitiu publicamente que este organismo não tem capacidade para controlar a corrupção associada aos donativos, acrescentando que só a alteração da legislação em vigor permitiria uma fiscalização eficaz das contas dos partidos. Queixume que caiu no ‘saco roto’ do inevitável dr. Vitalino Canas, porta-voz do PS, que mandou Miguel Fernandes ‘bugiar’, reclamando dele «maior eficácia, menos queixas e mais trabalho» – para gáudio dos ratos que comem o queijo.
Como isto anda tudo ligado, convém salientar que a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, Cândida Almeida, também alertou, há poucos dias, para o regresso da corrupção «à moda de Al Capone», recordando as «prendas» que o famoso gangster de Chicago oferecia aos agentes da autoridade, e afirmando que «faltou coragem», na recente reforma penal, para combater a corrupção. Em suma: podem os ratos estar descansados que ninguém vai apanhá-los a comer o queijo.
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3 Comments:
Como se já não bastasse o inadmissível "lapso" no OE, Vitalino Canas ainda vem com frases infelizes.
E o povo fica a ver, como vai ficar na altura de votar: a abstenção promete ser ainda maior do que nas últimas legislativas. Ou então estou redondamente enganado.
Então, anda o nosso PM a publicitar o Magalhães e rapidamente se descobre que não é computador minimamente pioneiro naquilo que é o seu desígnio!?
Que tangas!!
E anda na cimeira x a apregoar a maravilha do Magalhães (que é único, somos nós levados a crer pelo PM)) e a oferecer uma molhada deles. Quem será que paga?
Isto não estava no OE 2008.
Quando terminaram as ideologias de esquerda radical, (maoismos, trotskismos, leninismos), os utentes ficaram inconsoláveis, sem porto para arrimar, sem ideias para nortear o pensamento, mas eis que leram nos economistas dos anos 80 a corrupção. Oh! Alegria. Oh! Felicidade. Já há algo que falar nos cafés e na TV. Vamos ser chamados e ouvidos. Alvíssaras! Alvíssaras! Pedem os marinheiros da gávea.
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